China aposta todas as fichas em blockchain
Xi Jinping, presidente chinês, disse que a China deve se esforçar bastante para desenvolver e aplicar tecnologias de blockchain e obter “vantagem sobre os outros países”.
Esse anúncio vem um dia após a audiência de Mark Zuckerberg no Congresso americano em defesa à Libra. Zuckerberg argumentou que “a China está se apressando para lançar uma ideia parecida nos próximos meses. Não podemos ficar parados e achar que os Estados Unidos vai continuar sendo sempre o líder se não inovarmos”.
Enquanto políticos norte-americanos estão divididos sobre qual seria a melhor maneira de lidar com a revolução das moedas digitais, China parece pronta para impulsionar e alavancar a oportunidade de garantir a posição de liderança na emergente corrida global de blockchain.
O argumento do presidente chinês de aproveitar a “oportunidade do blockchain” parece que irá colocar o país entre num frenesi de desenvolvimento.
Investimentos estão sendo feitos, iniciativas estratégicas estão sendo postas em prática e leis propostas demonstram o comprometimento do país com a tecnologia.
O discurso da semana passada descreveu o blockchain como “um importante avanço” e anunciou guias e regulação para aplicações que vão desde empresas financeiras a gestão de cadeias de fornecimento.
Em um país com tantas regras hierárquicas, essas palavras carregam peso significativo e já estão pavimentando o desenvolvimento urgente de blockchains.
Pilar estratégico
Analistas da Maple Capital, empresa de investimentos nova-iorquina, sugere que agora, após o pronunciamento do presidente, vai ser “suicídio político para qualquer estudioso ou autoridade governamental” que seja contra ao blockchain, porque é provável que um “pilar estratégico” do desenvolvimento da China seja mantido no futuro próximo.
O sentimento se refletiu no mercado: tanto o bitcoin como as ações relacionadas ao blockchain cresceram quando empresas, universidades e órgãos governamentais sinalizaram sua intenção de investimento de capital na tecnologia.
A administração ciberespacial da China informou que mais de 500 projetos já estão em desenvolvimento, incluindo financiamento de negociações, gestão de ativos, pagamentos intercontinentais e financiamento de cadeias de fornecimento. A maior parte desses projetos estão sendo comandados por Baidu, TenCent e Alibaba.
O governo local chinês também possui “enormes iniciativas em blockchain” a caminho, de acordo a chinesa com Dovey Van, da Primitive Ventures. Além disso, algumas das maiores universidades do país já começaram a desenvolver cursos voltados para blockchain.
Um conselheiro político da província de Sichuan disse que a mineração de bitcoin, antes sob ameaça de proibição no país, agora será bem-vinda na região.
Ainda mais significativa é a dedicação dos bancos chineses. Dizem que o Banco Comercial da China investiu na BitPie, plataforma de carteiras de criptomoedas, que deve “o histórico mais longo e a maior quantidade de usuários na China”. Além dele, o ICBC, o Banco Industrial e Comercial da China lançou uma carteira de moedas digitais.
Alguns comentaristas são controversos sobre quais são os objetivos desses esforços.
“Tudo o que posso dizer é que, para mim, esse é um sinal do início da nacionalização da infraestrutura relacionada aos bitcoins/criptoativos”, afirmou Wan, e acrescentando que “futuramente, tudo será propriedade governamental, ou pelo menos parcialmente”.
Su Zhu, CEO da Three Arrows Capital, empresa de investimentos de Cingapura, apresenta um ponto de vista mais distópico. Ele sugere que a tecnologia criptografada que sustenta as criptomoedas pode levar a uma visão mais original de Mao Tse-Tung: “comunismo com características digitais”.
Uma certa aplicação suspeita baseada em blockchain já surgiu.
De acordo com uma postagem do último sábado, 26, a Lingzhu Technologies, empresa de blockchain localizada em Pequim, desenvolveu uma aplicação descentralizada (dapp) chamado “Original Intentions Onchain” (Intenções Originais “On-Chain”, em tradução literal) que permite aos membros do Partido Comunista anunciarem sua lealdade legítima ao partido em um blockchain público e imutável.
A frase “intenções originais” data de um discurso do presidente em uma reunião do partido em 2017, quando o termo foi indispensável em uma campanha para que membros permanecessem filiados ao partido.
Lei de Criptografia
Em outro lugar, o projeto do yuan digital da China, que planeja expandir a influência do banco central sobre a economia doméstica e internacional, está prestes a render frutos.
Apenas um dia após o discurso do presidente, o Congresso Nacional do Povo da China aprovou uma lei de criptografia que vai entrar em vigor no dia 1º de janeiro de 2020.
Isso almeja a criação de um sistema regulatório padronizado, o encorajamento no desenvolvimento de “tecnologias criptográficas comerciais” e o aumento no controle sobre a tecnologia de criptografia por meio de uma agência estatal: a Secretaria de Administração de Criptografia do Estado Chinês.
Em conjunto com outros projetos de blockchain, é provável que a lei sirva de base legal para o lançamento do yuan digital.
Quando a moeda digital for lançada — o que pode ser mais cedo ou mais tarde dada a rapidez com que o país está avançando —, vai teoricamente restaurar o controle sobre o yuan ao Banco do Povo da China, tirando o poder de plataformas sem dinheiro como AliPay e WeChat, com atual dominância dos pagamentos.
Também é possível que, em âmbito internacional, a China tente alavancar a moeda digital para enfraquecer o dólar como moeda de reserva global.