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China usa mais trigo e sinaliza compras menores de soja do Brasil

01 abr 2021, 9:56 - atualizado em 01 abr 2021, 10:43
O uso de farelo de soja pode cair em até 2 milhões de toneladas, ou o equivalente a 5 milhões de toneladas de soja (Imagem: Pixabay)

A China passou a usar uma quantidade sem precedentes de trigo rico em proteínas em rações, medida que pode levar usinas a reduzirem a mistura de farelo de soja e manter as crescentes importações sob controle.

O governo colocou à venda enormes volumes de trigo estatal mais barato para que produtoras de rações possam o substituir o custoso milho doméstico. Mais de 24 milhões de toneladas de trigo foram vendidas das reservas neste ano, e o volume deve aumentar para 40 milhões a 50 milhões de toneladas no atual temporada que termina em maio, de acordo com o Centro Nacional de Informação sobre Grãos e Óleos da China (CNGOIC, na sigla em inglês).

Com essa quantidade de trigo, com teor de proteína 4% superior ao do milho, o uso de farelo de soja pode cair em até 2 milhões de toneladas, ou o equivalente a 5 milhões de toneladas de soja, de acordo com Lin Guofa, analista sênior do Bric Agriculture Group. O governo continuará a vender arroz estatal ao mesmo tempo e reduzirá o volume de trigo até maio, período da colheita de trigo no país, disse Lin.

Isso poderia reduzir as estimativas de importações de soja pela China, que atingiram recorde no ano passado para alimentar o plantel de suínos em reposição após o impacto da peste suína africana.

A onda de compras impulsionou os preços globais em meio à preocupação de investidores com a oferta. Os preços dos grãos voltaram a subir nesta semana com a previsão dos EUA para a próxima temporada de plantio abaixo das expectativas. Alguns analistas dizem que as estimativas para a soja são muito baixas considerando a forte demanda chinesa.

O baixo volume de esmagamento provocou falta de óleos comestíveis e pode aumentar as importações de produtos como óleo de soja e óleo de colza (Imagem: REUTERS/Jason Lee)

Com os novos casos de peste suína africana, a demanda mais fraca por farelo resultou em queda de 25% no esmagamento de soja nas últimas semanas em relação a uma máxima de 2 milhões de toneladas por semana registrada no ano passado, disse Hou Xueling, analista da Everbright Futures.

O baixo volume de esmagamento provocou falta de óleos comestíveis e pode aumentar as importações de produtos como óleo de soja e óleo de colza, disse Hou. Ela espera que a demanda por farelo de soja melhore no segundo semestre.

As compras totais de soja da China continuarão altas. As importações devem se recuperar em abril, após grandes embarques do Brasil, principal fornecedor do país, de acordo com o CNGOIC. Os embarques de março foram estimados em 6,2 milhões de toneladas, acima dos 5,56 milhões em fevereiro, que foi o menor nível em um ano. O centro espera que as importações anuais fiquem estáveis em 2020-21 em relação aos 98 milhões de toneladas há um ano.