Chama o Max: Aproveite os exageros (para cima e para baixo)
Como apreciador e profissional de mercado há anos, posso dizer que talvez uma das frases mais coerentes seja: nos exageros do mercado é que surgem as melhores oportunidades.
E como ele exagera… tanto para cima, quanto para baixo.
Engana-se quem fala que o mercado é soberano. Se assim fosse, não existiriam as distorções, as assimetrias e as arbitragens a favor do investidor. O mercado erra muito e é aí que está a beleza desse mecanismo que tanto amamos.
Tenho que confessar que estou um pouco desconfortável com estes 110 mil pontos do Ibovespa. Calma, não estou torcendo contra. Pelo contrário.
Quero que a nossa Bolsa continue se valorizando, colhendo os frutos de um processo de eficiência e produtividade que as companhias adotaram ao longo deste ano e que vão se refletir em maiores lucros ano que vem. E como sabemos: as ações seguem os lucros. Mais cedo ou mais tarde.
O meu desconforto vem da velocidade do último movimento. Tudo que é feito de forma brusca, rápida, às vezes impensada, me causa apreensão.
No final de março de 2020, o Ibovespa atingiu 63 mil pontos (parece que já faz alguns anos). Diante da completa incerteza e falta de visibilidade, o mercado exagerou e precificou ativos a múltiplos extremamente descontados. Verdadeiras barganhas, ou melhor, oportunidades.
Passados oito meses, a Bolsa volta a se aproximar de sua máxima histórica, marca que deve ser atingida caso o tão sonhado rali de fim de ano aconteça.
Mas veja, pense comigo: será que o ambiente macro brasileiro, aliado a muitas dúvidas com relação a vacinas e eventuais lockdowns nas principais economias, condiz com este Ibovespa a 110 mil pontos? Assim como aconteceu com a queda de março, será que o mercado também não está exagerando para cima, dada a rapidez que este patamar foi alcançado?
Nos últimos dias, tenho me beliscado bastante. Faz sentido este movimento?
Este último salto, do 95 mil para os 110 mil pontos, pode ser bem explicado pela volta do fluxo estrangeiro para a Bolsa brasileira. Fazia tempo que os gringos não aportavam aqui.
A rapidez para se posicionar em mercados emergentes diante do avanço das vacinas e de um governo mais multilateral nos EUA explicam essa alta surpreendente e abrupta.
Isso acaba gerando um círculo vicioso, pois as pessoas físicas e os investidores institucionais domésticos, com medo de perder o bonde, acabam aumentando suas posições em renda variável. Por isso, temos chance de vermos o Ibovespa a 120 mil pontos em breve.
Se, de um lado, vejo empresas bem posicionadas em seus setores de atuação, mais eficientes e ganhando market share, o que levaria a Bolsa aqui e lá fora a patamares mais elevados, por outro, temos um grande desafio fiscal interno, que pode acabar comprometendo a recuperação nos próximos meses.
Como bem disse Mauricio Bittencourt, gestor e sócio da Velt Partners, em evento da Empiricus e da Vitreo nesta semana: em 2021 teremos que estar preparados para múltiplos cenários, e isso torna a tomada de decisão ainda mais desafiadora.
Pessoalmente, falando de investimento, não tenho medo da tão falada “segunda onda”. Acho que agora já sabemos como tratar a doença e temos mais conhecimento sobre os protocolos que devem ser adotados.
O maior risco, na minha visão, seria um lockdown generalizado, o qual acredito que será evitado ao máximo dado o prejuízo que isso pode causar para a atividade econômica global.
Dois dos meus maiores receios hoje são o relacionamento ainda tumultuado entre o Legislativo e o Executivo no Brasil e as consequências negativas que isso pode ter para o avanço das reformas estruturantes que seriam essenciais para amenizar a situação fiscal brasileira.
Após as eleições municipais e o recesso parlamentar, este debate voltará à cena e pode trazer alguma volatilidade nos ativos financeiros no início de 2021.
Pois bem: o que fazer diante deste cenário?
Continuo confiante que a Bolsa vai se valorizar dentro de uma perspectiva de recuperação econômica mundial nos próximos anos.
Mas diante desta volta rápida da Bolsa, flertando com as máximas, acabei reduzindo taticamente minha posição em renda variável, migrando meus recursos para o ouro e moedas internacionais.
Isso não quer dizer que estou pessimista. Nada disso. Só estou fazendo um rebalanceamento do portfólio. Afinal, exageros para cima geram oportunidades para se tirar o lucro da Bolsa e colocar no bolso.
E se a Bolsa andou bem agora, para quem tinha posição em ações, a caixa de renda variável ganhou exposição em sua carteira de investimentos. Logo, ajustes são bem-vindos.
É o famoso ditado que tanto falo para meus assinantes: vai vendendo para cima; vai comprando para baixo.
Ao mesmo tempo, acho que o investidor deve continuar posicionado, participando do mercado. Se ficar de fora de um rali, você perde boa parte da sua rentabilidade de longo prazo. Estudos já mostraram isso: um período de fora e você perde o grande salto.
Portanto, fica a dica: calibre suas posições, mas tenha sempre uma parte do seu portfólio em renda variável.
Afinal de contas, o mercado exagera com certa regularidade.
Grande abraço!