China e dólar podem pesar sobre bolsas asiáticas em 2023
Após perdas de quase US$ 5 trilhões, crescem as expectativas de recuperação dos mercados acionários asiáticos, com a aposta de investidores de que algumas das maiores tempestades do ano passado se transformarão em ventos favoráveis em 2023.
Uma reabertura total da China e a desaceleração no ciclo de aperto monetário do Federal Reserve serão os principais fatores para que o índice MSCI Asia Pacific se recupere de seu pior ano desde 2008.
Surgem sinais de alívio com a decisão do governo de Pequim de reverter sua política de Covid Zero, enquanto o dólar se afasta de sua máxima, mas investidores abalados precisarão de mais catalisadores.
No geral, as expectativas são de que o desempenho da Ásia seja superior ao dos EUA. O fundo do ciclo de baixa da indústria de chips será observado de perto nos mercados de tecnologia pesada da Coreia do Sul e de Taiwan, enquanto a guinada ao aperto monetário do Banco do Japão poderia causar efeitos cascata em toda a região.
“’Valuations’ moderados, posicionamento ‘light’ de investidores e bons fundamentos são amortecedores que devem ajudar as ações asiáticas a resistir à volatilidade de curto prazo”, disse Zhikai Chen, diretor de renda variável de mercados emergentes asiáticos e globais da BNP Paribas Asset Management.
Confira alguns fatores que podem determinar como será 2023 para os mercados acionários asiáticos:
Retomada da China
Uma recuperação da maior economia da Ásia será fundamental para aumentar os lucros em toda a região. Mas a força da retomada do mercado dependerá da evolução da onda de Covid na China, com preocupações crescentes sobre gargalos nas cadeias de suprimentos globais. O feriado do Ano Novo Lunar também pode elevar o número de casos.
A propagação da Covid “pesará muito no consumo e no crescimento econômico da China, pelo menos no primeiro semestre de 2023”, escreveu em nota Amir Anvarzadeh, estrategista da Asymmetric Advisors.
A recuperação econômica subsequente também pode resultar em maior demanda por matérias-primas e inflação mais alta, o que complicaria a trajetória dos juros dos bancos centrais globais.
Mergulho do dólar
A valorização do dólar durante grande parte do ano passado pesou sobre as ações asiáticas. Empresas com empréstimos elevados em dólares e importadores foram os mais afetados. A queda de 19% do índice MSCI Asia Pacific em 2022 eliminou US$ 5 trilhões em valor de mercado dos componentes do indicador.
Investidores estrangeiros tendem a retornar depois de resgates de quase US$ 60 bilhões no mercado emergente asiático de ações em 2022, sem incluir a China, a maior saída desde que a Bloomberg começou a compilar dados anuais em 2010.
Fabricantes de chips sob pressão
Coreia do Sul e Taiwan, sede das maiores fabricantes de chips do mundo, entre elas Samsung Electronics e Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC), tiveram um ano difícil, em meio à menor demanda por eletrônicos e juros mais altos, que afetaram as ações de tecnologia.
A tentativa do governo Biden de frear as ambições tecnológicas da China pode abalar os negócios da TSMC, bem como de outros fabricantes de chips e fornecedores de equipamentos da Ásia, já que os EUA tentam envolver outros países em seu esforço.
O apoio estatal da China à sua indústria de semicondutores deve compensar algumas das más notícias.
Tensões geopolíticas
Embora uma série de fatores aponte para um ano melhor pela frente, o otimismo de investidores vem com uma dose de cautela em meio ao risco de uma escalada das tensões geopolíticas.
As relações sino-americanas parecem ter melhorado, mas as divergências sobre o status de Taiwan e a incerteza persistente sobre uma disputa de auditoria de empresas limitam as apostas na China.
BOJ ‘hawkish’
A medida surpresa do Banco do Japão em dezembro para dobrar o teto permitido para os rendimentos dos títulos estimulou expectativas de aperto monetário adiante. Isso provavelmente fortalecerá o iene e pesará sobre os exportadores do país, como empresas de tecnologia e montadoras.
O desempenho do mercado deve influenciar o indicador MSCI Asia, que tem as ações japonesas como o maior componente, com peso de 32%.