Chamariz de gringo: JPMorgan vê Brasil como ‘miss universo entre emergentes’
Emy Shayo Cherman, estrategista de ações do JPMorgan & Chase para o Brasil e a América Latina, não escondeu o seu otimismo com o atual momento do mercado brasileiro.
“Hoje, vim falar bem do Brasil (…) O Brasil é meio que uma miss universo entre os emergentes”, assim começou a fala de Shayo no 18° Seminário Internacional da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), realizado nesta quinta-feira (23).
O evento também contou com a participação do ex-diretor e o ex-presidente do Banco Central, Alexandre Schwartsman e Ilan Goldfajn.
Segundo a representante do maior banco de ativos dos Estados Unidos, o Brasil está em uma posição privilegiada ante concorrentes emergentes.
Enquanto Turquia e Argentina passam por crises de hiperinflação, a China enfrenta, ao mesmo tempo, os efeitos da desaceleração doméstica e um aumento de percepção de risco geopolítico. A Índia, por sua vez, é um mercado que já se tornou “caro” para novos aportes estrangeiros.
Em compensação, o ciclo de corte de juros, bem como a presença de uma bolsa ainda muito descontada, fazem do Brasil um destino em potencial.
A posição como mercado “proxy” da China — isto é, que tem relações com o país asiático, mas está isento dos riscos geopolíticos embutidos a ele — também acaba trazendo destaque para o Brasil.
“Qualquer um de nós que viaja lá fora e fala com diferentes gestores do mundo, existe sempre um interesse em Brasil. E vemos que a posição dos investidores estrangeiros aqui é geralmente overweight [compra]”, comenta a estrategista do JP.
O modelo de análise do banco mostra que a exposição adicional dos investidores internacionais no mercado brasileiro é 2% maior do que a posição neutra do Brasil dentro do índice “MSCI Emerging Markets”.
Normalização dos juros nos Estados Unidos é bom negócio para mercados emergentes
Além de uma conjuntura mais atraente do que seus concorrentes diretos, Shayo destaca a normalização dos juros nos Estados Unidos como um fator de impulso para os mercados emergentes.
Na visão trazida pela estrategista, a década de juros reais quase nulos, e por vezes negativos, nos Estados Unidos levou o país a “sugar a liquidez do mundo inteiro”. Esse processo ainda está ocorrendo, mas agora não mais sob o ponto de vista da renda variável, mas sim da renda fixa, beneficiada pela elevação das taxas básicas de juros.
“Hoje, os mercados emergentes são cerca de 6% do fluxo total de investimentos, quando a posição neutr deveria ser cerca de 11%”, explica a especialista em mercados.
Mas o JPMorgan & Chase enxerga um potencial ponto de virada nesta dinâmica, tão logo o BC norte-americano começar o ciclo de afrouxamento monetário, em direção a uma normalização dos juros.
Essa normalização, salienta a especialista, não ocorreria tendo por alvo a era recente do “juro zero”, mas sim algo próximo à média histórica de 4% (1956-2007). “Para pensar em uma normalização dos juros nos Estados Unidos, talvez a gente tenha que olhar para duas décadas atrás”, diz Shayo.
Nesse contexto, passa-se a criar condições para diversificar os fluxos concentrados nos Estados Unidos em direção a outros mercados.
Para 2024, o JPMorgan projeta apenas dois cortes na taxa base americana, ambos de 0,5 ponto percentual.
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O calcanhar de Aquiles do Brasil
Se as condições externas devem se apresentar mais favoráveis para o investimento estrangeiro no Brasil, o local continua sendo uma pedra no sapato.
“Não tem como dourar a pílula. Temos um dos piores fiscais do mundo e uma das piores dívidas públicas do mundo”, diz a estrategista, ao elencar os motivos pelos quais o cenário doméstico pode afastar o aporte de mais capital estrangeiro.
A estrategista do JPMorgan atenta que, diferentemente da primeira década de 2000, a falta de crescimento econômico robusto aumenta o peso da elevação de despesas na avaliação dos investidores estrangeiros. “A Índia também possui uma dívida péssima, mas ninguém liga. Por quê? Porque a Índia cresce muito.”
Por fim, a especialista do JPMorgan acredita que falta ao Brasil apostar em um “tema” de investimento, como o caso do nearshoring no México (posição de vantagem da economia do México devido à proximidade econômica e geográfica com o mercado consumidor norte-americano), que, embora insipiente, já está “fazendo o investidor sonhar”.
“O Brasil tem muitas potencialidades, posições de liderança no agronegócio e muito potencial na transição energética, mas a gente não está sabendo empacotar isso de maneira eficiente. Ao contrário do início desse século, quando o boom das commodities se transformou em uma melhora da classe média, que foi vendida ao mundo como uma tese atraente de investimento”, completa.