Inflação

China não deve ‘adoçar’ inflação ‘salgada’ nos EUA nem salvar economia da recessão

14 out 2022, 12:49 - atualizado em 14 out 2022, 15:25
EUA China
Inflação salgada ao consumidor nos EUA e na China requer ajuste nos preços globais de bens, que deve castiga a economia global (Imagem: REUTERS/Aly Song)

A inflação ao consumidor está “salgada” nas duas maiores economias do mundo. Enquanto nos Estados Unidos, o CPI ficou acima do esperado em setembro, permanecendo nos maiores níveis em 40 anos, na China os preços no varejo subiram no ritmo mais rápido desde abril de 2020, no auge da pandemia

Ainda assim, as perspectivas para a inflação na China permanecem benignas.

“Não há sinais preocupantes de pressão inflacionária no país, que apresenta a menor variação de preços das grandes economias globais”, resume o CIO da TAG Investimentos, Dan Kawa. 

Afinal, com o consumo doméstico fraco, a atividade econômica fragilizada pelos lockdowns e os preços ao produtor chinês (PPI) em forte desaceleração, o aumento de preços na China, de fato, tende a ser temporário. Já nos EUA, o caráter transitório defendido pelo presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, não se confirmou.

“Diante disso, a dúvida é se a China estaria prestes a exportar deflação e, assim, conter as pressões inflacionárias na economia dos EUA”, ressalta o estrategista-chefe de mercados emergentes da BCA Research, Arthur Budaghyan. 

Oferta x demanda

O fato é que a inflação global dos preços deve-se, em grande parte, ao excesso de demanda — e não à escassez de oferta de produtos. Portanto, uma desinflação consistente e duradoura nos EUA exige a chamada “destruição da demanda”.

Ou seja, somente a queda no consumo dos norte-americanos por bens levará ao recuo nos índices de preços.

“É improvável que a inflação nos EUA caia abaixo de 3,5% ou 4% sem uma contração da demanda doméstica”, explica Budaghyan, da consultoria canadense. 

O problema é que a queda na demanda dos EUA por bens e commodities fará com que os preços das cadeias globais de produtos comercializáveis entrem em uma trajetória negativa. Aliás, os pedidos globais de exportação de manufaturados já estão caindo. 

Como resultado, a atividade mundial será castigada, enquanto o processo de desaquecimento da economia dos EUA via a redução das importações ainda não acabou. 

“Uma recaída na atividade econômica gerando uma forte onda desinflacionária é um cenário mais plausível nos próximos 12 meses”, observa o estrategista da BCA. 

E os mercados?

Nesse choque entre a deflação chinesa e a inflação nos EUA, interessa aos mercados o chamado “efeito multiplicador” na luta contra a alta dos preços. Daí, então, o embate se dá entre as políticas monetária e fiscal.  

“Quando o Fed e outros bancos centrais, como o europeu (BCE) decidem combater a inflação via aumento das taxas de juros, isso força os governos a restaurar a sustentabilidade da dívida pública”, explica o economista do Natixis, Patrick Artus.

Isso implica que uma nova oportunidade de compra surgirá primeiro em títulos soberanos do governo e depois — após certo atraso — em ações.

“Isso é verdade em todo o mundo, incluindo nos mercados emergentes”, afirma Budaghyan, da BCA.

Portanto, não haverá nenhum super-herói capaz de salvar o mundo da colossal enxurrada de recursos que os BCs injetaram no sistema financeiro desde 2020, superior a US$ 15 trilhões. E os investidores devem favorecer bônus em vez de ações — ao menos, por enquanto.

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Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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