CEO do Twitter almeja mercado africano
Jack Dorsey, CEO do Twitter, passou o mês de novembro em uma viagem estendida pelo continente africano, falando com proprietários de empresas de bitcoin em Gana, se encontrando com startups de tecnologia na Nigéria e falando bem sobre as perspectivas regionais da região.
Dorsey terminou sua viagem com um tuíte, ainda na capital da Etiópia, Addis Ababa, afirmando que “o continente africano vai definir o futuro, especialmente o do bitcoin!”.
Assim, o fundador do Twitter e da Square, confirmou sua intenção de retornar ao país por seis meses em 2020, um anúncio que faz com que as ações de suas empresas saiam do controle, pois os investidores estão contemplando o efeito da liderança ausente dele, mas também despertando curiosidade dos fãs de bitcoin com um pé atrás sobre o propósito de suas viagens.
“Eu quero entender os desafios de se criar uma empresa aqui e descobrir uma forma de oferecer apoio”, disse ele em uma reunião em Lagos, capital da Nigéria, no início de sua viagem. “Eu quero viver aqui de três a seis meses no ano que vem, em tempo integral, sem viajar.”
Um missionário do bitcoin
Em sua expedição pelo continente, Dorsey parou em vários núcleos (“hubs”) de tecnologia, incluindo a “Savana do Silício”, Quênia, e o contexto próspero de startups na Etiópia, onde ele ouviu conversas sobre empresas gerando mudança no setor nascente de tecnologia.
Uma conversa foi de Dara Oladosu, criador de um aplicativo do Twitter chamado Quoted Replies, que recebeu uma proposta de emprego após conhecer Dorsey em Lagos.
Mas é possível que a maior área de transformação, como sugere o tuíte de Dorsey, seja a indústria de pagamentos.
A falta de infraestrutura nas várias regiões do continente africano resulta em uma parte desbancarizada da população, e financiamento está fluindo para soluções de fintech a fim de solucionar isso, com a popularidade de serviços de dinheiro via celular, como M-Pesa, da Safaricom.
Porém, com o controle do dinheiro pelas empresas, problemas surgiram. Serviços privados como M-Pesa usam moedas locais voláteis e também são vulneráveis a falhas na rede.
EcoCash, plataforma principal de transações em Zimbábue, sofreu apagões na rede em julho deste ano, deixando as empresas estagnadas sem uma opção de pagamento.
Nessa mesma época, as negociações de bitcoin dispararam porque o governo local baniu o uso de moedas estrangeiras para a realização de transações.
As métricas de pesquisa em países do continente africano também parecem mostrar um interesse crescente em bitcoin.
Os quatro países visitados por Dorsey (Nigéria, Gana, Etiópia e África do Sul) estão no topo do ranking em relação a pesquisas por “bitcoin” em todo o mundo no último ano, de acordo com dados do Google Trends.
Não é surpresa que Dorsey está plantando as sementes para a adesão do bitcoin em um solo bem fértil, considerando o entusiasmo dele para os criptoativos.
Em setembro, ele contou ao jornal The Sydney Morning Herald que ele acredita que o bitcoin ainda é “a melhor aposta” para se tornar a moeda nativa da internet.
“Ao olhar para todas as criptomoedas que poderiam desempenhar o papel de ser a moeda nativa da internet, o bitcoin possui uma alta probabilidade”, afirmou Dorsey ao reforçar que é necessário mais desenvolvimento para solucionar “a volatilidade e o processamento lento de transações”.
Solo fértil para adesão
Square Crypto, a marca focada em criptoativos da Square, empresa de pagamentos móveis de Dorsey, está bem posicionada para o auxílio desse desenvolvimento ao construir a infraestrutura digital necessária para a adesão do bitcoin nessa região.
O aplicativo de pagamento Square foi originalmente pensado como um portal de investimento, mas, após os consumidores começarem a tratá-lo como uma conta bancária, Dorsey tomou a decisão de “entrar na moda” e expandir o aplicativo para atender melhor os consumidores em áreas desbancarizadas dos EUA, como Memphis, Detroit e Saint Louis.
De acordo com Lisa Ellis, analista sênior de ações da MoffettNathanson, em entrevista à CNBC, esse caso de uso se encaixam adequadamente ao mercado bancário inexplorado do continente africano.
“[Aplicativos de pagamento] se encaixam bem com o propósito da Square de dar autonomia ao empreendedor individual e conduzir a inclusão financeira. Posso ver produtos como o capital circulante e comerciante da Square e a capacidade de aquisição de bitcoins e de investimento fracionário, tendo aplicabilidade significativa no continente africano.”
Enquanto isso, Libra, o projeto conflituoso da criptomoeda do Facebook, que antes tinha o mundo em desenvolvimento como foco, caiu após atingir um muro de resistência global pelos reguladores.
Em novembro, a gigante rede social adversária anunciou Facebook Pay, um novo sistema de pagamento para WhatsApp, Messenger e Instagram, menos focado em ajudar os desbancarizados e mais focado em aperfeiçoar pagamentos existentes.