Agronegócio

Cerco da UE ao Brasil por questões ambientais tende a crescer e não deve ser desprezado, diz Camargo Neto

08 out 2019, 11:53 - atualizado em 08 out 2019, 11:55
Carne
Carne bovina seria o setor mais prejudicado com qualquer bloqueio das relações comercias do Brasil e Mercosul com Europa

O aviso da ministra francesa Elisabeth Borne, do Meio Ambiente, de que o país pode bloquear o acordo da União Europeia (UE) com o Mercosul, com o Brasil no foco da crítica, tende a ser sempre minimizado por muitas correntes do agronegócio e, certamente, pelo establishment da Brasília atual. Entre as opiniões de que trata-se de jogo de cena político da França, de que ainda vai levar tempo para a formalização do acordo ou, mais em voga, de que a China e a Ásia vão comprar tudo que outras portas se fecharam, ainda há outras mais racionais.

O cerco ao Brasil, independentemente de que se aceite ou não as críticas feitas à política ambiental, é crível e poderá crescer. Nas fronteiras nacionais, fora o peso-pesado França, se a Alemanha embarcar definitivamente aí que mela tudo mesmo, além dos menores mercados que devem rejeitar o acordo, tais como Irlanda e Noruega, por enquanto. Além disso, em termos de bloco, o novo comissário de Comércio será o irlandês e atual comissário de Agricultura, Phil Hogan, critico do Brasil e voto vencido durante das negociações para o acordo anunciado.

“Perder o mercado europeu será sentido, se não hoje, amanhã. E será sentido pelo pecuarista, pois os grandes frigoríficos são hoje globalizados. Reconquistar mercado nunca é tarefa fácil e sempre custa”, avalia Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), e ex-negociador internacional tanto quanto esteve no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), quanto como representante das principais entidades de classe de setores de proteína animal.

Ele também foi assessor informal da atual ministra Tereza Cristina durante a transição até a posse do governo.

Fora o horizonte da Europa comunitária, na qual o acordo, se aprovado pelos parlamentos, ainda levaria 10 anos para entrar em cena, cortando 90% das tarifas de importação, o especialista também se preocupa com prazos mais curtos. Pode haver represálias, dentro de regras internacionais aceitas, e especialmente por pressão popular, no âmbito das relações atuais.

O Brasil vendeu US$ 17 bilhões do agronegócio para a UE em 2018, o segundo maior bloco comprador, e, deste, US$ 729 milhões em carne bovina.

Segundo Pedro de Camargo Neto, achar que a Ásia vai suprir qualquer buraco deixado pelos outros é apostar alto demais, além de subestimar o poder chinês de “vender caro” seu apetite sabendo que algumas portas foram fechadas.

A resposta brasileira, segundo o também produtor, é “tomar ações concretas nas questões ambientais”.

 

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