Chama o Max: A mescla perfeita
Vivemos um mês de setembro tenso. Parece que foram seis meses cheios de acontecimentos, mas foi somente um. Aconteceu de tudo.
Anabolizados nos últimos meses por estímulos monetários e fiscais em todas as economias, os mercados ficaram carentes com a ausência de notícias nesse front. A consequência foi que ativos ficaram mais suscetíveis a movimentos inesperados e a notícias decepcionantes que afetaram tanto a renda fixa como a renda variável.
A Bolsa por aqui caiu quase 5% em setembro, no pior mês desde março, quando o pânico se instaurou nos mercados. Quem tem sido protagonista nos últimos meses, acabou virando vilão no mês passado. As maiores quedas vieram das ações de empresas ligadas à tecnologia, dentro de um processo que identificamos como rotação de portfólio.
Considerando a mudança de padrão de consumo decorrente da pandemia, esses ativos se valorizaram expressivamente de março para cá. Falo de Magazine Luiza (MGLU3) e B2W (BTOW3) por aqui e Amazon, Apple e Google nas terras do Tio Sam. No entanto, todas essas ações techs tiveram uma performance bem pior do que o Ibovespa e o S&P 500 em setembro.
A nova economia resolveu respirar; tomar fôlego. Mas será que as ações da velha economia ganharam espaço no portfólio dos gestores?
Nem tanto. O movimento comprador para ações de bancos, varejo físico e outros players de consumo ainda foi tímido tanto aqui quanto lá fora. A exceção foi a boa performance das ações de commodities, que se beneficiaram com a valorização do dólar e melhores notícias vindas da atividade econômica chinesa.
Internamente, o ambiente político, definitivamente, não ajudou. Pelo contrário, colocou mais lenha na fogueira, cujas labaredas estão cada vez maiores.
Bolsonaro pareceu desistir de um projeto liberal com apreço pelo bom equilíbrio fiscal em prol de um programa mais assistencialista. Afinal, com a pesquisa recente mostrando uma aprovação superior a 50% por parte da população, é de se esperar que ele descambe para uma postura mais populista, que vai de encontro à agenda econômica de controle dos gastos federais.
Isso caiu como uma bomba no mercado financeiro brasileiro, que deu uma resposta clara ao governo: não vá por este caminho, pois os investidores ficarão bem longe do país. Assim, o dólar subiu, os juros futuros abriram fortemente e a Bolsa viveu dias de extrema aversão ao risco, assustando diversos investidores pessoas físicas que haviam acabado de debutar na B3 (B3SA3).
Setembro foi tão bizarro que também ficou marcado pela rentabilidade negativa no Tesouro Selic. Sim, isso mesmo. Investidores exigiram taxas maiores para financiar a dívida do governo e o valor dos títulos retraiu. O resultado foi cotas negativas em vários fundos DI conservadores, comumente utilizados como reserva de emergência.
Ou seja, investidores tomaram bordoada de todos os lados. Foi um mês em que o mercado separou o joio do trigo. Foi um teste de fogo para os investidores iniciantes.
E agora? O que fazer com seus investimentos neste último trimestre do ano?
O Ibovespa cai próximo a 40% em dólar no ano, uma desvalorização bem maior do que a de outros países emergentes, apesar da nossa economia estar mostrando sinais mais animadores frente a deles.
No Brasil, o pano de fundo é uma economia que vem melhorando gradativamente. Dados recentes de produção industrial, vendas no varejo, atividade econômica geral e indicadores de confiança confirmaram o que ainda estava carregado de ceticismo: a tão comentada recuperação em V.
É claro que este V pode virar um W se houver uma segunda onda da doença por aqui. Mas acho que esse está longe de ser o cenário-base.
Se esta recuperação econômica se consolidar ainda mais, os lucros das companhias mostrarão crescimento surpreendente nos próximos resultados, o que terá reflexos positivos para as ações.
Uma bela ajuda para tornar este cenário mais benigno poderia vir de um destravamento da agenda econômica com o avanço das reformas estruturantes e da descoberta de uma vacina eficaz contra o coronavírus.
Isso acontecendo, tendo a acreditar que as ações de valor, que ficaram para trás nos últimos meses, podem ter um grande rali. Devo, então, rotacionar meu portfólio totalmente para ações de bancos, shoppings, varejo tradicional e consumo discricionário?
Não. Justamente porque não sabemos se Paulo Guedes vai conseguir contornar Bolsonaro e o Poder Legislativo, nem se uma vacina será descoberta ainda este ano.
Logo, seu portfólio deve estar balanceado. Nada de concentração.
Apesar da diferença entre valor e crescimento estar no maior nível dos últimos anos, é prudente continuar investindo nas ações techs, pois a tendência é que essas empresas continuem crescendo, mas não deixe de colocar o pé nas ações de empresas da velha economia. Valor e crescimento, juntos e misturados no seu portfólio.
Não espere a onda chegar para subir na prancha. Esteja em cima dela preparado para diferentes cenários. Busque a mescla perfeita.
Por fim, não se esqueça nunca da importância da diversificação. Posições em ativos descorrelacionados são sempre bem-vindas.
Se a Bolsa brasileira for mal, pelo menos você terá exposição ao dólar. Caso as ações americanas oscilem com as eleições que se aproximam por lá, pelo menos você terá o ouro, que pode te proteger.
Esse é o pensamento. E pode ter certeza: dias melhores virão.
Um grande abraço!