Carnes

China pode evitar os ovos numa mesma cesta e investir em carnes no exterior

05 dez 2019, 10:17 - atualizado em 05 dez 2019, 10:54
Venda de carne suína em mercado em Pequim, China
Abastecimento chinês de carnes, quase todo ele importado hoje, pode ser de empresas do país no exterior em um futuro próximo (Imagem: REUTERS/Fang Nanlin)

Os cenários chineses das proteínas animais para os próximos anos serão de aceleração na recuperação total do plantel de suínos e o caminho da autossuficiência em aves ou o país vai começar a exportar investimentos para produzir fora? O primeiro parece ser a via mais normal, segundo várias análises, mas a segunda possibilidade não se despreza.

Alexandre Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Agro, está inclinado a aceitar que a China não vai mais colocar todos os ovos numa mesma cesta e “depois dessa porrada no estômago que foi a peste suína africana (PSA)”, Pequim vai estimular a “compra de granjas (e frigoríficos) pelo mundo”.

Mais de 40% do plantel de suínos foi dizimado.

A estratégia chinesa de segurança alimentar de produzir o máximo e o que não der passar a assegurar fornecimento próprio em outros países, aproveitando oportunidades – caso da expansão de tradings que também entraram no Brasil adquirindo áreas produtivas, como a Cofco, em grãos e cana/açúcar, entre outros exemplos -, pode abrir novo capítulo.

“Sim, seria inédito na estratégia chinesa a compra de ativos externos em carnes”, avalia o engenheiro agrônomo e doutor em economia, alinhando o Brasil como um destino natural dessa potencial nova fase de exportação de capital.

A recuperação da produção interna de porcos (com diminuição das importações a partir de 2022) e o aumento da produção de aves em mais de 15% já em 2020, analisada aqui (26/11) vai acontecer, não se descarta, mas não deverá voltar aos níveis pré-crise (no caso de suínos).

Na entrevista ao Money Times após palestra no congresso Agrocenários 2020 (quarta, 4, Brasília), o chefe da MB Agro lembrou que qualquer taxa de crescimento da produção chinesa pode ser pequena, diante de uma capacidade de quase 500 milhões de cabeças (até 2018). E para os mais importantes fornecedores mundiais de suínos, como o Brasil (rebanho de pouco mais de 41 milhões), é uma enormidade.

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Farra das exportações

Daí que a segunda maior economia mundial absorve tudo que sobra no mundo além de porco, fazendo a farra dos exportadores brasileiros de aves e de carne bovina.

Mas o risco de novos problemas sanitários em um país daquelas proporções geográficas e com muitos desníveis em termos de estrutura produtiva (boa parte da produção é arcaica, espalhada em pequenos criadores nos fundões das províncias), talvez seja uma preocupação que as autoridades não queiram mais passar.

E para fazer com que partes das importações fique “em casa”, isto é, seja originada por empresas chinesas instaladas em outros mercados, controlando também os preços internos que dispararam em todas as carnes este ano, a China poderá ir às compras de empresas de carnes vermelhas e brancas.

Até de bois não se despreza, mesmo que os chineses não tenham expertise no setor.