Internacional

Chicago Boys em xeque: Pensões de livre mercado no Chile podem ser desmontados

11 maio 2021, 14:16 - atualizado em 11 maio 2021, 14:16
Chile
Muitos parlamentares do Chile agora pedem que todo o sistema seja desmontado (Imagem: Bloomberg)

Antes considerados um modelo para o mundo, os fundos de pensão privados do Chile enfrentam uma batalha pela sobrevivência com o impacto de bilhões de dólares em saques e constantes críticas de políticos e movimentos sociais.

Os chilenos sacaram mais de US$ 30 bilhões de suas economias para a aposentadoria no ano passado, e o Congresso autorizou uma terceira rodada de saques que pode elevar a marca para mais de US$ 50 bilhões. Isso deixaria os fundos de pensão com cerca de US$ 180 bilhões em ações e ativos de renda fixa. Muitos parlamentares agora pedem que todo o sistema seja desmontado.

“Não tenho certeza de que seja o fim do sistema AFP, mas acho que está claro que essa rodada de saques mudará as coisas”, disse Mario Castro, estrategista de renda fixa do BBVA, em Nova York. “Claramente teremos reformas no sistema de pensões, que provavelmente incluirão um papel significativo para o governo.”

Concebidas durante a ditadura de Augusto Pinochet com o assessoramento de economistas do livre mercado conhecidos como Chicago Boys, as pensões privadas que os chilenos devem financiar são a base do sistema do país. As economias geradas nas últimas quatro décadas deram aos mercados de crédito locais e ao peso uma estabilidade que causa inveja a inadimplentes em série, como Argentina ou Equador, e levou países como Peru e Colômbia a adotarem estruturas semelhantes. No entanto, muitos reclamam que os fundos não conseguiram fornecer pensões adequadas.

As economias geradas nas últimas quatro décadas deram aos mercados de crédito locais e ao peso uma estabilidade que causa inveja a inadimplentes em série, como Argentina ou Equador (Imagem: Unsplash/@amenabarladrondeguevara)

A desconfiança no sistema e a necessidade financeira fizeram com que os chilenos corressem para sacar de suas contas de poupança, pois a pandemia obrigou o governo a fechar grande parte da economia.

A quase rebelião contra a tradicional instituição do Chile é parte de uma onda de convulsão social que varreu a América Latina nos meses após a chegada do coronavírus, que atingiu a região com mais força do que qualquer outra parte do mundo.

Manifestantes na Colômbia protestaram contra o amplo aumento de impostos para a classe média, com confrontos violentos que resultaram na renúncia do Ministro da Fazenda. No Peru, o candidato que lidera as pesquisas para o segundo turno das eleições presidenciais marcado para junho é marxista. No Brasil, a resposta desarticulada à pandemia do governo Jair Bolsonaro gerou protestos.