China desacelera com guerra comercial e preço da celulose perde US$ 300 em um ano
O setor de celulose convive com a indigesta guerra comercial China-Estados Unidos olhando a considerável depressão de preços. Mais ou menos no mesmo período de quase um ano de crise, a celulose branqueada de fibra curta saiu da base Xangai de US$ 750 para a média atual de US$ 450 a tonelada.
Como ninguém sabe onde isso vai parar, menos ainda o volume que vai acabar virando papel, os compradores internacionais se retraem e/ou transferem estoques para os portos, coincidindo, portanto, com uma tendência de baixa também no mercado doméstico brasileiro, avalia Carlos Farinha, vice-presidente da consultoria internacional Pöyry do Brasil.
A situação internacional explica a quedas das exportações em quase 4% no primeiro semestre, somando 10 milhões de toneladas. A China tem 42% disso, de acordo com dados setoriais.
O parque desse tipo de celulose é feito 90% dele – das 20 milhões/t anuais – voltado para o exterior, também tem uma base de preço cotada na região do Mar do Norte, entre US$ 500 e US$ 600, em retração igualmente. Naturalmente, com um share menor nas vendas brasileiras.
A Suzano (SUZB3), agigantada com a definitiva fusão da Fibria há poucos meses, em negócio que o mercado estima em mais de US$ 14 bilhões, é mais dependente do exterior. Comenta-se no mercado que a companhia paralisou uma linha produtora de 1 milhão/t justamente para não carregar capital enquanto os estoques não fluem mais.
A Klabin (KLBN11), mais na fibra longa, atende mais as papeleiras domésticas.
Integração
Mas o cenário, em um setor bastante cíclico, não é tão ruim sob a perspectiva de longo prazo. E o Brasil traz vantagens competitivas incomparáveis, dentre as quais a mais importante, custo de produção, acentua Manoel Neves, gerente de estudos econômicos da empresa finlandesa.
A integração com florestas próprias e arrendamentos com produção contratadas de longo prazo, que proporcionam custos médios de produção em torno das US$ 200/t, avalia o economista, deixam sempre as empresas brasileiras bem posicionadas. E a China, voltando mais positiva às compras – e demandando mais celulose para papéis sanitários (papéis para escrever etc tem crescimento menor) -, o fornecedor mais competitivo é o Brasil.
“A China possui duas ou três grandes fábricas, mas dependem do cavaco importado da África do Sul, Tailândia e Indonésia”, explica o VP da Pöyry, consultoria verticalizada em todos os processos e que já assessorou, em algumas fases, os projetos da Eldorado e Fibria, no Mato Grosso do Sul, e da Suzano, em Imperatriz do Maranhão.
O endividamento do setor também não preocupa a Pöyry. Enquanto o caso da Eldorado segue complicado, com as pendências entre os acionistas da família Batista (J&F Participações), a Suzano, com a incorporação da Fibria, é a que segue na ponta. Mas, na visão de Farinha e de Neves, da Pöyry, a geração de caixa das empresas (incluindo a Klabin) “é tão brutal” que nos níveis atuais a alavancagem é administrada com segurança.