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China: bitcoin despenca por conta da fiscalização

26 nov 2019, 17:10 - atualizado em 31 maio 2020, 12:27
Preferência do governo chinês pelo blockchain, não pelo bitcoin, gera incertezas sobre a regulação das corretoras (Imagem: NewsBTC)

O anúncio do Banco Central da China gerou calafrios nos mercados de criptoativos, sugerindo que os investidores otimistas tiveram reações exageradas ao pronunciamento recente do presidente Xi, encorajando o desenvolvimento de blockchain.

A declaração, emitida pelo escritório em Shanghai do Banco do Povo da China no dia 22 de novembro, renova o comprometimento do país com a proibição total da negociação de criptoativos, decretada em 2017.

Desde a sua publicação, muitas empresas de criptoativos dizem ter sido visitadas por reguladores e agentes do poder público, incluindo os escritórios da Binance e Bithumb em Pequim.

Enquanto isso, o bitcoin despencou para seu menor preço em seis meses por conta de investidores que saíram correndo para vendê-lo no meio de tanta incerteza.

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Blockchain, sim; bitcoin, não: o que esperar para o futuro das regulações a respeito de criptoativos na China? (Imagem: Pixabay)

Descarte imediato

Em outubro, o discurso do presidente Xi promovendo o blockchain gerou um frenesi de desenvolvimento, com empresas chinesas como Alibaba e Tencent gerando um novo impulso à adesão.

No entanto, o bitcoin não foi mencionado, e as autoridades deixaram claro que sua prioridade é blockchain, não o bitcoin.

De acordo com a declaração, o Banco do Povo da China pretende limitar o entusiasmo pela negociação de criptoativos por meio da “monitoração contínua de atividades de comércio de criptoativos na China” e execução das políticas destacadas na proibição de 2017.

Dizem que os principais alvos dessa execução são empresas que fornecem serviços de negociação de criptoativos na China, empresas que fornecem canais de negociação internacional de criptoativos e vendas de tokens para acúmulo de capital em bitcoin e ether.

“Quando [atividade de comércio de criptoativos] for descoberta, vai ser descartada imediatamente”, de acordo com uma tradução direta da declaração do Banco do Povo da China. “Investidores devem tomar cuidado e não confundir o interesse da China na tecnologia de blockchain com os criptoativos.”

A ênfase da declaração de prevenir possível “confusão” entre blockchain e criptoativos sugere que as autoridades estão interessadas em encorajar o desenvolvimento de ferramentas privadas baseadas em blockchain que podem levar a um maior controle e vigilância pelo país.

Apesar da possibilidade de a execução da proibição ser direcionada para a proteção de investidores varejistas dos perigos como “falso risco de ativos” e “risco de falência de negócios”, é provável que seja por motivações políticas.

Com a aproximação do lançamento do yuan digital e com a continuidade das guerras de negociação entre EUA e China, a limitação da fuga de capitais e reforço do controle sobre o mercado de yuan internacional estão se tornando muito importante do que nunca para o regime.

Após o anúncio, agências de execução tiveram que mapear as empresas sob sua jurisdição e enviar uma lista de possíveis transgressores. Isso gerou a catálise de uma série de visitas, em que reguladores e agências de execução identificaram empresas em diferentes cidades chinesas, incluindo Shanghai, Pequim e Shenzhen.

Os escritórios da Binance e da Bithumb em Pequim devem ter sido as primeiras a receberem visitas das autoridades chinesas, mas ambas as corretoras negaram.

O CEO da Binance, Changpeng Zhao, negou a existência de um escritório em Shanghai, apesar de vários anúncios de vagas na cidade. Em vez disso, ele elogiou as ações da China em “fazer a varredura de golpistas e fraudadores na indústria”.

Bithumb também negou as alegações da mídia chinesa de que seus funcionários foram aconselhados em tirar longas férias após uma visita da polícia ao escritório em Shanghai no dia 21 de novembro.

Em outro lugar, a BISS, corretora de criptoativos também em Pequim, foi fechada e mais de dez pessoas foram presas, seguindo de um inquérito relacionado a regulações de controle de capital.

Shenzhen, conhecida como um polo de desenvolvimento de blockchain, a ação policial identificou um total de 39 “empresas ilegais de criptoativos” que dizem ter sido responsáveis por fraudar consumidores rotineiros.

O preço do bitcoin despencou: é o início de um novo mercado de baixa? (Imagem: REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração)

Uma mudança de humor?

Já que os agentes de execução visitaram empresas de criptoativos em cidades chinesas, o preço do bitcoin despencou para a maior baixa do semestre.

Agora o bitcoin está em um mercado de baixa? O economista Alex Kruger e o veterano de Wall Street Peter Brandt previram baixos preços.

Kruger sugeriu que o futuro evento de halving (redução pela metade — que é geralmente considerado algo otimista — vai falhar em gerar maiores preços.

Brandt compartilhou do mesmo sentimento ao dizer que o bitcoin poderia finalmente atingir o colapso do mercado de baixa em julho de 2020, dois meses após o halving.

Mas enquanto alguns negociadores se remoem em negatividade, outros observaram um paralelo impressionante entre o mercado de alta de 2017, quando o preço do bitcoin despencou em mais de 15% por conta das notícias da proibição na China, levando-o a novas altas.

Enquanto o futuro dos mercados é incerto, está claro que a China ainda tem a capacidade de gerar movimentações de preço enormes simplesmente ao promover blockchain ou aconselhar contra a negociação de criptoativos.