China: Conheça a iniciativa do gigante asiático para a segurança global
Na minha última coluna, falei sobre a iniciativa da China para o desenvolvimento global. Agora, irei falar em detalhes sobre um outro aspecto da visão global do governo chinês que orienta a política externa de Pequim.
Trata-se da questão da segurança, que a China chama de Iniciativa de Segurança Global, ou GSI (na sigla em inglês).
A abordagem é baseada na adaptação às profundas mudanças internacionais, abordando os riscos e desafios, tradicionais ou não, à segurança, com uma mentalidade de ganha-ganha.
As aplicações do GSI, segundo a China, incluem o histórico acordo entre o Irã e a Arábia Saudita, antagonistas de longa data e que contou com a intermediação de Pequim para restabelecer as relações diplomáticas; além dos 12 pontos apresentados pela China para uma resolução da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Porém, enquanto o primeiro é elogiado quase universalmente, o último permanece controverso, visto pelo menos pela Europa, como pró-Moscou.
Nas entrelinhas: Entenda o Iniciativa de Segurança Global da China
A China afirma que o GSI cria um novo caminho para a segurança, com a proposta de diálogo, em vez de confronto; parceria, em vez de aliança, e resultados ganha-ganha em jogos de soma zero. Nas entrelinhas, é um contraste implícito com a política externa de Washington. Esse é o significado geopolítico crescente e profundo.
O GSI, diz a China, é um bem público internacional, que reflete a crescente consciência de Pequim sobre o seu dever de ajudar a manter a paz no mundo e salvaguardar a segurança global.
Como exemplo mais lembrado, a China se diz comprometida em lidar com disputas territoriais de soberania e direitos e interesses marítimos através da negociação. Nas entrelinhas, alguns analistas estrangeiros dizem que Pequim prefere negociar essas questões controversas de forma bilateral, um a um, e não sob as regras multilaterais ou em fóruns multilaterais
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Como funciona o GSI na prática
Para se ter uma ideia de como o GSI funciona na prática, os seis compromissos do GSI:
- assegurar uma abordagem abrangente e sustentável de segurança
- respeitar a Carta da ONU, rejeitando a mentalidade de Guerra Fria
- tomar as preocupações de segurança de todos os países com seriedade
- arquitetar a segurança de eficaz e sustentável;
- resolver diferenças e disputas pacificamente e através do diálogo
- ampliar o conceito de segurança em domínios tradicionais e não tradicionais, como terrorismo, alterações climáticas, cibersegurança e biossegurança.
Entre os princípios desses seis compromissos, estão: respeitar a soberania e a integridade territorial de todos os países; defender a não interferência nos assuntos internos de terceiros; e respeitar as escolhas independentes de caminhos de desenvolvimento e sistemas sociais feitos pelo povo em diferentes países.
Para alguns analistas estrangeiros, o GSI é uma alternativa à ordem atual da política de assuntos internacionais, “baseada em regras” lideradas pelos Estados Unidos e seus parceiros na Europa e no Pacífico.
Porém, como a China é o segundo maior contribuinte para o orçamento regular da Organização das Nações Unidas (ONU) e pela manutenção da paz mundial, o GSI adota o conceito de “segurança indivisível”, o que, para a China, significa “tomar a segurança uma legítima preocupação de todos os países”.
Embora muitos elementos do GSI não sejam novos, a iniciativa forma um conjunto coerente e emerge como a grande visão da China de uma nova ordem mundial para a governança global, o que, com o tempo, melhoraria a capacidade da China influenciar o mundo e diminuir a influência dos EUA.
Portanto, combinadas, as três iniciativas globais da China, envolvendo desenvolvimento, segurança e civilização, são de agora em diante a principal forma de envolvimento do país com o mundo, moldando, talvez, a governança global.
GSI da China: e o Brasil?
Eu poderia escrever vários comentários sobre cada uma dessas três iniciativas e, especificamente, sobre cada um dos seis aspectos em torno da segurança global. Mas pode dizer que, certamente, a China considera o Brics, agora em expansão, como um elemento essencial da sua estratégia, tanto do GDI quanto do GSI.
A China também reconhece a crescente importância do Brasil e seu papel especial no Brics. Como único membro do Brics no Ocidente e como o maior país da América Latina, o Brasil é especialmente importante para a China.
Da perspectiva chinesa, cada país tem seus problemas, mas a China está empenhada em cumprir o seu papel como um grande país responsável no mundo, pressionando para resolver problemas internacionais e de focos regionais.