Comprar ou vender?

China e petróleo voltam a guiar mercados

15 maio 2017, 11:12 - atualizado em 05 nov 2017, 14:04

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

O salto nos preços do petróleo, após a Rússia e a Arábia Saudita apoiarem a extensão nos cortes de produção da commodity, e o plano da China de gastar US$ 100 bilhões em infraestrutura, conduzindo a globalização econômica ao estilo chinês, embalam os mercados financeiros nesta segunda-feira. O apetite por risco prevalece, o que tende a animar os negócios locais.

O barril do petróleo WTI subia mais de 2% logo cedo, sendo negociado no maior nível em duas semanas, após um comunicado conjunto em que russos e sauditas se mostram favoráveis a ampliar por mais nove meses o atual corte de produção liderado pelo cartel de países produtores (Opep). A intenção é de enxugar o excesso de oferta da commodity, reduzindo a produção até o primeiro trimestre de 2018.

Como consequência, as ações das petrolíferas avançam, o que levou o índice britânico FTSE 100 a cravar novo recorde de alta, apesar da fraqueza entre as demais praças europeias. Os índices futuros em Nova York também estão no azul. As mineradoras e os metais básicos pegam carona no rali, tendo a companhia das moedas correlacionadas às commodities, como o peso mexicano e os dólares australiano e canadense.

Esses ativos são impulsionados pelas declarações do presidente chinês, Xi Jinping, que anunciou planos para financiar o programa relacionado à volta da Rota da Seda. Apesar de ser prematuro, a intenção da China em retomar o modelo original de investimentos através da intervenção do Estado mostra que a segunda maior economia do mundo está disposta em fortalecer a atividade através do aumento dos gastos públicos e da demanda de insumos básicos.

Esse noticiário ofusca os dados chineses referentes ao mês de abril, que mostram que a atividade perdeu tração. A produção industrial cresceu 6,5% em relação a um ano antes, menos que a previsão de alta de 7%. As vendas no varejo subiram 10,7%, levemente inferior à estimativa de +10,8%, e os investimentos em ativos fixos expandiram em 8,9% nos quatro primeiros meses de 2017, abaixo dos 9,1% esperados.

Assim, a dobradinha China-petróleo volta a guiar os mercados financeiros no começo desta semana, o que serve de alívio aos investidores, já que após várias semanas de agenda econômica intensa, no Brasil e no exterior, o calendário de indicadores e eventos está mais tranquilo até sexta-feira.

Por aqui, destaque ao Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de março, que será conhecido hoje (8h30) e que pode calibrar as estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano.

Porém, os recentes dados domésticos de atividade esfriaram a onda otimista quanto à dinâmica do crescimento econômico brasileiro em 2017, ainda muito refém da agricultura e sem forças para disseminar a retomada entre outros setores. A recuperação mostra-se desigual e, mesmo onde têm havido melhora, a recuperação tem sido lenta, evidenciando certa dificuldade da economia para sair de dois anos seguidos de recessão.  

Por isso, se o PIB crescer nos três primeiros meses do ano, isso não implica em uma trajetória de alta nos meses à frente. De qualquer forma, a sinalização errática vinda da atividade reforça a continuidade do ciclo de cortes na taxa básica de juros e, principalmente, a necessidade de antecipar a queda da Selic ao patamar de um dígito.

Essa percepção somada ao processo de desinflação em curso e às perspectivas de apoio do Congresso às reformas agita as apostas sobre a reunião deste mês do Comitê de Política Monetária (Copom). Por enquanto, o placar está empatado entre as chances de aceleração da queda para 1,25 ponto porcentual e a possibilidade de manutenção do ritmo, em um ponto. Atualmente, a taxa Selic está em 11,25%.

No exterior, dados de atividade também merecem atenção. Embora o calendário esteja esvaziado nesta segunda-feira, amanhã serão conhecidos os números do PIB da zona do euro no trimestre passado e, no dia seguinte, é a vez da inflação ao consumidor (CPI) na região da moeda única.

Ambos os indicadores podem ajudar a determinar os próximos passos do Banco Central Europeu (BCE). Nos Estados Unidos, destacam-se o desempenho da indústria norte-americana em abril e dados do setor imobiliário, amanhã.

Mas o foco estará em discursos de dirigentes do Federal Reserve ao longo da semana, após os dados de atividade e de inflação no país também levantaram dúvidas sobre a recuperação da economia no segundo trimestre. As chances de mais duas altas na taxa de juros norte-americana até o fim do ano caíram abaixo de 50%, suspeitando do prognóstico do próprio Fed.

Com menos juros nos EUA, países que dão maior retorno aos investidores, como o Brasil, tendem a continuar atrativos, fazendo o dólar perder força. E o mercado vem desarmando posições compradas (aposta na alta) na moeda norte-americana, diante da perspectiva de aprovação da reforma da Previdência até o fim deste semestre.

Se o texto passar pelo plenário da Câmara e seguir sem grandes alterações no Senado, há quem diga que o dólar pode furar a barreira dos R$ 3,00, rumo à faixa de R$ 2,90. Afinal, com tão pouco prêmio oferecido pelos juros, os investidores irão buscar rendimento em outro ativos – inclusive na renda variável, que também se torna mais competitiva (e atrativa).

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