Chama o Max: Brasil, o país dos oligopólios
Por definição econômica, oligopólio é um ambiente competitivo no qual poucas empresas detêm o controle de uma grande parcela do mercado. Em outras palavras, há poucos vendedores para muitos compradores, ou seja, baixa concorrência empresarial.
Esse menor acirramento na competição pode restringir o espaço de disputa pela preferência do consumidor, sendo a alta de preços a consequência mais óbvia neste modelo de mercado.
Nesse desequilíbrio entre oferta e demanda, há também grandes economias de escala (alto poder de barganha por parte dos oligopolistas), com efeitos positivos na diluição de custos. Tal cenário dificulta a entrada de novos players, pois seria necessário um esforço descomunal para crescer neste mercado e obter lucros de forma sustentável.
O resultado pode ser menos empreendedores, e consumidores com opções mais restritas, tendo que encarar preços mais elevados. Empobrecimento deste mercado? Menos inovação, piora na qualidade dos serviços e produtos? Algo a se pensar.
Não sei se vocês já se deram conta, mas o Brasil é o país dos oligopólios. No setor bancário, 80% dos depósitos estão concentrados nos cinco maiores bancos (Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Banco do Brasil (BBAS3), Santander (SANB11) e Caixa).
Na telefonia, teremos em breve um mercado ainda mais concentrado. Vivo (VIVT4), TIM (TIMP3) e Claro estão em disputa pela Oi (OIBR3). Menos um player neste oligopólio.
Quando pensamos em chocolates, temos as empresas Nestlé e Kraft Heinz com mais de 70% do mercado. Em bebidas, Coca-Cola, Ambev (ABEV3) e Brasil Kirin abocanham grande parte do faturamento do setor.
A lista é grande e, nesta semana, mais um oligopólio ganhou força.
Localiza (RENT3) e Unidas (LCAM3), empresas do setor de locação de carros, surpreenderam o mercado e anunciaram na quarta a intenção de fundir os seus negócios.
Estamos falando de uma nova empresa, com mais de R$ 15 bilhões de receita anual; uma frota de quase 500 mil veículos; quase 70% de market share do segmento “rent a car” e 30% do mercado de terceirização de frotas. Uma gigante no setor.
Números relevantes que ainda podem gerar sinergias operacionais significativas. O primeiro ganho que nos vem à cabeça é o grande poder de barganha desta nova empresa com as montadoras de carros, tendo em vista que as locadoras são os maiores clientes de Renault, Fiat, Hyundai e GM, entre outras.
Além disso, ganhos de escala em custos, redução de despesas administrativas, otimização de frota, fechamento de lojas e uma melhor estrutura de capital podem ser listadas como benefícios desta fusão, que une a primeira do ranking em “rent a car” (Localiza) com a líder no segmento de terceirização de frotas (Unidas).
Para a Movida (MOVI3), a nova segunda colocada no mercado, podemos enxergar o copo meio cheio ou meio vazio. De um lado, o fato de ter um competidor muito maior que ela, com uma mais frota quatro vezes maior, pode afetar a sua competitividade, dados a maior força de marca, mais caixa para marketing e maior potencial de abertura de lojas.
Por outro lado, a Movida pode se beneficiar por ter menos um competidor relevante, brigando por preço com eles, além da possibilidade de aproveitar oportunidades caso a nova empresa seja obrigada a vender alguma marca ou operação em prol da maior concorrência.
Esse segundo ponto parece que está sendo mais considerado pelos investidores, pois as ações da Movida têm se valorizado desde o anúncio da fusão entre suas concorrentes.
Nesta nova configuração de oligopólio, o fiel da balança será o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Como comentamos acima, a alta concentração no segmento “rent a car” será o foco da autarquia, que vai analisar a fusão e pode sugerir como remédios para aprovação a venda da marca Hertz, por exemplo, que hoje está dentro da Localiza, ou a descontinuidade da operação desta nova empresa em algumas regiões.
Muita água vai rolar ainda. Historicamente, o Cade demora cerca de um ano para dar um veredito e, mesmo assim, já vi algumas vezes que a resposta foi negativa, como no caso das empresas educacionais Kroton (atual Cogna – COGN3) e Estácio (atual Yduqs – YDUQ3), mudando todos os rumos de um setor.
Aqui também estamos vendo mais um dilema que nós investidores temos que lidar diariamente, pois também somos consumidores.
Oligopólios são altamente lucrativos para as empresas inseridas neste ambiente competitivo. Maior poder de barganha, mais escala e menos despesas são sinônimos de crescimento de lucros.
A outra face da moeda é o aumento de preços, piora na qualidade do serviço e estagnação no que se refere à inovação e tecnologia. Ou seja, o consumidor sai prejudicado.
O que sabemos é que, após uma crise, os fracos ficam pelo caminho e os fortes, mais fortes. Portanto, tudo indica que veremos o Brasil se tornar ainda mais o país dos oligopólios.
É a nossa sina. Vamos ter que lidar com isso, pagando mais caro por produtos e serviços ou lucrando junto com as empresas.
Um grande abraço!