Política

Chapa Lula-Alckmin: ‘Tucano de carreira que deu uma carreira dos tucanos’, diz Lavareda

22 mar 2022, 14:49 - atualizado em 23 mar 2022, 8:51
Alckmin
O ex-governador Geraldo Alckmin foi filiado ao PSDB por mais de 30 anos (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

O ex-governador Geraldo Alckmin se filiará oficialmente ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) nesta quarta-feira (23), às 10h30, em uma cerimônia na sede da Fundação João Mangabeira, em Brasília.

O evento contará com a presença do presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, do presidente da Fundação João Mangabeira, Márcio França, dos governadores Flávio Dino, Paulo Câmara, Renato Casagrande e João Azevedo, além de outras lideranças do partido.

A ida de Alckmin ao PSB coloca oficialmente um ponto final na trajetória de mais de 30 anos no PSDB, partido pelo qual governou o Estado mais rico do país por quatro mandatos.

Quando anunciou a sua desfiliação em dezembro, o ex-governador afirmou que havia chegado a “hora da despedida” e de “traçar um novo caminho”.

Ainda que o ex-tucano tenha anunciado a sua saída da legenda há três meses, Alckmin estava sem partido desde então. O PSD de Gilberto Kassab era uma das possibilidades que acabaram não se concretizando.

A filiação ao partido que foi o de Eduardo Campos também é uma sinalização clara do que deve ser anunciado ainda em abril: uma aliança com o ex-presidente Lula (PT) nas eleições deste ano, assumindo a posição de vice na chapa do petista.

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O inimigo do meu inimigo

Alckmin e Lula disputaram a eleição presidencial de 2006 (Imagem: REUTERS/Sergio Moraes)

O anúncio oficial da ida ao PSB veio na última sexta-feira (18) por meio das suas redes sociais. Alckmin declarou na ocasião que o trabalho “para ajudar a construir um país mais justo e pronto para o enfrentamento dos desafios que estão postos estava só começando”.

A ideia de uma chapa composta por dois antagonistas na política começou a ser ventilada no final do ano passado. O primeiro encontro público dos dois aconteceu durante um jantar na capital paulista aberto à imprensa pouco antes do Natal.

O evento foi organizado pelo Grupo Prerrogativas e contou com a presença de figuras como Renan Calheiros (MDB), Rodrigo Maia (PSDB), Baleia Rossi (MDB), Gilberto Kassab (PSD), Randolfe Rodrigues (Rede) e outros.

Desde então, Lula já falou algumas vezes sobre Alckmin como um possível companheiro de chapa, sempre tecendo elogios ao ex-tucano e dizendo confiar nele, ainda que historicamente PT e PSDB sejam partidos que fazem oposição um ao outro.

Para Antonio Lavareda, sociólogo e cientista político, a ida de Alckmin ao PSB é uma “carreira nos tucanos”, uma  possível resposta às recentes decisões do PSDB, que ele avalia estar “em rota de declínio”.

“Eu acho que o PSDB fez escolhas que, provavelmente, no entendimento do ex-governador o alijaram na disputa eleitoral] deste ano. Supõe-se que ele imaginava que seria o nome escolhido pelo partido para disputar a eleição de São Paulo, na condição de ser ex-governador e de liderar as pesquisas”, diz.

O partido, no entanto, deve ter outro nome na disputa por São Paulo — Rodrigo Garcia, hoje vice-governador do Estado. Eleito filiado ao Democratas (DEM) na chapa de João Doria, Garcia se filiou ao PSDB em maio do ano passado.

Nas pesquisas de intenção de voto, ele fica atrás de nomes como Fernando Haddad PT), Márcio França (PSB) e Tarcísio de Freitas (sem partido).

Bolsonaro como alvo

Lula e Alckmin nunca foram aliados ou ao menos rivais que demonstravam cordialidade política publicamente, como é o caso da relação que o petista tem com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, figura mais importante do PSDB.

Lula já citou o que seria a “pequenez política” do ex-governador, além de tê-lo chamado de “picolé de chuchu” e “insosso”. Já chegou também a acusar o governo paulista, na época sob a gestão de Alckmin, de ter ligação com facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC).

Isso sem contar os atritos entre as legendas e seus parlamentares, algo que transcende a figura de ambos.

A aliança seria um aceno ao centro político, indicando o que pode vir a ser uma maior moderação por parte do ex-presidente, tanto no seu discurso na corrida eleitoral, como em um possível terceiro governo.

Lavareda pontua que o papel do vice é, historicamente, de complementariedade. São raros os casos em que uma chapa Bolsonaro-Mourão é composta. É essa função que Alckmin passa a cumprir se a aliança for oficializada.

“Os vices são escolhidos basicamente em função da complementariedade de características e atributos do candidato à presidência. Essa complementariedade pode ser regional, de gênero, pode ser de idade, em alguns lugares pode ser étnico, como por exemplo é o caso de Joe Biden e Kamala Harris. A  complementariedade básica que Alckmin traz para a chapa é de porte ideológico, já que Geraldo Alckmin é sabidamente um político de centro-direita. No Brasil, a centro-direita gosta de se chamar de centro, mas é centro-direita. Essa complementariedade, para Lula, tem uma função”.

A disputa com Jair Bolsonaro (PL) promete ser uma eleição bastante concorrida, mas Lavareda lembra que há 16 anos, foram Lula e Alckmin que protagonizaram a campanha que ele chama de “a mais polarizada eleitoralmente da história da Nova República”.

Na ocasião, o ex-presidente teve 58 milhões de votos no segundo turno, contra 37,5 milhões de votos do ex-governador de São Paulo. Lavareda lembra ainda que com exceção de FHC, Alckmin foi o tucano que mais conquistou votos em eleições presidenciais, estando à frente de figuras como José Serra e Aécio Neves.

“Somando as votações dos dois em 2006, ultrapassaram 90% dos votos válidos. Tem um forte fator simbólico, que é mais ou menos a narrativa de Lula, que é: ‘Se fomos capazes de nos juntarmos, é porque o Brasil enfrenta um risco bastante grande, que é o autoritarismo protagonizado pelo presidente Bolsonaro’. É essa narrativa que o Alckmin vem alimentar”.