China ainda tenta evitar ‘momento Lehman Brothers’, um ano após colapso da Evergrande
As ações de incorporadoras chinesas voltaram a ser destaque nas bolsas asiáticas nesta semana, em meio ao crescente apoio financeiro do governo para resgatar o problemático setor imobiliário. Os investidores alimentam esperança de que a China conseguirá evitar um “evento Lehman Brothers“ tal qual em 2008, que deu início a primeira crise global deste século.
Tudo começou com a Evergrande há cerca de um ano. O colapso da endividada incorporadora foi desencadeado por regras mais rígidas de limite de dívida, levando grandes empresas do setor a deixarem de honrar seus pagamentos junto aos credores.
Porém, a situação continua delicada até os dias de hoje, com reflexos na atividade econômica. “Os riscos do setor já emergiram à economia e a questão é se o governo chinês conseguirá parar, ou pelo menos mitigar, a pressão”, observa a economista-chefe para Ásia-Pacífico do Natixis, Alicia Garcia Herrero.
Para ela, já há uma contaminação da piora nos fluxos de caixa das incorporadoras para o setor financeiro. “É isso o que está por trás do boicote hipotecário, com consequências para os bancos”, explica, em relatório.
Pequim em ação
Por isso, a prevenção dos riscos de contágio para outros setores é fundamental. E é aí que entra em cena o governo chinês.
“Pequim precisa atuar com uma abordagem mais centralizada e políticas focadas no atual excesso de oferta”, comenta o estrategista sênior do Rabobank, Teeuwe Mevissen, também em relatório.
Segundo ele, o governo chinês terá de fornecer garantias para certos empréstimos a projetos imobiliários que tenham algum valor. Há também garantias estatais através de novos títulos emitidos pelas incorporadoras para que continuem tendo acesso ao crédito.
“Além disso, o governo provavelmente terá de assumir hipotecas que nunca serão pagas, o que basicamente significa criar um ‘banco podre’”, acrescenta Mevissen.
Vendas e preços em queda
Ou seja, o governo chinês está atuando no setor imobiliário para evitar uma crise de crédito. Mas a realidade é que não se espera uma recuperação significativa nos preços e vendas dos imóveis.
Ao contrário, os preços dos imóveis na China ficaram estagnados em agosto deste ano, após várias cidades estabelecerem limites às incorporadoras sobre aumento ou cortes nos preços.
Além disso, desde o boicote das hipotecas, as vendas de imóveis caíram para 60% do nível pré-pandemia.
O fato é que o governo está cauteloso com grandes cortes de preços. Afinal, Pequim não quer que os preços mais baratos dos imóveis provoquem novos protestos de compradores mais antigos.
Em suma, o caminho atual não levará ao tão necessário retorno da confiança no mercado imobiliário da China.
“Quanto mais tempo demorar para chegar a um grande plano para lidar efetivamente com a crescente crise imobiliária, mais provável será que a China tenha de lidar com um ‘pouso forçado’ da economia”, conclui Alicia, da Natixis.
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