China volta a importar carne do Brasil com força, e já impulsiona arroba
Principal compradora de carne bovina do Brasil, a China começa a retomar importações da proteína a níveis elevados, depois de uma desaceleração ocorrida no primeiro bimestre em meio à crise do coronavírus, de acordo com integrantes do mercado consultados pela Reuters nesta sexta-feira.
“Os chineses voltaram a comprar com mais intensidade, voltaram a fazer pedidos (maiores). Os preços não são os mesmos do fim do ano passado, mas são bons preços e com esse (patamar de) câmbio ajuda muito”, disse à Reuters uma fonte de uma grande exportadora sob condição de anonimato.
Um movimento mais agressivo dos chineses no Brasil, maior exportador global de carne bovina, potencialmente deve beneficiar empresas como Marfrig (MRFG3), JBS (JBSS3) e Minerva (BEEF3) –no caso das duas últimas companhias, elas chegaram a dar férias coletivas devido a impactos do coronavírus.
Cesar de Castro Alves, consultor de Agronegócio do Itaú BBA, concorda que houve uma melhora no ritmo de negócios entre Brasil e China recentemente, embora este movimento ainda não tenha aparecido nos últimos dados de exportação de carne.
Coronavírus começa a recuar
Até a terceira semana de março, os embarques totais da carne bovina in natura estavam, em média, 7% mais baixos na comparação com o mesmo período do ano anterior e eram 5% inferiores a fevereiro, ressaltou o Itaú BBA em levantamento.
Segundo a fonte da exportadora, a recente retomada de pedidos da China se deve aos sinais de arrefecimento do coronavírus no país e ao recuo nos níveis de estoques locais.
“O enfrentamento da peste suína africana (PSA) sugere necessidade (chinesa) de importação de 2,9 milhões de toneladas de carne bovina neste ano”, estima o Itaú BBA.
“Com a China indicando a volta à rotina, interrompida com a epidemia, a exportação de carne deverá continuar a ajudar no escoamento da produção”, informou a Scot Consultoria nesta sexta-feira em boletim.
No mercado físico, Gustavo Machado, analista da consultoria Agrifatto, disse que o prêmio pago pelo gado do “tipo China” já alcança 10 reais por arroba.
Retorno
Segundo Machado, no ano passado, este prêmio estava em 4 reais por arroba. “Desde o início de 2020, os chineses não tinham voltado a comprar com força e ficamos sem um padrão para o valor do prêmio.”
Na quinta-feira, o Indicador do Boi Gordo Cepea/B3 subiu 1,18% na variação diária e voltou a superar a marca de 200 reais por arroba, ao fechar cotado em 201,85 reais por arroba.
A volta da China com maior força ao mercado nacional é uma boa notícia, em um momento em que a economia brasileira é fragilizada pelos efeitos do coronavírus, acrescentou o analista da Agriffato.
“Com o coronavírus impactando poder de compra por aqui, a participação da China fica ainda mais importante.”
Risco econômico
O consultor do Itaú BBA pondera que o mercado chinês não terá a mesma força esperada antes do aparecimento do coronavírus, mas ainda assim é um grande comprador no Brasil, e precisa de proteína para lidar ainda com a redução da oferta de carne suína, em função do impacto nos plantéis da peste suína africana.
“Chama atenção a piora dos números previstos para o PIB chinês após o coronavírus, que no Itaú BBA foram revistos de 5,3% para 3,3%.”
A Scot Consultoria, por sua vez, aposta no retorno à normalidade da China e demais compradores da proteína brasileira, “conforme o controle da doença prevaleça”.
A fonte da exportadora, na mesma linha da Scot, acredita que a revisão negativa no PIB chinês pode prejudicar as importações de outras commodities, como petróleo e minério de ferro, mas a compra de alimentos não seria afetada devido à necessidade de segurança alimentar.