China precisa combinar com o câmbio nos países fornecedores seu controle da inflação
De todos os fundamentos que podem fazer com que a China não experimente mais inflação via commodities e carnes importadas, um dos mais eficazes é justamente o que não está sob as autoridades de Pequim: o câmbio nos países fornecedores.
Impor controle de preços sobre carvão (anunciado nesta quarta, 9) e sobre o minério de ferro (subiu 5,4% na Bolsa de Dalian), bem como liberar novas compras de milho apenas em zonas não sujeitas a cotas, não deverão ter resultados em paralelo à sua demanda crescente empurrada por uma economia com fôlego.
Além disso, sem estoques, nada feito.
Do mesmo modo, reforçar os inventários de carne de porco e ampliar seu poder sobre o mercado interno, como noticiado hoje também, não implica diretamente em sucesso. E formar estoques exige compras pesadas, enquanto o plantel interno, melhor, sim, mas longe da altura pré peste suína africana (PSA).
Está tudo muito ajustado em termos de produção global e consumo elástico, sobretudo nos produtos agropecuários, enquanto também os países centrais, além de China, vão deixando para trás o pior da pandemia, avalia, por exemplo, Marcos Jank, professor do Insper.
“O cobertor da oferta global está curtíssimo e estoques muito baixos”, completa.
A torcida mesmo, portanto, fica para a relação cambial nas moedas locais dos fornecedores. E as importações chinesas saiam mais baratas.
O Brasil no momento observa a divisa americana perder mais de 3% contra o real no acumulado do ano – e persegue os R$ 5 quando já chegou acima de R$ 5,70 em 2020 ,e, no começo de maio, esteve em torno ao redor de R$ 5,25.
Casos pontuais
A China conseguiu controlar as compras de soja nas últimas semanas, como havia conseguido fazer com as importações de carne bovina, mas são situações pontuais. No caso da oleaginosa, balancearam bem as compras do Brasil e dos Estados Unidos nas transições de safras.
Em relação ao milho, a situação chinesa é mais desconfortável porque a recuperação da produção de suínos exige maior concentração do cereal e até de outros grãos, diz Jank, ex-presidente da Asia-Brazil Agro Alliance.
No trigo, por exemplo, a China também demandou bastante para substituir uma parte do milho na ração.
Michel Alaby, consultor em comércio e relações internacionais na Alaby & Associados, vai na mesma linha em relação a pouca margem de manobra chinesa para controlar a inflação, via, por exemplo, índice de preços ao produtor na China, que avançou 9% em maio, o maior em 12 anos.
Na sua opinião, isso se dará “inclusive através da valorização da sua moeda [yuan] em relação ao dólar, além do que, no caso das commodities, os preços são fixados em bolsas”.
Compradora mundial líquida e compulsória de boa parte do que necessita em insumos e matérias-primas para o seu agronegócio (como para a siderurgia), a China encurtou sua margem de manobra enquanto cresce, sem a contrapartida de produção local de iguais produtos que tenta controlar.
A menos que decrete de fato um limite para compras, muito improvável mesmo para o governo centralizado.