China, o dragão que virou lagartixa: A desaceleração do gigante asiático
Nos últimos meses, os investidores internacionais têm experimentado frustração com os dados de atividade econômica da China. Recentemente, o gigante asiático divulgou seus dados de inflação, que ficaram abaixo das expectativas.
Os preços ao consumidor apresentaram estabilidade, registrando a taxa mais fraca desde fevereiro de 2021 (contra uma expectativa de +0,2%), enquanto os dados de preços ao produtor mostraram uma deflação de 5,4%.
Em resumo, a deflação nos preços ao produtor se intensificou e os preços ao consumidor permaneceram estáveis ao longo do ano.
Enquanto os preços dos alimentos continuam em alta, os preços dos bens seguem em queda. Essa combinação de fatores tem gerado preocupações entre os investidores, uma vez que afeta a dinâmica econômica da China e pode influenciar as perspectivas globais.
Os dados divulgados apresentam dois efeitos indiretos para a inflação global:
- Os dados de preços ao consumidor refletem os gastos dos consumidores chineses em serviços, em vez de bens, o que limita o impacto do crescimento da China na economia global.
- Os dados ressaltam que não há inevitabilidade global em relação à rigidez da inflação.
Em decorrência desses fatores, as commodities estão apresentando reação negativa no curto prazo, apesar da possibilidade de um maior espaço para cortes de juros na China. Os investidores veem as medidas adotadas até o momento como tímidas.
Além disso, o PIB do segundo trimestre de 2023 decepcionou, com um crescimento anualizado de 6,3%, abaixo da previsão de 6,9%. Esse resultado tem sido impactado, principalmente, pelo mercado imobiliário fragilizado, enquanto os gastos em infraestrutura tiveram um leve aumento, mas os investimentos em habitação ainda se mantêm fracos.
A oferta de imóveis residenciais também chegou ao nível mais baixo desde 2005, enquanto a demanda continua baixa, afetada por fatores cíclicos.
Como consequência desse cenário, a pressão por novos estímulos econômicos está aumentando, buscando fortalecer a atividade econômica e enfrentar os desafios enfrentados pelo mercado imobiliário.
Ainda que as perspectivas estejam sendo afetadas no curto prazo, os investidores permanecem atentos à evolução das medidas adotadas pela China e seu impacto na economia global.
A preocupação reside no fato de que uma economia chinesa mais fraca pode impactar o crescimento global, dado que a demanda doméstica do país tem se concentrado principalmente no setor de serviços, limitando seu impacto nas outras economias.
Os dados recentemente divulgados sugerem que o período de crescimento acelerado pós-pandemia na China está chegando ao fim.
É curioso notar que esses dados surgiram após a visita da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, à China. O mercado interpretou que o encontro contribuiu para construir um canal de comunicação produtivo entre os países, complementando a visita anterior do secretário de Estado, Antony Blinken, há algumas semanas.
Além disso, o emissário para o clima dos EUA, John Kerry, também visitou Pequim para três dias de negociações, buscando iniciar um diálogo antes da cúpula do clima COP28 em Dubai, em novembro.
Isso marca a terceira visita de alto escalão dos EUA à China em um curto período, com o objetivo de aliviar as tensões e promover o diálogo.
Esses esforços são importantes porque as tensões entre Washington e Pequim recentemente se transformaram em uma nova guerra comercial, com ambos os lados restringindo exportações de tecnologias avançadas crucialmente importantes.
Os chineses têm buscado a liderança em áreas como computação quântica, inteligência artificial e fabricação de chips, o que levou a restrições de exportação de metais essenciais, como gálio e germânio, juntamente com seus compostos químicos.
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No entanto, uma parte essencial da abordagem em Pequim foi estabelecer canais de comunicação que ajudem a gerenciar as tensões existentes. É fundamental reconhecer que a competição entre os Estados Unidos e a China não deve ser encarada como um jogo de soma zero.
Em vez disso, é necessário encontrar um equilíbrio entre as duas superpotências em questões que abrangem desde tecnologia e comércio até a segurança de Taiwan.
Ambas as nações têm a responsabilidade de cooperar diante dos grandes desafios globais que enfrentamos atualmente.
Na verdade, a palavra-chave para compreender o que está acontecendo é “desacoplamento” (decoupling), um termo recentemente enfatizado por Louis Gave, da Gavekal Economics, para descrever um mundo que está se afastando da China.
Essa tendência tem trazido benefícios para alguns países emergentes e prejuízos para outros, resultando em grandes vencedores e perdedores.
Um exemplo ilustrativo é o padrão das importações dos Estados Unidos, considerando o México e a China ao longo das últimas três décadas.
Os acordos comerciais tiveram um impacto significativo em ambos os países, com o México enfrentando uma perda significativa de participação após a entrada da China na Organização Mundial do Comércio em 2001.
Entretanto, recentemente, o México tem se beneficiado da redução da dependência em relação à China, com suas importações superando as da China nos últimos três meses, pela primeira vez em 20 anos.
Enquanto as duas superpotências globais buscam se distanciar uma da outra, outros países emergentes estão encontrando oportunidades.
Países da Ásia e América Latina, como o Brasil, têm a chance de expandir suas relações comerciais com a China e os EUA.
Resumidamente, estamos testemunhando o início de uma nova era na globalização. Como resultado, o crescimento do comércio nos mercados emergentes tem o potencial de impulsionar as commodities de forma estrutural.
Enquanto os Estados Unidos seguem uma política monetária restritiva e a China enfrenta desafios relacionados à deflação, pode ocorrer um boom nos países emergentes, excluindo a China.
O risco reside na magnitude da desaceleração no Ocidente. A política monetária agressiva do Federal Reserve durante uma recessão global na indústria manufatureira e a deflação na China geram preocupações para os ativos de risco em geral, especialmente para os setores cíclicos.
Embora os maiores desafios futuros possam envolver os Estados Unidos e a China, à medida que lidam com os efeitos posteriores da pandemia e aprendem a coexistir, o ponto principal é que o resto do mundo em desenvolvimento pode encontrar algum impulso positivo estrutural nos próximos anos, o que é promissor para países como o Brasil.