CEO do Carrefour diz que não vai comercializar carne do Mercosul e gera indignação no Brasil; entenda
O CEO Global do Carrefour (CRFB3), Alexandre Bompard, afirmou em suas redes sociais na última quarta-feira (20), que a empresa assumiu o compromisso de não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul.
Em carta endereçada ao presidente da organização francesa FNSEA (Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores), o executivo ainda diz que o projeto de acordo de livre comércio entre União Europeia (UE) e Mercosul traz um risco de “inundação” no mercado francês, de uma carne que “não respeita as exigências e normas”.
Par solidarité avec le monde agricole, Carrefour prend l’engagement de ne commercialiser aucune viande en provenance du Mercosur. Tel est le sens de mon message aux présidents des syndicats agricoles. pic.twitter.com/bGo3ttA7Yt
— Alexandre Bompard (@bompard) November 20, 2024
A declaração foi rechaçada por entidades brasileiras e as ações da empresa registram queda. Por volta das 11h, o Carrefour caía 3,57% na B3.
Na visão de Fernando Iglesias, analista de proteína animal da Safras & Mercado, os supermercados do grupo Carrefour podem sofrer uma tentativa de boicote, que deve gerar transtornos e causar impacto na bolsa.
Além disso, Iglesias ressalta que a produção europeia de carnes está encolhendo ano após ano e que o Brasil “é o único país do mundo que tem as condições necessárias para atender a todas as exigências que a Europa faz”. Portanto, excluindo o Mercosul, o Carrefour pode ter dificuldades de abastecimento.
“Se eles não vão comprar carne da América do Sul, eles vão ter que trazer de outras regiões. A carne da Austrália é mais custosa que a da América do Sul e dos Estados Unidos nem se fala. Então, eles têm uma necessidade de compra muito ampla e não podem descartar esse tipo de região”, diz.
Em nota enviada ao Money Times, o Carrefour afirmou que a medida se aplicará apenas às lojas na França, sem alteração na operação da empresa no Brasil e na Argentina.
Mapa responde
A resposta do Governo brasileiro veio por uma nota oficial do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que rechaçou o posicionamento de Bompard. “O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”.
A nota ainda diz que o ministério não acredita em um movimento orquestrado por parte de empresas francesas visando dificultar a formação do acordo Mercosul – UE, discutido no G20. A pasta destacou que o Brasil atende todos os padrões regulatórios e que as carnes produzidas no Brasil são consumidas pela UE há mais de 40 anos.
“O Mapa lamenta tal postura que, por questões protecionistas, influenciam negativamente o entendimento de consumidores sem quaisquer critérios técnicos que justifiquem tais declarações”, afirma.
Além do posicionamento oficial do Mapa, o próprio ministro Carlos Fávaro se pronunciou. Diferente da nota publicada, Fávaro disse que parece uma ação orquestrada por companhias francesas e lembrou o caso da Danone. Na visão dele, as empresas procuram encontrar alguma forma de pressionar o Governo francês a não assinar o acordo.
Entidades do setor defendem a carne do Mercosul
A ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção e Exportações e Investimentos) considerou a declaração “lamentável” e reforçou o cumprimento dos padrões sanitários e ambientais, dizendo que não há motivos razoáveis para restrições à carne produzida no Mercosul.
“Muito estranhamos tal movimento por parte da gigante do varejo francês, em meio a pressões protecionistas em seu país, no momento em que Mercosul e União Europeia estão próximos de fechar o ambicionado acordo que formará o maior mercado do planeta, beneficiando enormemente as populações dos países signatários”, afirmou.
Em nota, a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) lamentou o posicionamento do CEO do Carrefour e apontou contradição, já que a empresa opera cerca de 1.200 lojas no Brasil.
“Em 2023, o Brasil respondeu por 27% das importações de carne bovina da União Europeia fora do bloco, enquanto o Mercosul, somado, alcançou mais de 55%. Essa parceria, que há décadas atende aos padrões europeus, reafirma o potencial de cooperação entre as nações”, diz a associação das indústrias exportadoras”, disse.
A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) também se manifestou, afirmando que o executivo utilizou argumentos equivocados e claramente protecionistas. “Ao impulsionar o bloqueio injustificado a produtos provenientes de regiões com melhor capacidade de produção com respeito às questões ambientais, Bompard coloca os consumidores de suas lojas em uma lógica de consumo com mais emissões e sob maior pressão inflacionária e menor acesso às classes menos favorecidas”.
Outra entidade que manifestou repudio e reforçou a posição do Brasil como o maior exportador de carne bovina do mundo foi a FABB (Frente das Associações de Bovinos do Brasil). Em nota, disseram que o posicionamento “precisa ser reconsiderado de maneira urgente, uma vez que não possui qualquer respaldo científico ou técnico que o justifique.
Carrefour se posiciona
Na manhã desta quinta-feira (21), o Carrefour disse que a declaração do CEO global não irá afetar as operações da empresa na América do Sul.
“O Carrefour França informa que a medida anunciada ontem, 20/11, se aplica apenas às lojas na França. Em nenhum momento ela se refere à qualidade do produto do Mercosul, mas somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise”, diz.
“Todos os outros países onde o Grupo Carrefour opera, incluindo Brasil e Argentina, continuam a operar sem qualquer alteração e podem continuar adquirindo carne do Mercosul. Nos outros países, onde há o modelo de franquia, também não há mudanças”, finaliza.
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