Chama o Max: Errar de novo seria estupidez
A vida de um analista é feita de erros e acertos. Aquele que diz que só acertou nos investimentos, pode ter certeza de que se trata de um falastrão e mentiroso.
Com isso em mente, podemos dizer que o bom analista é aquele que acerta mais do que erra, de modo que, no longo prazo, o desempenho de suas recomendações reflita uma multiplicação de capital em um determinado período.
Por isso, Warren Buffett se tornou tão famoso. Consistência no longo prazo.
Mas você acha que Buffett nunca errou em seus investimentos? Por muitos anos, negou a atratividade das ações da Apple, afirmando serem caras, ficando preso ao conceito do “value investing”.
O erro de Buffet foi não ter visto que o mundo estava mudando e inovando, e que a Apple seria uma das protagonistas dessa transformação digital.
No entanto, ele se redimiu a tempo. Hoje, Apple é a maior posição da Berkshire Hathaway, holding controlada pelo maior investidor de todos os tempos. Buffett perdeu a primeira pernada, mas entrou a tempo de capturar ganhos exponenciais em Apple.
Situação similar aconteceu comigo. Longe de mim me comparar com o Buffett. Sei bem o meu lugar no mundo. Estou falando de erros e acertos.
Em novembro de 2015, uma microcap me chamou a atenção. Com valor de mercado um pouco acima de R$ 200 milhões, aquela varejista merecia um olhar mais detalhado em seus fundamentos.
Visitei a companhia naquela oportunidade e a impressão não foi legal. A estratégia operacional não estava clara; ela se encontrava alavancada financeiramente. Faltava foco naquela companhia. Deixei o case de lado e fui buscar outras oportunidades.
Um mês depois da minha visita, aquela empresa havia renovado um contrato com a seguradora francesa BNP Paribas Cardif para venda de serviço de garantia estendida para eletroeletrônicos. Por mais dez anos de parceria, o grupo francês estava pagando R$ 330 milhões.
Uma pausa: R$ 330 milhões pela extensão de um acordo comercial com uma empresa que tinha valor de mercado de R$ 250 milhões?
Algo não estava fazendo sentido, pensei na época. Por que pagariam tanto por aquele negócio?
Você já sabe de qual empresa estou falando e aqui está um dos meus maiores erros na minha carreira de analista. Faltou-me coragem para recomendar a ação da Magazine Luiza (MGLU3) naquele momento.
Depois tudo fica claro, não é? Mas hoje vejo que aquele foi o primeiro sinal do potencial transformador que a Magalu estaria prestes a desenvolver.
Certamente, o BNP Paribas Cardif pagou aquela quantia significativa por mais dez anos operando a Luizaseg (braço de seguro garantia da Magalu) porque sabia da estratégia que seria adotada meses mais tarde por Frederico Trajano, que assumiria as rédeas do grupo e conduziria um dos maiores casos de reorganização operacional em uma empresa brasileira.
Vi a Magalu sair de um valor de mercado de R$ 300 milhões para R$ 1 bilhão rapidamente (seis meses). Depois, atingiu R$ 10 bilhões, R$ 30 bilhões, R$ 70 bilhões. Sim, aquela empresa que valia R$ 200 milhões em 2015, no final de 2019 já valia R$ 70 bilhões. Perdi o bonde.
Qual a razão para esse crescimento exponencial? Porque Magazine Luiza entregou resultados consistentes de 2016 a 2019, sempre surpreendendo o mercado.
A empresa se destacou na integração da loja física com as vendas online e ficou reconhecida pelo mercado consumidor por ter a melhor logística e entregar mais rápido que seus concorrentes. Além disso, criou soluções inovadoras em tecnologia que atraíram um fluxo de clientes que demandava cada vez mais praticidade, além de um amplo portfólio de produtos.
Era a equação do sucesso. A Magalu se tornava o maior case de transformação digital do Brasil.
Depois de quatro anos, decidi me aprofundar naquele negócio que tanto me intrigava.
Ao mesmo tempo, vi vários relatórios dizendo que Magalu era uma “bolha” e que aquele crescimento não era sustentável. Segundo estes analistas, a companhia já estava muito bem precificada e não havia mais espaço para a valorização. Muitos até sugeriram montagem de uma posição short em MGLU3. Não queria estar na pele deles.
Desta vez, eles erraram, mas eu não. Assim como Buffett perdeu a primeira fase de Apple e investiu nela a tempo de colher bons frutos, eu havia entendido que a Magazine Luiza tinha tudo para continuar sendo a vencedora do e-commerce brasileiro e a recomendei aos meus assinantes em dezembro de 2019.
De lá para cá, você já sabe o resultado: 140% de valorização. Aquela empresa, que para muitos estava cara quando valia algo em torno de R$ 70 bilhões, hoje vale R$ 165 bilhões. E muita gente está sorrindo de orelha a orelha.
Será que a mudança no padrão de consumo alavancada pela pandemia ajudou a Magazine Luiza? Sem dúvida.
Mas é muito mais que isso. A empresa gerou o maior caixa operacional da sua história no trimestre passado. Isso é gestão competente e eficiência na alocação de recursos.
Magalu segue realizando aquisições que vão agregar muito valor ao seu ecossistema digital, tornando-a uma fortaleza no varejo online e criando barreiras à entrada cada vez mais fortes.
A Amazon é poderosa, sem dúvida, mas certamente está encontrando um competidor de peso e que entende como poucos o perfil do consumidor brasileiro. Afinal, nós temos as nossas jabuticabas; nosso jeitinho e nossas preferências.
Se eu acredito que a ação continuará subindo?
Ao ver o desempenho operacional da companhia, não consigo recomendar a venda da ação. Entendo que o momento segue atrativo para a companhia e ela vai continuar se aproveitando das suas vantagens competitivas e, principalmente da escala que está sendo formada em sua operação.
Mais uma vez, acho que quem acha a performance de MGLU3 absurda, pode errar mais uma vez, já que Magazine Luiza tende a seguir crescendo acima do mercado.
Não vai ser fácil, Amazon! Nessa disputa, ainda fico com o jeitinho todo especial da Lu do Magalu.
Grande abraço!