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China pode aumentar contrato para manter pouso do PIB na meta de 2022, sem prejuízo para o agro do Brasil

20 dez 2021, 11:32 - atualizado em 20 dez 2021, 18:57
Trabalhador em terminal de exportação de fertilizantes na China
Manutenção da necessidade importadora de alimentos da China está assegurada para 2022 (Imagem: China Daily via REUTERS/Files)

A China ‘contratou’ um crescimento menor do Produto Interno Bruto (PIB), apesar do ponto fora da curva proporcionado pelo ano I da covid em 2020, mas também tem meios para ‘contratar’ mais medidas que freiem uma desaceleração não programada em 2022.

Depois dos 2,3% de alta do ano passado, os mais 6% previstos para 2021 estão alinhados aos 5% definidos para o ano que vem.

E veja-se que a decisão de crescer ainda menos foi ratificada por um think tank governamental, no começo de dezembro, em meio a um ataque contra o yuan e queda nas bolsas, pela irradiação dos problemas no setor imobiliário do país que começou com a insolvência da incorporadora Evergrande há uns meses.

A confiança de Pequim no controle da situação aparentemente não muda, inclusive porque o ano novo é crucial para o presidente Xi Jinping manter a popularidade dentro do Comitê do Partido Comunista e assegurar um terceiro mandato em novembro.

O governo tem o arsenal de “calibragem” sobre o pouso forçado do PIB, como lembra Fabiana D’Atri, economista representante do Bradesco (BBDC4) no Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), complementando o que já disse antes ao Money Times.

Ainda não está funcionando muito, mas a mão pode ficar mais pesada, inclusive se o cenário mundial – e chinês – ficar um pouco comprometido com a fase ômicron da covid-19 se alastrando.

Tanto que já havia sido cortado os juros no refinanciamento em 25 pontos-base, em 7 de dezembro, e, nesta segunda (20), houve a redução da taxa de juros de referência dos empréstimos (LPR) de 3,85% para 3,80%. O primeiro corte em 20 anos.

Entre os ajustes para dar maior liquidez, relembra Fabiana, já vieram duas flexibilizações no compulsório dos bancos, com expectativas de soltar mais de US$ 180 bilhões à economia. Também poderá haver menores restrições ao setor imobiliário, como já foi acenado.

Daí que para a Coordenadora do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco nada muda para 2022, ante o retrato que a China apresenta neste final de 2021.

Chance praticamente zero de a soma da riqueza do país sair da linha imaginada, que acentua os “múltiplos ajustes defendidos com base em crescimento com qualidade, sustentável em meio ambiente e foco em tecnologia”, portanto tirando o peso dos setores que sustentaram o desenvolvimento bem acima dos 6,6% visto até 2018 (em 2019 foi +6%).

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Ajustes com qualidade

Nessa conta, entram o setor químico – com a consolidação de milhares de empresas em um número bem menor -, e o imobiliário, entre outros.

Entender esse cenário, segundo Fabiana D’Atri, ajuda a tirar qualquer desconfiança sobre a capacidade e a necessidade de importações chinesas de alimentos nos próximos 12 meses.

Para o Brasil, não há o que temer, fora as exportações de minérios e de petróleo.

A qualidade de desenvolvimento perseguida inclui a manutenção do padrão de consumo alimentício direto e indireto (como os insumos para rações), inclusive pela incorporação de novos hábitos da população, que não sofrerão mudanças estruturais, pontua a economista do Bradesco e CEBC.

Depois, o índice de aterrissagem forçada do PIB é muito pequeno para desatrelar as importações chinesas ao ponto do risco da segurança alimentar.

Poderia haver certo acomodamento nas aquisições da China no Brasil por fatores conjuntarias de alguns setores, com algum apoio no combate à inflação, mas nada significativos.

A melhora da produção de suínos implica na manutenção de volumes expressivos de importações de grãos, mas também não ao ponto de achatar as compras internacionais de carnes.

Este ano termina com o caso emblemático da paralisação do fornecimento de carne bovina desde setembro e somente liberado na semana passada, após os eventos da vaca louca atípica.

No acumulado de janeiro a novembro de 2020, o Brasil exportou, para o mundo todo, 1,848 milhão de toneladas e internou US$ 7,7 bilhões, sendo que o acumulado deste foram 1,716 milhão/t. A perda foi pelas menores vendas ao maior cliente do Brasil e se estenderá para dezembro, mas ainda assim a participação fica acima das 930 mil/t atuais e não deverá sofrer recuos em 2022.

Na soja, o carro-chefe do agro e para lá também, os embarques à China somaram 56,1 milhões de toneladas, 5% até outubro, mas também por ajustes nas suas estratégias, mas não deverá cair dos 80% de participação no total das entregas globais brasileiras a partir de janeiro.