Chama o Max: Invista no mal compreendido
No fim de outubro, na coluna nomeada “Resgatem o orgulho nacional”, escrevi as seguintes palavras:
“O que será que já está no preço? Será que não estamos vendo uma clara oportunidade de longo prazo aí?”
“No patamar atual, me parece que se trata de um caso assimétrico, em que há pouco a perder e muito a ganhar no longo prazo.”
Para quem não lembra, o orgulho nacional em questão era a Embraer (EMBR3), cuja ação naquele momento estava no limbo, sendo negociada próximo a R$ 6,00, com valor de mercado que representava 30% do seu patrimônio líquido — um claro sinal do quanto a empresa estava “largada”.
Pois bem. Cortamos para 14 de janeiro de 2021. Na minha tela, neste momento, vejo EMBR3 sendo negociada a R$ 10,00. Dois meses e meio e 67% no bolso de quem acreditou em Embraer quando leu o texto.
Não estou querendo aqui me vangloriar, dizendo: viu? Eu falei. Definitivamente, não é esse o ponto.
A questão aqui é a importância de se ter em carteira teses de investimento que estão fora do radar, mas que apresentam fundamentos robustos no longo prazo.
A maioria dos investidores só consegue enxergar o curto prazo — o que está a um metro do seu nariz. Deixam escapar oportunidades que hoje parecem inconcebíveis, mas que em um horizonte mais extenso ainda tem valor a ser capturado.
Quando falamos de investimentos em Bolsa, somos muito movidos pelo agora e ficamos presos às notícias recentes.
Deveríamos olhar mais de fora, enxergar por outro ângulo e nos fazer algumas perguntas: esse negócio é sustentável? Ele tem vantagens competitivas? Esta empresa consegue se reerguer?
Em paralelo, é sempre muito importante verificar se aquela ação não está bem precificada. Afinal, uma boa empresa a um preço caro trata-se de um péssimo investimento.
As grandes valorizações na Bolsa não vêm de cases estruturados, em que só há notícias positivas e operações redondas. Às vezes, o mal compreendido de hoje esconde um potencial exponencial, caso ele seja melhor interpretado amanhã.
Entendo que os grandes saltos no seu patrimônio em ações não virão do óbvio, e sim daqueles ativos para os quais hoje a maioria vai franzir o rosto de maneira negativa.
Embraer não é um caso único. Nos últimos anos, a empresa de telefonia Oi (OIBR3) e a incorporadora JHSF (JHSF3) chegaram a valer centavos, a uma fração do seu patrimônio, flertando com a falência.
No entanto, elas tinham bons ativos e um plano consistente de reestruturação de dívida. Quem investiu nos últimos dois anos em ambas conseguiu auferir três dígitos de valorização.
Por esta razão é que não acho que a melhor definição para valor é quando há alguma ação de empresa barata. Prefiro a expressão “mal compreendido” como pré-requisito para encontrarmos valor.
Muitos pontos podem ser mal compreendidos no momento: qualidade do negócio, capacidade de gestão do management, cultura, estratégia, postura dos controladores… A maioria dos investidores está sempre focada nas coisas erradas, quando de fato deveriam prestar atenção às pequenas peças qualitativas do tabuleiro.
Entenda um case mal apreciado como pequenos ladrilhos coloridos que você encontra ao estudar uma companhia. Em um primeiro momento, eles não parecem fazer sentido e, individualmente, não significam nada.
No entanto, conforme você vai unindo esses ladrilhos, perceberá que eles podem formar um belo mosaico, e que aquela empresa ainda possui pilares qualitativos que podem alçar o seu preço a outro patamar.
Embraer foi exatamente assim. A empresa estava em frangalhos depois que a Boeing havia cancelado a fusão. A noiva foi deixada no altar. Mas ela era uma mulher bonita e inteligente, que só estava com a sua autoestima abalada. Embraer tem marca forte, respira inovação e tecnologia e é referência em indústria aeronáutica. Só precisava juntar os pequenos cacos de qualidade.
Com a Oi foi a mesma história. Financeiramente, a empresa estava em dificuldades, mas havia ativos valiosos ali dentro que poderiam ser vendidos: a operação na África, o centro de processamento de dados, as torres de transmissão e a telefonia móvel visada por TIM e Vivo.
O caixa gerado melhorou as finanças da companhia. A ação foi de centavos para R$ 2,50.
Não acho que você deva concentrar sua alocação em ações em ativos mal compreendidos. Geralmente, eles exigem uma dose maior de paciência e de controle emocional quando se está investido.
Entretanto, 5% da sua posição em renda variável podem estar nessas teses de investimento. Uma pequena porcentagem do seu patrimônio que pode render uma grande multiplicação de capital.
Assimetria na veia. Negócios que são olhados com primor pela equipe do Henrique Florentino, responsável pela série Ações Exponenciais, da Empiricus. Fica a dica.
Lembre-se: o que você vê já está no preço. Busque o que a maioria não consegue enxergar. É ali que estão os grandes ganhos. Invista no que é mal compreendido.