China desafia Trump a revidar com maior poder sobre Hong Kong
No primeiro dia do maior evento político da China do ano, o presidente Xi Jinping enviou uma clara mensagem a Donald Trump: vamos fazer o que queremos em Hong Kong e não temos medo das consequências.
A China confirmou na sexta-feira que contornaria a legislatura da cidade para implementar leis de segurança nacional, que há muito tempo enfrentam resistência de residentes, temorosos de que as mudanças oprimam as liberdades de expressão, de assembleia e a imprensa.
O anúncio, feito no mesmo dia em que a China decidiu não estabelecer uma meta de crescimento econômico pela primeira vez em décadas, levou à convocação imediata de novos protestos e fez com que o índice MSCI Hong Kong registrasse a pior queda desde 2008.
Para Xi, a medida permite que o governo de Pequim reafirme o domínio sobre uma parte do território chinês, onde o governo se viu impotente durante protestos, às vezes violentos, no ano passado.
Com a perspectiva de aumento do desemprego na China continental devido ao surto de Covid-19 e de grande derrota nas eleições legislativas de Hong Kong previstas para setembro, o Partido Comunista decidiu que tinha mais a ganhar ao agir decisivamente para enfraquecer quaisquer ameaças.
“Xi se sente ameaçado, a liderança se sente ameaçada. Isto é uma crise”, afirmou David Zweig, professor emérito da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong e diretor da Transnational China Consulting.
“Isso quer dizer: ‘Não vamos ceder um centímetro, vamos aumentar o controle, e a segurança nacional de Hong Kong como um possível centro subversivo é maior do que seu valor econômico.’”
A medida poderia aumentar ainda mais a tensão entre Estados Unidos e China, cujos laços sofrem a pior crise em décadas desde que o Covid-19 começou a se propagar pelo mundo.
O confronto pode surgir em várias frentes, como cadeias de suprimentos, vistos, ciberespaço e Taiwan, enquanto Xi e Trump tentam conquistar eleitores que buscam alguém para culpar pela deterioração de seus padrões de vida.
O desconforto na liderança do partido era visível na abertura do Congresso Nacional do Povo, em Pequim, onde o premier Li Keqiang anunciou que a China abandonaria a prática de décadas de estabelecer uma meta anual de crescimento econômico devido à “grande incerteza” da economia mundial.
Apesar de implementar um pacote de estímulo moderado, o governo deixou claro que a estabilização do emprego havia se tornado prioridade. Os gastos com defesa neste ano devem crescer no ritmo mais lento desde 1991.
“Vamos nos esforçar para garantir a manutenção dos empregos existentes, trabalhar ativamente para criar empregos e ajudar pessoas desempregadas a encontrar trabalho”, disse Li.
A mudança em relação à meta de crescimento rompe com décadas de práticas de planejamento do Partido Comunista, quando o governo evidencia a profunda ruptura causada pelo Covid-19. Economistas consultados pela Bloomberg projetam expansão de apenas 1,8% neste ano, o pior desempenho desde a década de 1970.
A China procurou evitar alimentar as tensões comerciais com Trump, que escalou sua retórica contra o governo de Pequim, pois seus números caíram nas pesquisas após a pandemia.
Li destacou que a China trabalhará com os EUA para implementar o acordo de “fase um” fechado em janeiro, pouco antes de o vírus derrubar a economia, e potencialmente as perspectivas de reeleição de Trump.
“A liderança chinesa não quer ser acusada de desistir ou renegar o acordo comercial EUA-China”, disse James Green, ex-funcionário do Departamento de Estado que agora é assessor sênior da consultoria de geopolítica McLarty Associates. “Se falhar, na opinião deles, os EUA terão que ser os que vão puxar o gatilho e desistir.”
Agora, a grande questão é como Trump vai responder. Durante semanas, ele ameaçou abandonar o acordo comercial e, na quinta-feira, disse que os EUA reagiriam “fortemente” se a China seguisse em frente com a legislação de segurança nacional em Hong Kong.