China desacelera crescimento econômico e preocupa o mundo
A economia da China foi impactada em agosto pelas rigorosas medidas para frear o coronavírus e restrições no mercado imobiliário, o que levanta dúvidas sobre a recuperação global enquanto governos ainda buscam controlar ondas de Covid causadas pela variante delta.
As vendas no varejo subiram 2,5% em relação ao ano anterior, muito abaixo da estimativa de 7% em uma pesquisa da Bloomberg com economistas, pois consumidores cortaram os gastos durante as férias de verão.
Investimentos no setor de construção encolheram 3,2% nos oito primeiro meses do ano, reflexo das persistentes restrições do governo no mercado imobiliário como parte de uma campanha contra o risco financeiro.
A desaceleração do crescimento da China mostra como o avanço da variante delta do coronavírus desafia a recuperação econômica mundial do impacto da pandemia.
O desaquecimento no mercado de construção – que derrubou a produção de aço da China para o menor nível em 17 meses em agosto – afeta a economia global ao reduzir a demanda chinesa por commodities como minério de ferro.
“Os mercados até agora subestimaram significativamente a escala da desaceleração do crescimento no segundo semestre”, disse Lu Ting, economista-chefe para a China da Nomura, em Hong Kong. As autoridades manterão sua abordagem de “problemas de curto prazo para buscar ganhos de longo prazo” e devem seguir com medidas restritivas para o setor imobiliário.
A China impôs novas restrições às viagens para controlar um surto causado pela variante delta no final de julho. Com isso, as receitas de restaurantes e catering caíram 4,5% em agosto na comparação anual, após subirem 14,3% no mês anterior.
Embora a China tenha controlado o surto rapidamente, um novo foco de Covid no sul do país este mês indica que consumidores continuarão cautelosos.
O governo da China tem evitado injetar um amplo estímulo para apoiar a economia, com foco em programas direcionados para pequenas empresas e prometendo apoio fiscal por meio de títulos públicos locais. O Banco Popular da China (PBOC, na sigla em inglês) manteve sua abordagem para a política monetária na quarta-feira, com a rolagem de empréstimos de médio prazo que irão vencer, em vez de injetar mais liquidez.
Muitos economistas esperam que o banco central chinês corte a taxa de depósito compulsório para os bancos novamente nos próximos meses, após uma surpreendente redução em julho.
O Escritório Nacional de Estatísticas da China disse em comunicado que, embora a recuperação da economia tenha continuado em agosto, “o ambiente internacional é complexo e sombrio, e o impacto de surtos do vírus domésticos e desastres naturais, como inundações, na economia está aparecendo”. A recuperação econômica “ainda precisa ser solidificada”, disse.
Embora o consumo possa se recuperar em setembro, a “economia permanecerá sob uma ampla tendência de baixa nos próximos trimestres”, disse Larry Hu, chefe de economia da China na Macquarie Securities, em Hong Kong. “A política deve afrouxar na margem por meio da emissão mais rápida de títulos públicos e mais cotas de empréstimos, mas ainda é muito cedo para afrouxarem os controles sobre os imóveis e a dívida pública local.”