Política

China: Presidente Xi deve ampliar superpoderes no Partido até para manter Covid Zero 

15 out 2022, 14:00 - atualizado em 15 out 2022, 12:19
Xi Jinping
Presidente da China, Xi Jinping, deve permanecer no cargo para um inédito terceiro mandato no país, que pode ser vitalício, ampliando poderes do atual líder (Imagem: REUTERS/Florence Lo)

Começa, neste domingo (16), o mais importante evento político na China. O Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (PPCh) acontece a cada cinco anos e realiza em 2022 sua vigésima edição. O grande destaque deste ano são os superpoderes que devem ficar nas mãos do presidente Xi Jinping

Afinal, será a primeira vez desde Mao Tsé Tung e Deng Xiaoping que um líder chinês irá comandar a China por mais de dez anos. Inicialmente, Xi deveria ficar no comando da segunda maior economia do mundo por no máximo dez anos, assim como seus antecessores Hu Jintao e Jiang Zemin.   

Porém, a mudança veio em 2018, quando a Constituição chinesa retirou o limite de dois mandatos consecutivos de cinco anos, cada, para cargos-chave no país. Ou seja, um eventual terceiro mandato pode manter Xi como líder por um período indeterminado, quiçá até vitalício.

“Ele pode seguir no poder pelo restante da vida”, resume o economista sênior para a China da Capital Economics (CE), Julian Evans-Pritchard. Para ele, o atual presidente chinês deve sair do 20º Congresso do PCCh com uma posição ainda mais forte. 

Todo-poderoso Xi III

O evento deve durar uma semana, até o próximo sábado (22), e os episódios mais importantes ocorrem no primeiro e no último dia. Enquanto a abertura é marcada por uma série de anúncios e resoluções, o grand finale reserva a revelação do Comitê Central. 

É desse pequeno grupo de líderes que saem o secretário-geral do Partido – e, portanto, o presidente chinês – além do primeiro-ministro. É quase certo que Xi permanecerá, mas é menos claro se Li Keqiang seguirá no cargo, consolidando de vez o poder nas mãos do atual presidente.

Para o Instituto MacroPolo o cenário base aponta 70% de chance de troca de premiê. Nesse cenário, três dos atuais membros do Comitê Permanente do Politburo deixarão o cargo, com a saída mais significativa sendo a de Li Keqiang”, afirma o sócio-fundador e diretor-gerente, Damien Ma.

Para ele, a chance de Li permanecer no cargo é de 30%. Assim, Xi deve assegurar um terceiro mandato de mais cinco anos e construir um Comitê Permanente do Politburo com vistas a uma possível permanência pós-2027.

A visão de Xi de transformar a China em uma potência global mais autossuficiente e menos dependente do Ocidente tende a ser endossada pelo Partido. Essa perspectiva deve constar no relatório de trabalho, que traçará a trajetória política do país para os próximos cinco anos e além.

“O Congresso do Partido dará o tom para as principais políticas econômicas, sociais e industriais para 2023 e depois”, lembra o estrategista-chefe de mercados emergentes da BCA Research, Arthur Budaghyan. 

Covid Zero veio para ficar?

Nesse sentido, a principal dúvida é se o 20º Congresso do PC chinês irá fornecer alguma indicação quanto à possibilidade de revisar a estratégia de Covid Zero. Apesar do caráter dinâmico, com flexibilização nas medidas de restrição à mobilidade, não há sinais de mudança iminente.

“Suponho que a dinâmica zero seja estável”, ironiza o estrategista global do Rabobank, Michael Every. Ele cita uma série de reportagens publicadas no Diário do Povo nesta semana, por três dias consecutivos. 

Nas manchetes, o principal jornal do Partido diz que a política de Covid Zero é “sustentável” e que essa estratégia é fundamental para estabilizar a economia. Um dos destaques foi artigo assinado por Zhong Yin, clamando paciência e confiança na abordagem atual. 

“A mídia estatal chinesa fez um esforço conjunto para dissipar qualquer sugestão de que o Congresso do Partido possa abrir as portas para uma mudança na política de combate da China ao coronavírus”, diz Evans-Pritchard.

Ou seja, não há qualquer perspectiva de suspensão da política de Covid Zero em um futuro próximo. “Provavelmente um relaxamento significativo não acontecerá antes de março de 2023 e, quando houver, será gradual”, prevê, Budaghyan, da BCA.

Afinal, a China não afrouxou as restrições durante o verão. Portanto, é improvável que faça algo durante o inverno que se aproxima (no hemisfério norte), quando a transmissão de vírus semelhantes à gripe está em seu ponto mais alto.

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