Cervejas

Cevada em rota de alta com maioridade da cerveja artesanal e com Mapa incentivando a cadeia – Parte I

07 out 2019, 16:26 - atualizado em 07 out 2019, 17:05
Cevada cervejeira da região de Guarapuava em safra que vai crescer, mas ainda mais em função do clima (José Augusto/Guarapuava)

O número ascendente de cervejarias artesanais, que usam predominantemente o puro malte – ou seja, da cevada e do trigo – pode estar começando a reproduzir no campo esse crescimento já na casa dos mil estabelecimentos em todo o Brasil. Trigo cervejeiro não há em produção, mas a cevada sim, cultura de inverno, de ciclo curto, onde o Paraná é líder.

As grandes cervejarias possuem suas próprias maltarias e algumas até produção própria – e sob contrato com fornecedores – e nem todas contam com marca puro malte (há opções de blends com milho e arroz, ou só com esses grãos). Mas a importação seja do malte ou de cevada (e trigo) para serem maltados aqui é grande. Nas contas do Departamento de Economia Rural (Deral), do Paraná, 60% vêm de fora, especialmente da Argentina e Uruguai.

“Além da produção no campo, essa intensificação do mercado já faz com que players também entrassem nessa cadeia de originação”, explica Carlo Lapolli, presidente da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva). A Cargill seria um deles.

As estatísticas mostram que essa categoria de pequenas indústrias representa 2%, em torno de 250 milhões de litros, da produção total brasileira, em um setor que tem 2% do PIB, gera 2,7 milhões de empregos, fatura R$ 100 bilhões e arrecada R$ 25 bilhões em impostos. E, por conta disso, ganhou uma Câmara Setorial da Cerveja para chamar de sua, que vai discutir, no âmbito do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) os desafios setorial da cadeia.

A expansão da bebida artesanal e do puro malte – 10% em 2018, contra 2% da cerveja convencional  – ainda não está muito visível no campo, já que nos últimos cinco anos os números são estáveis, de acordo com Rogério Nogueira, analista do Deral para a cevada, embora não descarte que possa haver ilhas de produtores que estão dando mais atenção devido ao ganho setorial. No mínimo, no entanto, a cultura se consolida como mais importante.

Escala X ICMS

O Paraná participa com perto de 70% da produção nacional e o crescimento deste ano, previsto para 250 mil toneladas, e sem muita expansão da área plantada, de 58 mil hectares, deveu-se às boas condições climáticas. Aliás, como todas as culturas de inverno do Sul, a cevada é muito sensível.

“Em 2018, a produção foi de 195 mil toneladas, quebra estimulada pelo clima”, analisa Nogueira, lembrando que a colheita começa agora na segunda quinzena de outubro, na região central do estado, e a partir de novembro na região Sul, no entorno de Guarapuava, maior núcleo produtor paranaense. No ano passado, o produtor rural conseguiu média de R$ 740 por tonelada.

E nessa região de Guarapuava que fica a maltaria da Cooperativa Agraria, uma das principais independentes e que fornece para muitas empresas brasileiras de pequeno porte, confirma Lapolli, presidente da Abracerva.

A tendência é de manter crescimento, não apenas com a montagem da Câmara Setorial, da qual a Abracerva está presente junto com outras entidades, como também por acordos que estão sendo negociados nos estados. Entre eles com São Paulo, maior estado consumidor, mas cujo ICMS de 25% sobre a bebida impacta diretamente os fabricantes artesanais. Lapolli conta que há boa vontade do governo de João Dória de trazer o imposto para próximo do que é no Rio, de 16%, ou de Santa Catarina, que é 12%. E contaria, inclusive, com apoio das grandes cervejarias.

A questão é escala. Como taxas menores, o preço das artesanais ficaria mais acessível, puxando o consumo e, na ponta inicial, a produção.

A cevada paranaense é exclusivamente cervejeira, isto é, não serve como forrageira para plantio direto de outras culturas. Mas, sem sofrer concorrência do milho de inverno, já que a cultura é mais propícia em regiões frias onde o cereal não vinga, a cevada tem a concorrência direta do trigo.

Mas o engenheiro agrônomo do Deral, órgão da Secretaria de Agricultura do estado, estima também que a cevada local sofra a concorrência da cevada importada, maltada ou não. Mesmo as pequenas firmas cervejeiras possam estar preferindo um malte mais tradicional para suas cervejas, o que não quer dizer que seja melhor.

Para Rogério Nogueira, a tendência é de crescimento, como espera a Abracerva.

 

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Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
giovanni.lorenzon@moneytimes.com.br
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
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