Chama o Max: Dilemas da quarentena
Um grande amigo me chamou ontem no celular: Max, não estou conseguindo entender o tamanho deste otimismo na Bolsa. O Ibovespa vai bater 100 mil pontos e isto aqui ainda está uma bagunça.
Repliquei: O que você considera uma bagunça?
O Brasil foi o único país do mundo que não soube lidar direito com a Covid-19; não temos ministros da Saúde, nem da Educação; fico desolado ao ver notícia de mais de mil mortes por dia ainda — ele explicou.
Meu amigo, também fico triste ao não enxergar melhora nos óbitos, mas com relação à performance da Bolsa, temos que analisar friamente. Apesar deste cenário ainda turbulento, hoje estamos diante de mais certezas do que incertezas.
Continuei meu pensamento: E a única coisa que o mercado abomina é incertezas e falta de visibilidade.
O que move a Bolsa hoje é a expectativa quanto a uma retomada econômica rápida, respaldada pelos recentes dados econômicos nos EUA, na China, na Europa e nos países emergentes.
Você está falando da tal recuperação em V? — ele questionou.
Sinceramente, não sei se vai ser no formato de V, U, W ou L, mas a melhora nos indicadores é uma realidade. Você viu as vendas no varejo de maio aqui no Brasil?
Foi acima das expectativas, não é? — perguntou.
Sim, surpreendente. Cresceu quase 14% de abril para maio com destaque para vestuário, móveis e utilidades domésticas. Para mim, isso mostra a força do e-commerce, que está compensando grande parte da queda nas vendas dos canais físicos. É o digital cada vez mais presente nas empresas e nas residências.
Mas esse ambiente um pouco mais positivo justifica esta animação toda na Bolsa? — voltou a indagar.
Acredito que todo mundo já sabe que os números de 2020 serão catastróficos. Não é novidade que veremos quedas expressivas em receita e lucro nos resultados das companhias listadas nos próximos trimestres. Isso já estava incorporado no preço dos ativos quando o Ibovespa bateu os 63 mil pontos.
Complementei: investidores já estão olhando para 2021, esperando que os números do ano que vem sejam similares aos registrados em 2019. Ou seja, estima-se uma volta à normalidade, como se 2020 não tivesse existido. Além disso, há a corrida pela vacina —podemos ter novidades até o final do ano.
Não sei, ainda estou com um pé atrás quanto à magnitude dessa recuperação. Passo de carro pelas ruas e já vejo lojas fechando e várias placas de “Alugue-se”; muitas pessoas estão perdendo o emprego, é um cenário bem parecido com o que vi em 2015 — retrucou com ceticismo.
Amigo, temos que reconhecer que a Bolsa não reflete o PIB do Brasil. As companhias listadas são a nata do mundo corporativo brasileiro. Se a projeção dos analistas é de queda de PIB de 7% em 2020 e expansão de 3% em 2021, pode ter certeza de que as empresas da Bolsa terão um desempenho bem melhor na queda e na alta.
Tenho minhas dúvidas se 2021 será melhor. Se acontecer uma segunda onda generalizada, a retomada vai para o espaço no ano que vem — retrucou mais uma vez.
Isso eu concordo. Para mim, o grande risco é um lockdown geral novamente, que faria com que os investidores recalculassem as perspectivas de recuperação. Configuraria uma retomada em formato de W que ainda não está nos preços. Mas não trabalho com esse cenário-base.
Me questiono diariamente, pois boa parte do meu patrimônio está em ações. Ao mesmo tempo, penso que com a taxa Selic próxima a 2%, não há outro caminho a seguir, senão buscar mais retorno na renda variável — afirmou com sobriedade.
Concordo com você. O investidor terá que ir mais para o risco se quiser ter uma rentabilidade maior.
O que você faria no meu caso? — ele me perguntou.
Costumo dizer que o nosso corpo e a nossa mente estão constantemente nos dando sinais, inclusive quando o assunto é investimentos. Se parte do seu patrimônio em renda variável lhe causar apertos no estômago, a ponto de não te deixar dormir tranquilo, então essa exposição em ações está mais alta do que você pode suportar.
Tenho foco no longo prazo e aprendi a lidar bem com desvalorizações. Estou preparado para volatilidade — respondeu taxativo.
Entendo que teremos um segundo semestre com uma tendência positiva, suportada por forte injeção de liquidez nos mercados, anúncio de uma vacina e continuidade na migração da renda fixa para a renda variável. No entanto, há eventos que podem trazer volatilidade, como as eleições americanas, tensões comerciais entre China e EUA e o não arrefecimento dos casos de coronavírus.
Seguimos fortes, acompanhando capítulo após capítulo, torcendo para que o pior passe rápido — finalizou meu amigo.
Acredito que conversas similares a essa devem estar sendo frequentes em sua roda de amigos ou entre familiares.
Em tempos de pandemia, o futuro é ainda mais opaco. Entretanto, como falei anteriormente, entendo que as incertezas hoje são bem menores do que a foto de março.
Por essa razão, a Bolsa deve superar os 100 mil pontos, já que os riscos de cauda não estão mais presentes.
Em paralelo, investidor que se preze nunca deve esquecer. Deu certo no auge da crise e deve estar sempre na nossa cabeça nos primeiros sinais de euforia: compre ao som dos canhões; venda ao som dos violinos.
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