Internacional

China mira mais exportações da Austrália em conflito sobre vírus

19 maio 2020, 8:31 - atualizado em 19 maio 2020, 8:31
O governo do presidente Xi Jinping se ressente das críticas sobre o combate ao surto e costuma usar o comércio como ferramenta diplomática (Imagem: Noel Celis/Pool via Reuters)

A China estuda restrições para mais exportações da Austrália, como vinho e laticínios, segundo pessoas com conhecimento do assunto.

A medida seria uma significativa deterioração das relações entre os parceiros comerciais, que divergem sobre a origem do surto de coronavírus.

Autoridades chinesas elaboraram uma lista de possíveis produtos, como frutos do mar, aveia e frutas, que podem estar sujeitos a controles mais rigorosos de qualidade, análises antidumping, tarifas ou atrasos alfandegários, disseram as pessoas, que não quiseram ser identificadas.

A mídia estatal também pode incentivar boicotes por parte de consumidores, disseram, acrescentando que a decisão final sobre as medidas não foi tomada.

A Austrália, que é a economia desenvolvida mais dependente da China, despertou a ira do governo de Pequim ao pedir uma investigação sobre a origem da pandemia.

O governo do presidente Xi Jinping se ressente das críticas sobre o combate ao surto e costuma usar o comércio como ferramenta diplomática. Coreia do Sul, Japão e Taiwan são exemplos de países que sofreram represálias nos últimos anos.

A China já proibiu importações de carne de quatro frigoríficos australianos por razões “técnicas” e aplicou tarifas de mais de 80% sobre a cevada australiana na segunda-feira, após longa investigação.

Quaisquer medidas adicionais dependerão de como a Austrália aborda as objeções da China, disseram as pessoas, acrescentando que o governo de Pequim não pretende reconhecer publicamente qualquer vínculo entre suas ações comerciais e os pedidos de investigação sobre o coronavírus.

Os preços das ações de algumas empresas australianas que exportam para a China despencaram diante da perspectiva de mais problemas no comércio. A ação da A2 Milk, que destina cerca de 40% das vendas para a China, chegou a cair até 3,9%.

O Ministério do Comércio da China não respondeu imediatamente a um pedido de comentário, e o gabinete do ministro do Comércio da Austrália, Simon Birmingham, não comentou.

Em conferência de imprensa em Pequim na terça-feira, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse que a investigação sobre a cevada australiana foi conduzida de acordo com as regras da OMC.

Ele também disse que a China apoiará uma resolução na Assembleia Mundial da Saúde na terça-feira que pede uma “avaliação abrangente” da pandemia que difere da “proposta anterior da Austrália da chamada revisão global independente”.

A China é o parceiro comercial mais importante da Austrália: as exportações agrícolas para o país asiático somaram cerca de 16 bilhões de dólares australianos (US$ 10 bilhões) em 2018-19.

Embora produtos de peso como minério de ferro, carvão e gás natural que a China precisa para alimentar a economia até agora não tenham sido mencionados, educação e turismo também podem ser vulneráveis a represálias. No mês passado, o embaixador de Pequim na Austrália sugeriu que turistas e estudantes chineses poderiam boicotar o país.

Com a Austrália perto da primeira recessão em quase 30 anos, o impacto econômico de medidas comerciais mais amplas não poderia chegar em pior momento.