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China derruba US$ 20 bilhões em valor de mercado da AB InBev; ações caem 11% na Europa

25 out 2019, 12:34 - atualizado em 25 out 2019, 12:34
China Bandeira
China monitora tombo das ações da maior cervejaria do mundo (Imagem: Reuters/Jason Lee)

A operação asiática separada pela Ambev (ABEV3) no mês passado, com a promessa de explorar o crescimento na China, agora prejudica o desempenho dos papéis da maior cervejaria do mundo.

As ações da AB InBev chegaram a cair 11% na Europa, eliminando mais de US$ 20 bilhões em valor de mercado, após o recuo nas vendas de cerveja na China e nos EUA abalar o crescimento do lucro no terceiro trimestre. A fabricante da Budweiser reduziu a projeção para o lucro anual, avisando na sexta-feira que espera ganhos “moderados” — e não “fortes”, como sinalizado anteriormente.

Os resultados refletem uma piora da confiança do consumidor asiático e talvez maiores problemas adiante. A economia da China se desacelerou para o menor ritmo desde a década de 1990.

O presidente Carlos Brito entregou lucro abaixo das estimativas dos analistas em quatro dos últimos oito trimestres. No ano passado, ele cortou o pagamento de dividendos pela metade, diante da lentidão na redução do endividamento após a aquisição da SABMiller, em 2016.

O relatório da AB InBev ressalta um padrão recente: na China, esfriou a demanda por bebidas como o Cognac, da Pernod Ricard, e por itens de consumo de massa, como os vendidos por Nestlé e Unilever.

Na Europa, papéis da empresa chegaram a desabar mais de 11% (Imagem: REUTERS/Benoit Tessier)

Enquanto isso, as gigantes da moda Hermes International, LVMH e Kering ainda observam forte crescimento no principal mercado de luxo do mundo. O lucro ajustado da cervejaria ficou estável — portanto aquém da projeção de analistas de alta de 3%.

“Prevíamos que este seria um trimestre difícil, mas acho que as pessoas estão reagindo a fatores adicionais”, disse Brito por telefone, referindo-se ao desempenho especialmente fraco no Brasil e Coreia do Sul.

Na China, novas restrições à venda de bebidas alcoólicas após 2 horas da madrugada prejudicam o setor. O crescimento do lucro da AB InBev naquele mercado recuou de 24% no segundo trimestre para 11%. No mês passado, a empresa levantou US$ 5,8 bilhões com a venda de uma participação na subsidiária asiática Budweiser Brewing Company APAC.

Segundo a AB InBev, as perspectivas na China continuam favoráveis porque as vendas de cervejas com preços mais altos, como a Corona, tiveram aumento superior a 10%. No país, a empresa domina esse segmento, bem mais lucrativo que o de marcas baratas.

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Principais marcas

A AB InBev lançou novos produtos, como a cerveja sem álcool Harbin 0.0 e a Harbin Crystal Ice, na tentativa de revigorar marcas locais. Em 2017, adquiriu a cervejaria artesanal Boxing Cat, com sede em Xangai.

“Nosso negócio na China permanece intacto”, disse o diretor financeiro Felipe Dutra, em conversa por telefone com jornalistas. “Tem crescimento lá.”

A análise da Bloomberg Intelligence:

“O colapso dos volumes da AB InBev mostra o risco inerente de seu modelo de negócios, focado em margens e preços mais altos, dando à concorrência chance de prosperar.”
— Duncan Fox, analista de consumo básico da BI

No ano passado, a Heineken comprou uma participação de US $ 3,1 bilhões na controladora da China Resources Beer Holdings, que produz a marca mais popular do país, a Snow. A Carlsberg também vai bem na China, onde sua receita aumentou 19% no primeiro semestre, apesar da retração do mercado como um todo.

No ano passado, a Heineken comprou uma participação de US $ 3,1 bilhões na controladora da China Resources Beer Holdings (Foto: Money Times)

Nos EUA, o surgimento de bebidas alcoólicas gasosas diminui o consumo de cerveja, então a empresa está se expandindo nesse segmento com marcas como Bon & Viv e Bud Light Seltzer.

No último trimestre, a cervejaria também foi afetada por custos mais altos de matérias-primas, cronograma de envio de mercadorias, efeitos cambiais adversos e queda de volumes na Coreia do Sul e no Brasil. A companhia reverteu aumentos de preços no país asiático, que haviam afastado consumidores. Os ganhos no Brasil caíram 17%.

Mais desafios

A AB InBev explicou o desafio das comparações no segundo semestre de 2019. No ano passado, a maior parte dos gastos com marketing se deu no primeiro semestre, devido à Copa do Mundo, e neste ano essas despesas estão mais espalhadas.

Suas ações são negociadas com desconto significativo em relação a outras líderes em bens de consumo — como Procter & Gamble, Coca-Cola e Diageo — e os resultados do terceiro trimestre justificam isso, afirmou Robert Ottenstein, analista da Evercore ISI, em nota.

Embora existam pontos positivos no balanço, “não são suficientes para compensar ventos contrários no Brasil, nos EUA e possivelmente continuando na China”, escreveu ele.