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China no caminho para o domínio tecnológico mundial

28 jul 2020, 14:00 - atualizado em 28 jul 2020, 14:01
Bandeira da China
A China tornou-se um participante central na elaboração de regras internacionais para tecnologias emergentes, particularmente as redes sem fio de quinta geração (5G) como parte de um esforço nacional (Imagem: Pixabay)

Com o “China Standards 2035”, complemento do plano de modernização industrial “Made in China 2025”, a China caminha para ser um dos maiores players tecnológicos mundiais.

A China tornou-se um participante central na elaboração de regras internacionais para tecnologias emergentes, particularmente as redes sem fio de quinta geração (5G) como parte de um esforço nacional para moldar o campo a seu favor.

O país está elaborando uma estratégia de longo prazo chamada “China Standards 2035”, que complementa o plano de modernização industrial “Made in China 2025”, sob o qual desenvolveu setores estratégicos, como 5G e inteligência artificial (AI).

Como mecanismo de se defender de constantes alvos de boicotes e processos na OMC, em 2019 a China enviou 830 documentos técnicos relacionados às especificações de comunicações com fio para a União Internacional de Telecomunicações – International Telecommunication Union.

Se somarmos o número de documentos técnicos enviados pela Coreia, EUA e Japão, a China supera os três países.

Tais documentos servem de base para a deliberação de novos padrões, como também dar mais voz à China.

Além das telecomunicações, a China estava por trás de 16 das 65 propostas de novos comitês técnicos na Organização Internacional de Padronização e na Comissão Eletrotécnica Internacional desde 2014, de acordo com o Comitê de Padrões Industriais do Japão – Japanese Industrial Standards Committee.

Esses comitês elaboram especificações para campos específicos, com o líder normalmente vindo do país que fez a proposta. A Huawei é a principal registradora de patentes essenciais para o 5G.

Ela lidera em contribuições relacionadas ao 5G para a 3GPP, uma organização internacional que desenvolve padrões de telecomunicações, superando rivais europeus e a Qualcomm sediada nos EUA.

Como entender esse crescimento da China no setor de telecomunicações? Em artigo publicado recente, de Robert Atkison, a principal hipótese é a de que a política industrial na China não seguiu o fundamentalismo do mercado dos países ocidentais.

Pelo contrário, as políticas industriais, como as reservas de mercado foram essenciais para a ascensão das gigantes chinesas.

Indicadores mostram como as política industriais na China foram e são essenciais para a ascensão de empresas chinesas na inovação global na indústria de equipamentos e de telecomunicações. Como é o caso da Huawei, que vem apresentando crescimento considerável no mercado mundial!

Na figura 1, fica em evidência a relação entre competição e inovação que se assemelha a um “U” invertido. Ou seja, do lado direito, um mercado é dominado por uma ou duas empresas, onde as empresas podem ter receitas para investir em inovação, o que legitima a política de reserva de mercado e a escolha de empresas para atuarem nesse mercado.

Por outro lado, do lado esquerdo da figura, em mercados fragmentados e hipercompetitivos, particularmente aqueles compostos por muitas pequenas empresas, as empresas tendem a produzir menos inovação porque embora tenham motivação competitiva, carecem das receitas de lucros superiores para investir em P&D, que empresas oligopolísticas tem em mercados mais concentrados.

Essa lógica de concentração de mercado e ganhos de escopo e escala, dão sustentação a políticas do governo para fortalecer as gigantes nacionais.

Sem as políticas e programas do governo chinês para suas gigantes de telecomunicações, a China careceria de uma indústria de equipamentos de telecomunicações globalmente competitiva.

Nem a Huawei nem a ZTE teriam mais do que quotas de mercado menores, mesmo na China. Uma das principais medidas, além de subsídios e financiamento, foi limitar drasticamente o acesso estrangeiro aos enormes mercados de telecomunicações da China, fornecendo a eles uma fonte garantida de receita para concorrer com empresas estrangeiros.

Ou seja, uma nítida política de reserva de mercado.Mesmo considerando os avanços das empresas chinesas, a Nokia (Finlândia) e a Ericsson (Suécia) ainda apresentam u m investimento em P&D como proporção das receitas maior do que a Huawei e ZTE (chinesas).

O investimento mais elevado em P&D da Ericsson e da Nokia, quando comparado com a Huawei e ZTE, tem como resultado maiores indicadores de inovação da Nokia e Ericsson.

Nota: Alguns estudos mostraram que a Huawei tem uma liderança significativa nas patentes 5G. Entretanto, a contagem de patentes precisa ser ajustada com a participação no mercado global, presumindo que a participação no mercado global dever estar aproximadamente correlacionada com a patente, pois as empresas com mais receita têm mais para investir em P&D.

Mas chama a atenção que quando consideramos o número de patentes em comunicação sem fio, a China apresenta um crescimento significativo, principalmente quando comparado com outros países em 2018 e 2019.

Outro indicador que chama a atenção no crescimento das empresas chinesas é a taxa de lucratividade, comparando a Huawei com a Ericsson, entre 2003 e 2018.

Desde 2008, a taxa de lucro da Huawei sempre está acima da Ericsson. A taxa de lucro da Huawei, comparada com a Nokia, mostra que a Huawei perde apenas entre 2014 e 2015, com o restante do período a Huawei apresentando maior taxa de lucro.

Os ganhos de participação de mercado da China estão associados a ganhar mercado de outros fornecedores inovadores de equipamentos de telecomunicações em outros países.

Ao conquistar artificialmente participação de mercado de empresas mais inovadoras, as empresas concorrentes obtiveram menos receita para investir em P&D de ponta.

Esse crescimento da Huawei e da ZET mostra os motivos para que EUA e outros países, como a Inglaterra, estão implementando medidas para limitar o crescimento das empresas chinesas no mundo.

Edifício da Huawei
Desde 2008, a taxa de lucro da Huawei sempre está acima da Ericsson (REUTERS/ Tyrone Siu)

Ao mesmo tempo, a experiência chinesa pode ser uma lição para economias de industrialização tardia, como o caso brasileiro.

Uma das ideias é a de que a China  não seguiu o fundamentalismo do mercado dos países ocidentais, ou seja, na China tem Política Industrial.

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