China e Índia cortam demanda pelo açúcar na Ásia, encurtam carteira do Brasil e derrubam Nova York
Como já foi tratado aqui em Money Times, há semanas, era difícil projetar altas para o açúcar na bolsa de Nova York, mesmo se a ventilada queda de produção da Índia se concretizar com a safra atual andando um pouco mais. Hoje, desapareceram quaisquer possibilidades. China e os indianos fizeram movimentos que cortaram o apetite, já curto, pela commodity e tiraram um pouco mais de mercado do produto brasileiro.
Os chineses anunciaram que não aumentarão a cota de importação do açúcar da Tailândia, diante de acordo com a Índia que assegura a compra de seu produto, também já abordado aqui. Em paralelo, foi divulgado nesta quarta (16) que a Índia também formalizou negociações com o Irã, além de outros mercados, para contratos de fornecimento regulares.
Maurício Muruci, analista da Safras & Mercado, atribui a esses fatos o recuo na ICE Futures – o contrato março perdeu 24 pontos, quase 2% menor, cotado em 12.35 c/lp -, sustentando o que ele já vem destacando há tempos. “A China compra metade do açúcar indiano, em acordo bilateral, que este ano pode chegar a 3 milhões de toneladas da cota de exportação do país de 6 milhões/t”, diz, acentuando: a Índia neutraliza demanda da Ásia.
Para o Brasil, pouco faz ou pouco fez que a China voltasse atrás nas tarifas antidumping para o açúcar nacional. As indústrias contam com oferta garantida da Índia – e barata, certamente a preços fixados abaixo das há muito deprimidas cotações do mercado futuro.
Em relação ao Irã, o governo indiano resolveu ampliar os incentivos, já fornecidos aos exportadores, às usinas com estoques para exportação ao país dos aitolás, o que o ajuda a driblar a crise proporcionada por embargos econômicos dos Estados Unidos. Semelhante subsídio também será estendido às exportações ao Afeganistão e países da África.
“Desde abril a Safras vinha alertando para essa nova neutralização da demanda pela Índia”, afirma Muruci, da Safras.
Petróleo e etanol
O petróleo Brent subiu na praça londrina (acima de 1,20%), se aproximando mais dos US$ 60 o barril, enquanto o açúcar caiu. Os dois andam juntos, mas seguiram caminhos oposto nesta quarta, de modo que para Maurício Muruci demonstra que o impacto do cru sobre o adoçante, via etanol, é praticamente zero neste momento.
O câmbio, sim, pode afetar, com a forte demanda atual da gasolina, segundo o analista, para quem o barril do petróleo encontrou um ponto de equilíbrio bastante definido, base US$ 60/barril, mesmo após declarações da Opep de que a produção tenderá a ficar represada em 2020. “Pode cair um pouco ou subir um pouquinho, mas sempre retorna”, acrescenta.
Na opinião de Martinho Ono, CEO da SCA Trading, nesse cenário, de barril naquele patamar e produção justa de petróleo, a “competitividade do etanol está mais assegurada também para a safra seguinte (do Centro-Sul)”.