China reduz participação em Treasuries para abaixo de US$ 1 trilhão; entenda
A China reduziu a quantidade de títulos do Tesouro dos Estados Unidos (Treasuries) para abaixo de US$ 1 trilhão, segundo dados divulgados nesta semana.
É a primeira vez desde 2010 que a quantidade de Treasuries em poder da China ficou abaixo dessa marca simbólica. Em maio, a participação chinesa em títulos dos EUA caiu a US$ 981 bilhões.
Trata-se de uma redução de US$ 22,6 bilhões em relação a abril. Já em comparação com maio de 2021, a participação da China nos títulos soberanos americanos encolheu 9%.
Mico na mão?
Não é de hoje que a China vem reduzindo a exposição aos títulos dos EUA. A China caiu para o segundo lugar no ranking de maior detentora de Treasuries em junho de 2019, ficando atrás do Japão.
Mesmo assim, o detentor estrangeiro número um na dívida dos EUA também vem reduzindo a participação. O Japão encolheu em 4% em maio a detenção de Treasuries, para US$ 1,21 trilhão.
Embora os dois principais detentores estrangeiros da dívida dos EUA tenham reduzido suas participações, as compras externas líquidas nos Treasuries estão aumentando.
A Bélgica, por exemplo, é o oitavo maior detentor em títulos dos EUA, com US$ 268 bilhões, e parte desse aumento vem da diminuição da exposição da China.
“O movimento indica a confiança dos investidores na capacidade do Federal Reserve de domar a inflação em relação a outros bancos centrais”, avalia o BCA Research, em relatório.
Porém, caso o crescimento acelere no resto do mundo, enquanto a economia americana perde tração e os lucros corporativos ficam menores, as taxas de juros fora dos EUA ficam com retornos reais (descontada a inflação) mais atrativos.
O comentarista Hu Xijin, do jornal estatal Global Times, postou mensagem na rede social do Twitter nesta semana, dizendo que a China estava perdendo a confiança na economia dos EUA.
“Reduzir a participação na dívida dos EUA tem sido uma exigência da opinião pública chinesa. O povo chinês está perdendo a confiança na economia dos EUA e em sua credibilidade. Portanto, é melhor deixar que os países da aliança Five Eyes e outros aliados dos EUA detenham mais dívidas dos EUA”, escreveu o jornalista chinês.
Reducing China’s holdings of US debt has long been a demand of Chinese public opinion. Chinese people are losing confidence in the US economy and its credibility. So it’s better to let countries in the Five Eyes alliance and other US allies hold more US debt. https://t.co/YGnbWadHkv
— Hu Xijin 胡锡进 (@HuXijin_GT) July 19, 2022
Treasuries e dólar são abrigo
A dinâmica nos Treasuries é relevante principalmente para o dólar. “Houve entrada maciça nos títulos, o que foi um dos impulsionadores da força do dólar”, destaca o BCA Research, em relatório.
Esses fluxos em direção a ativos seguros, como os bônus americanos e o dólar, funcionam como uma ferramenta mais útil para gerenciar a busca por proteção.
Desde que o Federal Reserve iniciou a campanha de aumento na taxa de juros dos EUA, o índice acionário americano S&P ligado aos bônus caiu 8%.
Já o índice DXY, que mede a força do dólar em relação a uma cesta de moeda, disparou 11%.
Mas há o risco de que o dólar esteja supervalorizado. “Há espaço para que a moeda enfraqueça no longo prazo, se a inflação nos EUA perder força e a economia global alcançar um pouso suave”, avalia o BCA.
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