Chefe de direitos humanos da ONU pede fim de “racismo sistêmico”
O racismo contra pessoas de ascendência africana continua sistêmico em muitas partes do mundo, disse a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos nesta segunda-feira, pedindo que os Estados desmantelem a discriminação e processem autoridades de cumprimento da lei por mortes ilegais.
Em um relatório global desencadeado pelo assassinato de George Floyd, cometido por um policial branco na cidade norte-americana de Mineápolis em maio de 2020, Michelle Bachelet disse que o uso policial da identificação racial e da força excessiva está enraizado em grande parte da América do Norte, da Europa e da América Latina.
O racismo estrutural cria barreiras para o acesso de minorias a empregos, serviços de saúde, moradia, educação e justiça, disse ela.
“Estou pedindo a todos os Estados que parem de negar, e comecem a desmantelar, o racismo; que acabem com a impunidade e construam confiança; que ouçam as vozes das pessoas de ascendência africana; e que confrontem legados passados e ofereçam retificações”, disse ela no relatório ao Conselho de Direitos Humanos.
Bachelet saudou uma “iniciativa promissora” do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que em janeiro assinou um decreto para tratar da desigualdade racial em seu país.
Seu relatório citou 190 mortes de africanos e pessoas de ascendência africana em todo o mundo por parte de agentes de cumprimento da lei na última década – a maioria nos EUA.
“Com exceção do caso de George Floyd, ninguém foi responsabilizado”, disse Mona Rishmawi, chefe da seção de Estado de Direito que comandou o relatório, em uma coletiva de imprensa.
Este selecionou sete “casos emblemáticos”, inclusive o de Floyd. Na sexta-feira, um juiz condenou o ex-policial Derek Chauvin a 22,5 anos de prisão pelo assassinato, cuja filmagem mobilizou o movimento Black Lives Matter.
Outras vítimas incluem um menino afro-brasileiro de 14 anos morto a tiros durante uma operação da polícia antidrogas de São Paulo em maio de 2020 e um francês de origem malinesa de 24 anos que morreu sob custódia policial em julho de 2016.
“Uma mãe (brasileira) em particular nos disse ‘vocês sempre falam de George Floyd. Todos os dias temos um George Floyd aqui e ninguém fala disso'”, contou Rishmawi. “Percebemos que estávamos só tocando a ponta do iceberg.”