China quer negociar soja e pode fazer logística do Brasil andar para trás, diz Werner Roger, CIO da Trígono
A China suspendeu os embarques de soja de cinco empresas brasileiras com destino ao país nesta semana, depois do Ministério da Agricultura ser notificado sobre a detecção de “não conformidades” em alguns carregamentos.
Werner Roger, CIO da Trígono Capital, gestora especializada em Small Caps, que tem R$ 2,5 bilhões sob gestão, em conversa com o Money Times, reforçou que o agronegócio deve contribuir positivamente para o PIB do Brasil em 2025, com a expectativa de uma safra robusta, clima favorável e bom câmbio. Por outro lado, chama a atenção para os problemas com silos e armazéns.
“A China está restringindo importações de soja do Brasil, e por quê? Como os preços dos grãos estão subindo, eles já começam a criar uma barreira fitossanitária para negociar, algo que já aconteceu no passado. Eles colocam barreiras porque sabem que o Brasil não tem para onde exportar fora a China”, explica.
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Restrição da China afeta escoamento no Brasil
Apesar de acreditar que essa situação seja pontual, Werner detalha que esse cenário pode prejudicar ainda mais a logística brasileira.
“Chega uma composição de trem no Porto de Santos e o navio da empresa não sai do porto. Ou seja, o armazém está cheio, o trem não descarrega e não busca outro volume de carga. Isso começa a criar um constrangimento na cadeia logística para trás, até chegar na fazenda. Você acaba não tendo como tirar o produto do campo porque não tem trem para escoar e a cooperativa está cheia. Em dois meses começamos a colher o milho safrinha, mas podemos estar com os armazéns cheios de soja. É preocupante”.
No ano passado, o Brasil encerrou com um déficit de armazenagem em torno de 120-130 milhões de toneladas, após uma produção de quase 300 milhões de toneladas em 2023/24. O país cria 7 milhões de toneladas de silos por ano através do PCA (Programa de Construção de Armazéns), mas são necessários 15 milhões para estocagem por ano, pensando que a produção cresce ao menos 5%.
“Temos um déficit de armazenagem que cresce 8 milhões de toneladas ao ano. A diferença de um país em desenvolvimento e desenvolvido é que o último armazena 100% da produção agrícola em um ano, isso se chama segurança alimentar. O Brasil teria que ter 330 milhões de toneladas de silos, enquanto temos em torno de 200-210. A FAO defende que para segurança alimentar é 1,3x a sua produção para armazenagem, ou seja, teria que ser 400 milhões de toneladas”, discorre.
O CIO da Trígono ainda lembra que o Brasil só estoca 16% dos seus grãos em fazenda, enquanto a Argentina estoca 60% e Canadá e os Estados Unidos por volta de 80%. A falta de armazéns também faz o produtor perder a vantagem de vender na entressafra, quando os preços são cerca de 20% maiores.
Gestora projeta maior receita com grãos em 2025
Segundo a Trígono Capital, a estimativa da Conab para a safra 24/25, aponta para uma produção de 322,4 milhões de toneladas de grãos, avanço de 8,2% ante 23/24. A área plantada de 81,4 milhões de hectares é 1,8% maior, com a produtividade e clima explicando essa diferença. Além da quantidade maior de grãos, o setor deverá ser favorecido pela taxa de câmbio.
Estimando uma taxa média de R$ 6,20 neste ano, o real terá desvalorização média de 15% sobre 2024 (R$ 5,39). Isso pode proporcionar um aumento de mais de 23% nas receitas de grãos sobre as da safra 23/24 (considerando-se preços médios – em moeda estrangeira – estáveis).