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China planeja apertar cerco contra Ant com regras para bancos

04 nov 2020, 11:42 - atualizado em 04 nov 2020, 11:42
Ant Group
As medidas propostas, que exigem que os operadores de plataforma forneçam pelo menos 30% do financiamento para empréstimos, classificariam muitas das transações existentes da Ant como não conformes (Imagem: Reuters/Aly Song)

A surpreendente suspensão da oferta pública inicial de US$ 35 bilhões da Ant Group é apenas o começo de uma nova campanha da China para colocar um freio no império de fintech controlado por Jack Ma.

As autoridades agora estão de olho na maior fonte de receita da Ant: suas plataformas de crédito que canalizam empréstimos de bancos e outras instituições financeiras para milhões de consumidores em toda a China, de acordo com pessoas a par do assunto.

A Comissão Regulatória de Bancos e Seguros da China (CBIRC, na sigla em inglês) planeja desincentivar bancos de usarem as plataformas da Ant e já pediu que alguns assegurem que seus portfólios estejam em conformidade com os estritos projetos de regulamentação anunciados na segunda-feira, disseram as pessoas, que não quiseram ser identificadas.

As medidas propostas, que exigem que os operadores de plataforma forneçam pelo menos 30% do financiamento para empréstimos, classificariam muitas das transações existentes da Ant como não conformes.

Atualmente, a empresa mantém cerca de 2% dos empréstimos em seu próprio balanço, sendo o restante financiado por terceiros ou empacotado como valores mobiliários e vendido.

O escopo completo dos planos da China para a Ant não está claro, e é possível que os bancos continuem a trabalhar com a empresa assim que a fintech cumprir as solicitações dos reguladores.

Qualquer sugestão de que os bancos deixariam de usar suas plataformas é “infundada”, disse a Ant em resposta a perguntas da Bloomberg. “A Ant continuará a apoiar parceiros bancários para que tomem decisões de crédito independentes e aproveitem as plataformas de tecnologia da Ant para atender consumidores e pequenas empresas.”

A CBIRC não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

“Do ponto de vista dos reguladores e investidores, todos precisam da Ant para fornecer uma melhor divulgação sobre o negócio de coempréstimo”, disse Chen Shujin, responsável de pesquisa financeira da China da Jefferies Financial, em Hong Kong. “A Ant precisa estar alinhada com as regulamentações futuras e mostrar que seu modelo de negócios pode ajudar a reduzir os custos de financiamento para a economia, em vez de aumentá-los com algum tipo de monopólio.”

A China suspendeu abruptamente o IPO da Ant após convocar Ma para uma reunião no início da semana com o objetivo de delinear uma série de preocupações e novos regulamentos. O governo do presidente Xi Jinping aperta o cerco contra a Ant e outros conglomerados financeiros de rápido crescimento, depois de permitir que operassem por anos sem exigências de capital e de alavancagem impostas aos bancos.

As autoridades ainda não forneceram muitos detalhes sobre o que motivou a reviravolta sobre o IPO e apenas disseram que a oferta não poderia ir em frente por causa de uma “mudança significativa” no ambiente regulatório.

Ma criticou o sistema financeiro do país e questionou os modelos regulatórios globais em conferência de alto nível no mês passado, chamando os bancos de “lojas de penhores”.

A China ainda é “jovem” e precisa de mais inovação para construir um ecossistema para o desenvolvimento saudável do setor local, disse Ma.

Qualquer restrição de financiamento pode ser um grande golpe para a Ant. Depois de ter começado com pagamentos online, a empresa agora se apoia nos empréstimos.

A fintech subscreveu cerca de 1,7 trilhão de yuans (US$ 253 bilhões) em empréstimos ao consumidor e 422 bilhões de yuans em financiamentos para pequenas empresas para cerca de 100 bancos e outras instituições financeiras. A receita de sua unidade CreditTech aumentou 59%, para 29 bilhões de yuans, nos primeiros seis meses do ano, respondendo por 40% do total.