China quer salvar o setor imobiliário com uma caixa de ferramentas; entenda
Depois de falar de modo geral sobre como a China pode enfrentar os desafios econômicos e tratar especificamente da demanda doméstica, desta vez, o foco desta coluna concentra-se em um dos setores chineses que é destaque no noticiário do mercado financeiro há algum tempo: o setor imobiliário.
Desde a crise da Evergrande, em 2021, as incorporadoras chinesas têm sofrido com dívidas enormes, baixa demanda e queda nos preços dos imóveis.
A própria Evergrande, que junto com a Country Gardens responde por cerca de 40% das vendas de casas no país, vive uma situação problemática: a primeira declarou falência e a segunda está à beira da inadimplência.
É difícil não exagerar ao tratar da importância do setor imobiliário na economia da China. Atualmente, a construção civil representa cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) da China, ante cerca de 10% em 2000. As construtoras e incorporadoras são uma importante fonte de receitas para os governos locais, através da concessão de empréstimos e vendas de terrenos.
Além disso, os imóveis agora representam quase dois terços da riqueza das famílias na China. Não é nenhum segredo de Estado que o crescimento da China tem dependido excessivamente de investimentos em infraestrutura, que são cada vez menos produtivos, e do setor imobiliário, que está muito endividado e vulnerável.
De acordo com cálculos do The Wall Street Journal, na década de 1990, foram necessários cerca de US$ 3 de investimento para a China produzir US$ 1 de crescimento do PIB; agora custa cerca de US$ 9. Portanto, houve uma forte redução da produtividade, que não pode ser sustentada.
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Mãos à obra pelo setor imobiliário
O governo chinês certamente reconhece a necessidade crítica de estabilizar o setor imobiliário, porém sem fornecer garantias que possam distorcer os mercados.
As lideranças chinesas defendem o bom uso da “caixa de ferramentas políticas” para melhor atender às necessidades de moradia e promover o “desenvolvimento saudável” do setor imobiliário.
As medidas incluem:
- aumentar a habitação a preços acessíveis;
- transformar vilas em aldeias urbanas;
- construir comunidades com infraestrutura pública de lazer e de emergência;
- revitalizar diversos tipos de imóveis ociosos.
Diminuir o risco ao setor financeiro, reduzir a dívida do governo local e proteger as instituições financeiras, pequenas e grandes, também fazem parte do plano.
Nessa nova ferramenta política, os mutuários com empréstimos pessoais para a primeira habitação podem solicitar à instituição financeira a substituição do financiamento existente a juros menores. Além disso, em 2024 e 2025, os contribuintes que venderem as casas que possuem e voltarem a adquirir um imóvel dentro do prazo de um ano após a venda receberá uma restituição do imposto sobre a renda pessoal pago na operação.
Nas cidades, Shenzhen procurou reforçar o mercado imobiliário, revertendo limites rígidos para a compra de casas que haviam sido adotadas para conter a especulação. A megacidade do sul também flexibilizou os critérios de elegibilidade para a compra de casa, afetando alguns divorciados.
Outras cidades grandes, como Pequim, Xangai e Guangzhou, além de capitais de províncias, como Wuhan e Xi’an, agora concedem aos compradores de primeira viagem a opção de hipoteca da primeira casa, independentemente de terem casa própria anteriormente. A província de Jilin também tem novos incentivos para encorajar os agricultores a comprar casas em vilas e cidades.
A caixa de ferramentas chinesa
Serão todas essas medidas capazes de aumentar a compra de imóveis de forma sustentada ou terão vida curta?
Meu palpite é de que o governo continuará, como é seu método, a monitorizar e avaliar, corrigindo o curso com novas políticas, conforme necessário.
Embora a “caixa de ferramentas” se concentre em melhorar a vida das pessoas, incluindo a construção de habitação a preços acessíveis e serviços públicos, a grande visão da China é estabelecer um novo modelo de desenvolvimento para o setor imobiliário a longo prazo.