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Chama o Max: E dá-lhe commodities!

08 jan 2021, 15:21 - atualizado em 08 jan 2021, 15:21
“No entanto, em 2020, a catástrofe econômica ocasionada pela pandemia pode ter acendido uma faísca importante” diz o analista

Em 2005 eu era analista de investimentos da Valia, fundo de pensão da Vale (VALE3). Fiquei lá por três anos até receber um convite para uma nova oportunidade.

Mas tive muita sorte em ter vivido essa época dentro da Vale. Não somente pela qualidade dos gestores e colegas com quem tive o prazer de trabalhar e por todo conhecimento adquirido naquele período. Mas também porque foi um dos melhores momentos da Vale em toda a sua história.

Pude presenciar de perto o quanto a empresa cresceu no período entre 2000 e 2008.

Aquisições, novos negócios, investimentos em infraestrutura logística, que fizeram com que a Vale alçasse um outro patamar de empresa competindo de igual para igual com outras gigantes como BHP e Rio Tinto.

A companhia tinha um bom time de gestão, comandado na época pelo CEO Roger Agnelli. No entanto, o super ciclo de commodities criado pelas economias emergentes da Ásia, principalmente a China, nesse mesmo período foi o grande impulsionador não só da Vale, mas também do PIB brasileiro.

O resultado foi a valorização de mais de 2.000% que a ação Vale mostrou nesse mesmo período, entre 2000 e 2008, com o Brasil crescendo a taxa vigorosas, como 5,8% em 2004 e 6,1% em 2007.

De 2008 para cá, esse ciclo se arrefeceu com os preços dos insumos como minério de ferro e petróleo coincidindo com anos de marasmo da nossa economia na última década.

No entanto, em 2020, a catástrofe econômica ocasionada pela pandemia pode ter acendido uma faísca importante que pode dar sinais de uma recuperação nos preços das commodities no mercado internacional.

Com muitas fábricas e plantas de exploração fechando e/ou ficando inativas por um bom tempo, a cadeia de suprimentos foi severamente impactada, gerando escassez de insumos no parque produtivo mundial, o que fez com que as commodities se elevassem de preço. Menos oferta, preços para cima.

A própria Vale teve que reduzir sua produção em 2020 em função do lockdown nas plantas e de ajustes necessários pós-desastre de Brumadinho. Ao mesmo tempo, o consumo de minério pela China aumentou dois dígitos no ano passado. Mais demanda, preços pra cima.

Além disso, com a tecnologia e a digitalização cada vez mais presentes em nossas vidas, outras commodities metálicas como cobre e níquel tiveram forte alta nos últimos meses, já que são importantes insumos para produtos eletrônicos.

Outra commodity que está com seus preços nas máximas de dez anos é o aço. Com o minério subindo, a China se tornando importador líquido e planos de infraestruturas para uma aceleração na recuperação econômica mundial, o aço tende a continuar subindo.

E aí eu te pergunto: o que está acontecendo com o mundo? Será que estamos entrando em um novo ciclo de commodities? (Imagem: Reuters/Jorge Adorno)

Pega mais estes dados: o milho subiu 50% nos últimos seis meses, acompanhado pelo preço da soja, que aumentou 60% no mesmo período.

E o petróleo? Mesmo com toda a discussão sobre a troca do combustível fóssil por energia renovável e após o preço do barril ter ficado negativo em abril do ano passado, como uma fênix o ouro negro voltou rapidamente para os US$ 50 o barril nas últimas semanas.

E aí eu te pergunto: o que está acontecendo com o mundo? Será que estamos entrando em um novo ciclo de commodities?

Historicamente, o dólar guarda uma relação inversa em relação ao preço das commodities. O DXY, índice que mede a força do dólar contra uma cesta de outras moedas globais, está nas mínimas dos últimos anos e com cara de que vai buscar patamares mais baixos.

Esta semana tivemos mais uma sinalização da trajetória ascendente que as commodities podem tomar. Nos últimos dias, Vale, Petrobras (PETR4), Gerdau (GOAU4), CSN (CSNA3) e Suzano (SUZB5) foram algumas das ações que foram destaques absolutos do Ibovespa, que possui mais de 30% em empresas ligadas a commodities.

Além disso, com a vitória de candidatos democratas no Senado e na Câmara dos EUA, o novo governo Joe Biden ficou mais forte para implementar sua política expansionista e ganhou força a ideia de aumento de gastos fiscais, com inflação (o que levaria a juros mais elevados adiante) e um dólar mais fraco.

O expansionismo fiscal de Biden está intimamente ligado a um plano robusto de infraestrutura nos EUA, que será um dos pilares para a retomada do emprego. Se estamos falando de mais estradas, pontes, malhas ferroviárias, usinas de energia e construção civil no geral, as commodities voltam a ser protagonistas.

Outro ponto importante é o defendido pelo especialista em mercados emergentes Jean Van de Walle. Ele defende a ideia de que a Índia exercerá em breve o papel que a China teve no início dos anos 2000. Com o aumento de renda dos indianos nos últimos anos, a demanda por commodities agrícolas e industriais será grande em breve.

Isso tudo se confirmando, podemos ver em breve uma migração ainda mais forte de “growth” para value, similar ao que aconteceu esta semana no Ibovespa. E aí o pacote Vale, Petro, Suzano, Gerdau, Klabin (KLBN11), CSN e SLC Agrícola (SLCE3) pode alçar voos maiores.

Os astros parecem estar alinhados. Podemos estar iniciando uma nova década de valorização das commodities. A ver.

Grande abraço,