Internacional

China x EUA: Quarta Crise no Estreito de Taiwan está apenas começando

04 set 2022, 15:00 - atualizado em 02 set 2022, 9:28
Xadrez geopolítico em torno da questão de Taiwan remonta à década de 1940 e duração das três crises anteriores na região mantém sinal de alerta aceso (Imagem: REUTERS/Dado Ruvic)

A visita da presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan completou um mês nesta semana. Mas depois de ter abalado os mercados globais, acirrando a tensão geopolítica entre Estados Unidos e China, a questão ficou esquecida entre os investidores.

Porém, o sinal de alerta segue aceso: a Quarta Crise do Estreito de Taiwan está apenas começando. “As tensões ainda podem trazer surpresas desagradáveis aos investidores globais”, afirma a equipe de estratégia geopolítica do BCA Research.

O estrategista-chefe de geopolítica da consultoria canadense, Matt Gertken, lembra que as três crises anteriores no Estreito variaram de quatro a nove meses de duração. “Então, a crise atual não deve diminuir até novembro, no mínimo”, prevê.

Por isso, mesmo que a atenção dos mercados ao tema não tenha durado muito, a visita a Pelosi ainda corre o risco de se transformar em uma nova crise. No caso, a quarta envolvendo Taiwan. 

Senta que lá vem a história…

Para aqueles que pensam que Taiwan é apenas uma ilha no Pacífico Sul, vale lembrar um pouco da história. Tudo começa após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, que foi forçado a devolver a região para a China em outubro de 1945. 

Até então, Taiwan estava sob controle dos japoneses desde 1895, como resultado da vitória na Primeira Guerra sino-japonesa (1894-1895). Porém, com a vitória dos comunistas chineses em 1949, Taiwan serviu de refúgio aos nacionalistas derrotados pela revolução liderada por Mao Tsé-tung

Desde então, Pequim considera Taiwan uma província rebelde. Tanto que poucos depois da Revolução Chinesa e do fim da Guerra das Coreias (1950-1953), ocorreu a Primeira Crise do Estreito de Taiwan (1954-1955). O conflito foi uma luta aberta entre a China e Taiwan, e só foi interrompido devido à ameaça nuclear dos EUA. 

A Segunda Crise, em 1958, viu outra rodada de combates e, novamente, havia riscos de escalada nuclear até que a China decidiu recuar mais uma vez. Até então, Taiwan era reconhecida como o legítimo governo chinês, comandada pelo arquirrival Chiang Kai-shek até a morte dele, em 1975. 

Aperto de mãos

Porém, tudo mudou com a chamada “diplomacia do Ping Pong”, em abril de 1971, com a histórica visita da equipe de tênis de mesa à China. Foi a primeira visita oficial dos EUA a pisar em solo chinês desde 1949. Durante os jogos, Washington suspendeu um embargo comercial à China que durava mais de 20 anos.

A visita preparou o terreno para o histórico aperto de mão entre Mao Tsé-Tung e o então presidente americano Richard Nixon, em fevereiro de 1972. Durante a chamada “semana que mudou o mundo” foram restabelecidas as relações bilaterais entre a China e os Estados Unidos depois de mais de duas décadas de distanciamento.

Com isso, Taiwan perde o assento como membro permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e é substituído pela China. Após quase 30 anos de um clima pacífico, a Terceira – e última – Crise no Estreito (1995-96) foi a mais tensa nas águas do oceano. A China lançou mísseis e, em resposta, os EUA enviaram porta-aviões para forçar a China a recuar.

E agora?

A partir daí, Pequim passou a buscar uma reunificação pacífica nos moldes do lema “um país, dois sistemas”, aplicado para a devolução de Hong Kong pelos britânicos desde 1997. O assunto é tratado como uma questão interna e também uma missão histórica do Partido Comunista chinês (PCCh) para a realização do chamado “rejuvenescimento” da China na nova era. 

Até por isso, permanece a leitura de que EUA e China estão se movendo em direção a uma potencial Quarta Crise do Estreito de Taiwan. Porém, considerando-se que as três últimas crises foram resolvidas por uma demonstração de força dos EUA – incluindo duas com ameaça nuclear – qual seria a resolução para uma eventual quarta crise? 

“Os porta-aviões dos EUA não parecem intimidar uma China muito mais forte exigindo que Taiwan retorne ao continente e ameaçando usar a força para alcançar esse objetivo”, avalia o estrategista global do Rabobank, Michael Every. “A solução, então, seria uma escalada nuclear? Ou a ameaça de guerra econômica? Se sim, de qual lado?”, enumera. 

Ou seja, não deve haver uma solução rápida para Taiwan e o risco geopolítico envolvendo a ilha tende a permanecer alto. Assim, qualquer rali de alívio, tal qual o do “mercado de urso” (bear market rally) visto durante o verão no hemisfério norte, carece de uma base firme para acreditar que as tensões irão esfriar.

“A crise tende a aumentar no ano que vem, elevando o risco de agressão ou erro de cálculo”, avalia Gertken, do BCA. Segundo ele, a equipe de estratégia geopolítica da consultoria vê 60% de chance para este cenário, “do qual uma guerra em grande escala abrange 20%”.

Por isso, o investidor deve estar atento às cenas dos próximos episódios entre China e EUA em torno da questão de Taiwan. Nesse caso, qualquer paralelo com a história não é mera coincidência.

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Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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