China: Entenda o dilema da demanda interna e o futuro do consumo
Na semana passada, falei, de um modo geral, sobre como a China pode enfrentar os desafios econômicos. A partir desta semana, irei abordar o assunto sob diferentes óticas, como o setor imobiliário, a modernização industrial e as empresas estatais e privadas.
Desta vez, irei concentrar-me na questão da demanda doméstica e os desafios do governo chinês em resgatar a confiança do consumidor.
Sabe-se que a desaceleração da economia chinesa e os riscos no sistema financeiro da China aumentaram, à medida que o bem-sucedido modelo de crescimento econômico orientado às exportações e alimentado por investimentos em ativos fixos atingiu a idade de “aposentar-se”.
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Agora, a nova fase do crescimento econômico da China enfatiza o desenvolvimento de alta qualidade e o consumo interno. Esta é uma visão para o futuro. O motor desse modelo, claro, é a confiança do consumidor. Isso significa que as pessoas precisam gastar hoje, sem se preocupar com o que pode acontecer amanhã. Este é o dilema atual.
Qual o futuro do consumo na China?
A avaliação da cúpula do governo chinês, em uma reunião em julho, foi contundente ao reconhecer que a economia da China enfrenta novos desafios, sobretudo devido à demanda interna insuficiente.
Porém, as lideranças do país estão otimistas que a economia tem uma enorme resiliência e potencial para desenvolvimento, com os fundamentos sólidos a longo prazo permanecendo inalterados.
Tanto que, menos de uma semana depois, o Conselho de Estado anunciou 20 medidas direcionadas para restaurar e expandir o consumo doméstico. Entre elas, estão:
- aliviar as restrições sobre compras de automóveis;
- apoiar a demanda das pessoas pela compra do primeiro imóvel;
- estimular o aprimoramento da moradia atual através de reformas residenciais;
- impulsionar o turismo cultural.
As medidas são notavelmente específicas, visando, por exemplo, elevar o consumo de artigos de residência, eletrodomésticos e eletrônicos, móveis e outros itens capazes de desenvolver a ideia de “casas inteligentes e verdes”.
Para tanto, é preciso melhorar o serviço pós-venda dos produtos, facilitando a troca de objetos antigos por novos e fortalecendo a reciclagem de peças usadas, além de estimular o uso de novas tecnologias.
Na expansão da demanda interna chinesa, as prioridades são o consumo digital, especialmente o e-commerce e o “comércio verde”, voltado a produtos de baixo carbono e que promovem economia de energia.
Desafios à frente
A única forma de a economia chinesa alcançar um crescimento sustentável a longo prazo, é desviar a atividade econômica do caminho do investimento em direção ao consumo das famílias. Atualmente, a demanda doméstica corresponde a 38% do Produto Interno Bruto (PIB) da China.
Trata-se de um patamar muito inferior à média global de 60%, enquanto nos Estados Unidos, o consumo representa cerca de 70% do PIB.
Assim, para além destas medidas de curto prazo e olhando para o longo prazo, a China divulgou em dezembro do ano passado diretrizes sobre a expansão da demanda interna de modo a promover seu desenvolvimento econômico até 2035.
As diretrizes enfatizam o consumo tradicional, indo desde roupas e alimentos até viagens, mas também desenvolvimento o consumo de serviços, sejam educacionais ou de cuidados com idosos e crianças, além de promover o consumo desportivo em massa e a economia compartilhada.
Para tanto, é preciso alcançar as metas de modernização da indústria, de revitalização agrícola e de urbanização. Por isso, a China pretende impulsionar o investimento no consumo – e não mais em ativos fixos – otimizando a distribuição, reforçando a qualidade do abastecimento e melhorando o sistema de mercado.