Colunista Empiricus

Chama o Max: Sem pressão, as coisas fluem

23 abr 2021, 13:55 - atualizado em 23 abr 2021, 18:04
“O mercado está longe de ser perfeito”, diz analista

Os mais experientes no mercado sabem que a vida de investidor não é fácil. Altos e baixos são frequentes. Lidar com essa montanha-russa é um desafio diário. Mas, no final das contas, sabemos que para ter sucesso no longo prazo o importante é acertar mais do que errar.

Todo investidor bem-sucedido já passou por situações que o abalaram profundamente e o fizeram questionar sua estratégia, suas habilidades e se realmente ele tem estômago para aguentar tamanha pressão.

Geralmente isso acontece depois que algo em que você realmente acredita te decepciona.

Como exemplo do que estou falando, podemos citar a intervenção política na Petrobras recentemente, que foi algo que me jogou para baixo de forma significativa, me deixando atônito por alguns dias.

Vi a Petro evoluir tão bem durante os últimos dois anos, mostrando melhora operacional, resgate da governança corporativa e recuperação da saúde financeira, o que me fez parar e pensar: por que fazer isso neste momento? Não veem que o time está ganhando? Será que não sabem que quando se está ganhando, não é hora de mudar?

O mercado está longe de ser perfeito. Ele te surpreende negativamente também. Mas não se preocupe, você não está sozinho. Acontece com todos os investidores e analistas, dos mais novatos aos mais calejados.

Um dia ouvi de um amigo gestor uma comparação interessante: suas posições em ações são como relacionamentos amorosos – quando há uma relação sufocante e muita pressão, você acaba se desequilibrando e perdendo o que mais aprecia.

Não adianta impor uma pressão porque você deseja que algo ou alguém seja como você sonha, em vez de deixar que eles sejam quem eles realmente são.

Sejam pessoas, sejam ações, dê-lhes algum espaço para respirar. Entenda esta ideia de pressão no mercado de ações como um portfólio concentrado em poucos ativos.

Quanto menos posições você tem em carteira, mais você vai pensar que está sob controle, quando na realidade você não estará com as rédeas da situação. Em um portfólio com poucas ações, você não tem espaço para erros.

Se você está acostumado a ter poucas apostas em seu portfólio, tente aumentar suas chances de ganhar adicionando mais posições. Isso também vai permitir que você respire e que suas posições tenham fôlego ao longo do caminho.

“Com uma carteira mais diversificada, você não olhará para as posições “precisando de uma vitória” a qualquer custo”, aconselha Max Bohm (Imagem: Unsplash/@mayofi)

Às vezes, a ganância e o imediatismo fazem você concentrar em uma, duas ou três apostas, nas quais você esteja superconfiante. Vi isso acontecer com vários investidores no IPO da Mosaico (MOSI3).

Com uma performance espetacular no primeiro dia de pregão pós-IPO, investidores se empolgaram com a companhia e aumentaram consideravelmente sua exposição à ação, dando a ela um peso que talvez não lhe coubesse naquele momento.

A cobrança foi grande e Mosaico não entregou o que se esperava dela no curto prazo. Agora deixe MOSI3 respirar que, no médio prazo, sem pressão, ela vai atender às expectativas, mostrando números melhores.

De forma análoga, vi isso acontecer com as ações da Metalúrgica Gerdau (GOAU4). Por dois anos, a ação ficou lateralizada, com investidores cobrando melhora de resultados da companhia.

Quando se reduziu a pressão, a companhia respirou, fez o dever de casa e os seus números evidenciaram cada vez mais consistência. A ascensão da ação foi meteórica. Dois anos parada no patamar de R$ 6,00 e em um ano e meio voou para R$ 15,00 — 150% de valorização. Sem pressão, as coisas fluem.

Alguns investidores iniciantes me questionam: “Max, compro esta ou aquela ação?”.

Uma das maiores belezas da Bolsa é que você pode comprar o que quiser e quanto quiser. Se você tem R$ 5.000 para investir, por que não colocar R$ 2.500 em cada uma? Por que escolher, se você pode ter as duas? Por que dar um peso a uma ação quando este pode ser diluído em mais opções?

Uma das razões do sucesso da seleção brasileira de futebol, campeã do mundo em 2002, foi que a pressão não estava em um só jogador. Aquele time não tinha somente Ronaldo como protagonista. Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho tiraram o peso do Fenômeno, fazendo com ele pudesse desempenhar o seu melhor futebol.

Quando diluímos a pressão, o resultado vem. A diversificação em uma carteira de ações não é somente importante para o sucesso, é extremamente necessária. Em um portfólio concentrado em poucas ações, qualquer derrapada pode gerar uma perda total no seu carro.

Com uma carteira mais diversificada, você não olhará para as posições “precisando de uma vitória” a qualquer custo.

Quanto mais eu vivo intensamente o mercado de ações, mais eu percebo que investir é um jogo mental, em que o equilíbrio é fundamental. Alivie a pressão em suas posições e deixe as coisas fluírem naturalmente. Os resultados positivos chegam mais cedo ou mais tarde.