Ásia

China desafia Trump a revidar com maior poder sobre Hong Kong

22 maio 2020, 8:11 - atualizado em 22 maio 2020, 8:59
Bandeira da China
A China confirmou na sexta-feira que contornaria a legislatura da cidade para implementar leis de segurança nacional (Imagem: Reuters/Thomas Peter)

No primeiro dia do maior evento político da China do ano, o presidente Xi Jinping enviou uma clara mensagem a Donald Trump: vamos fazer o que queremos em Hong Kong e não temos medo das consequências.

A China confirmou na sexta-feira que contornaria a legislatura da cidade para implementar leis de segurança nacional, que há muito tempo enfrentam resistência de residentes, temorosos de que as mudanças oprimam as liberdades de expressão, de assembleia e a imprensa.

O anúncio, feito no mesmo dia em que a China decidiu não estabelecer uma meta de crescimento econômico pela primeira vez em décadas, levou à convocação imediata de novos protestos e fez com que o índice MSCI Hong Kong registrasse a pior queda desde 2008.

Para Xi, a medida permite que o governo de Pequim reafirme o domínio sobre uma parte do território chinês, onde o governo se viu impotente durante protestos, às vezes violentos, no ano passado.

Com a perspectiva de aumento do desemprego na China continental devido ao surto de Covid-19 e de grande derrota nas eleições legislativas de Hong Kong previstas para setembro, o Partido Comunista decidiu que tinha mais a ganhar ao agir decisivamente para enfraquecer quaisquer ameaças.

Xi Jinping China
Para Xi, a medida permite que o governo de Pequim reafirme o domínio sobre uma parte do território chinês, onde o governo se viu impotente durante protestos, às vezes violentos, no ano passado (Imagem: Naohiko Hatta/Pool via Reuters)

“Xi se sente ameaçado, a liderança se sente ameaçada. Isto é uma crise”, afirmou David Zweig, professor emérito da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong e diretor da Transnational China Consulting.

“Isso quer dizer: ‘Não vamos ceder um centímetro, vamos aumentar o controle, e a segurança nacional de Hong Kong como um possível centro subversivo é maior do que seu valor econômico.’”

A medida poderia aumentar ainda mais a tensão entre Estados Unidos e China, cujos laços sofrem a pior crise em décadas desde que o Covid-19 começou a se propagar pelo mundo.

O confronto pode surgir em várias frentes, como cadeias de suprimentos, vistos, ciberespaço e Taiwan, enquanto Xi e Trump tentam conquistar eleitores que buscam alguém para culpar pela deterioração de seus padrões de vida.

O desconforto na liderança do partido era visível na abertura do Congresso Nacional do Povo, em Pequim, onde o premier Li Keqiang anunciou que a China abandonaria a prática de décadas de estabelecer uma meta anual de crescimento econômico devido à “grande incerteza” da economia mundial.

Apesar de implementar um pacote de estímulo moderado, o governo deixou claro que a estabilização do emprego havia se tornado prioridade. Os gastos com defesa neste ano devem crescer no ritmo mais lento desde 1991.

Manifestantes fazem ato em Hong Kong para agradecer legislação aprovada nos EUA
O índice MSCI Hong Kong registra a pior queda desde 2008 (Imagem: Reuters/Thomas Peter)

“Vamos nos esforçar para garantir a manutenção dos empregos existentes, trabalhar ativamente para criar empregos e ajudar pessoas desempregadas a encontrar trabalho”, disse Li.

A mudança em relação à meta de crescimento rompe com décadas de práticas de planejamento do Partido Comunista, quando o governo evidencia a profunda ruptura causada pelo Covid-19. Economistas consultados pela Bloomberg projetam expansão de apenas 1,8% neste ano, o pior desempenho desde a década de 1970.

A China procurou evitar alimentar as tensões comerciais com Trump, que escalou sua retórica contra o governo de Pequim, pois seus números caíram nas pesquisas após a pandemia.

Li destacou que a China trabalhará com os EUA para implementar o acordo de “fase um” fechado em janeiro, pouco antes de o vírus derrubar a economia, e potencialmente as perspectivas de reeleição de Trump.

“A liderança chinesa não quer ser acusada de desistir ou renegar o acordo comercial EUA-China”, disse James Green, ex-funcionário do Departamento de Estado que agora é assessor sênior da consultoria de geopolítica McLarty Associates. “Se falhar, na opinião deles, os EUA terão que ser os que vão puxar o gatilho e desistir.”

Agora, a grande questão é como Trump vai responder. Durante semanas, ele ameaçou abandonar o acordo comercial e, na quinta-feira, disse que os EUA reagiriam “fortemente” se a China seguisse em frente com a legislação de segurança nacional em Hong Kong.

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