Arena do Pavini

Cenários políticos e investimentos: as ações com Lula ou sem Lula

11 dez 2017, 16:21 - atualizado em 11 dez 2017, 16:21

Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini

Boa parte do otimismo recente dos mercados considera a eleição de um presidente afinado com as reformas e com o equilíbrio fiscal no ano que vem. Mas e se isso não se confirmar? Pensando nessas hipóteses, André Gordon, sócio da GTI Administração de Recursos, elaborou alguns cenários e a reação que eles causariam aos mercados, em especial ações e renda fixa. Ele participou do Seminário de Valor Value Investing Brasil.

O ponto positivo da eleição de 2018 será que ela pode trazer uma visibilidade para os próximos 4 a 8 anos do Brasil. E levar o país a convergir para o crescimento do resto do mundo, aproveitando a grande liquidez internacional e iniciando um novo ciclo virtuoso para a economia.

Por isso, o assunto da equipe econômica vai ser o centro das discussões em qualquer governo. Gordon acredita que Temer deixará uma herança bendita para o sucessor, como o teto de gastos, um Banco Central com autonomia e credibilidade, e a redução dos juros. A questão é se a queda da taxa de juros Selic vai se sustentar. A curva de juros do mercado futuro da B3 mostra que o mercado acha que não. Mas a retomada da atividade melhorará a arrecadação e o emprego e a massa salarial. Ou seja, dependendo do próximo presidente, o ciclo virtuoso continuará.

O histórico do Brasil pôs redemocratização mostra o predomínio da esquerda, com exceção de Fernando Collor de Mello em 1989, avalia Gordon. Isso porque ele classifica tanto o PSDB como o PT como partidos de esquerda, lembrando que ambos incentivaram os gastos públicos crescentes e levaram o país ao rombo fiscal atual, que traz o risco de uma explosão da dívida pública. Agora, o país parece estar retornando para a direita e para uma economia mais liberal.

Lava Jato nivelou todos os políticos por baixo

A eleição deste ano traz alguns elementos que a diferenciam de todas as outras, observa o gestor. O principal é que a Operação Lava Jato e as denúncias de Joesley Batista, sócio da JBS, em maio deste ano, contra figuras importantes do PMDB e do PSDB, incluindo o presidente deste, Aécio Neves, acabaram por nivelar todos os políticos por baixo. Isso criou uma desconfiança geral do eleitorado menos engajado na classe política e despertou a busca por novos nomes. Foi o que provocou a tentativa de lançar o apresentador Luciano Huck à Presidência da República.

A desconfiança não afetou tanto, porém, os grupos mais radicais de esquerda e de direita, que têm seus públicos cativos. Assim, as pesquisas eleitorais de hoje mostram essa polarização entre os extremos.

Questão principal é participação de Lula

Para Gordon, a pergunta-chave para a eleição do ano que vem, porém, é se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai ser condenado em segunda instância e se isso o impedirá de concorrer à Presidência. O gestor, assim como boa parte do mercado, acredita que sim, diante das “provas robustas” de recebimento de favores de empresas pelo ex-presidente.

Mas essa definição só ocorrerá entre abril e junho do ano que vem, quando o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) julgar os recursos do presidente contra a condenação feita pelo juiz Sérgio Moro. E não é possível saber também se Lula será habilitado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que estaria dividido sobre o assunto. Isso deve criar um ambiente de incerteza e instabilidade nos mercados durante boa parte do ano. Gordon acredita, porém, que mesmo que Lula seja candidato, a tendência seria de ele enfrentar um aumento da rejeição do eleitorado, pelo desgaste provocado pelas condenações e pelas denúncias de corrupção nos governos do PT.

Bolsonaro, mais palatável ao mercado

Já no caso de outro favorito de hoje, Jair Bolsonaro, há um julgamento também no Supremo por conta dos ataques do deputado à colega Maria do Rosário. Bolsonaro afirmou que não a estupraria porque ela não mereceria. A definição será importante para o mercado, que vê o ex-militar cada vez mais como uma alternativa para a continuidade das reformas, apesar de seu discurso extremamente conservador.

A aproximação de Bolsonaro de figuras respeitadas no meio econômico, como o economista de linha liberal Paulo Guedes, agrada aos que desejam que o país adote uma política fiscal mais austera, reduza o tamanho do Estado e faça a reforma da Previdência.

Bolsonaro ganha a simpatia do mercado não tanto por suas propostas conservadoras e até preconceituosas, mas por sua popularidade em alta, que lhe daria condições de ganhar de Lula. Uma popularidade que vem de uma parcela da população insatisfeita com as opções políticas atuais de centro e de esquerda.

Centro deve ter Alckmin

No centro político, Gordon vê o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito de São Paulo, João Dória Junior, como possíveis nomes pelo PSDB. O mais provável, acredita Gordon, é que Alckmin saia candidato. E ele deve tentar atrair votos da esquerda, para reforçar sua candidatura.

Já na esquerda, além do PT, Gordon destaca Maria Silva e seu partido, a Rede, que seriam uma versão “PT paz e amor”, sem muita diferença em relação ao partido de Lula. E Ciro Gomes, do PDT, representaria o “PT de raiz”, com suas propostas mais intervencionistas. “Na verdade, os 20 partidos que temos poderiam ser reduzidos a meia dúzia, o restante são todos iguais”, afirma.

Ainda pelo centro, mas sem muita chance, haveria ainda o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o próprio presidente Temer. E, à direita, junto com Bolsonaro, estariam o presidente do BNDES, o economista Paulo Rabelo de Castro, do PSC, e João Dionísio Amoedo, do Novo.

Cenários agitados com Lula

Para Gordon, os nomes com maiores chances de vitória seriam de Alckmin, Marina e Bolsonaro. E haverá polarização entre esquerda e direita caso Lula vá para o segundo turno, e maior volatilidade dos mercados. “Não devemos ver o Lulinha paz e amor que vimos em 2002”, diz.

O cenário mais tranquilo para os mercados seria sem Lula, talvez com Alckmin e Marina no segundo turno. No caso, a vitória da candidata da Rede, os impactos de curto prazo seriam pequenos, pois ela teria a assessoria de pessoas de mercado que impediriam grandes aventuras. Mas medidas como impostos sobre fortunas e gastos públicos maiores teriam efeitos negativos no longo prazo.

Um segundo turno entre Alckmin e Bolsonaro seria extremamente benigno para o mercado, avalia Gordon. Nesse caso, Bolsonaro agradaria mais por adotar um discurso mais liberal. E Alckmin poderia adotar um discurso mais à esquerda para atrair os eleitores de Marina e Lula.

Já um embate entre Marina e Bolsonaro teria a volta do debate entre direita esquerda e representaria uma derrota do estabelecimento. Maria defenderia mais a presença do estado e Bolsonaro, mais à direita.

Oportunidade para comprar ações

As eleições após o mensalão voltaram a ser sinônimo de volatilidade, e ao mesmo tempo de oportunidade para o investimento de valor, que pode aproveitar as quedas dos preços para comprar boas ações com preços abaixo dos justos. “Hoje está melhor para comprar ações do que há um mês, quando o Ibovespa estava perto dos 78 mil pontos”, lembra Gordon. Mas há os riscos, como o de eleição de Lula.

E há sempre as disputas apertadas entre diferentes, como foi entre Dilma Rousseff e Aécio em 2014, eventos inesperados, como acidente de avião que matou Eduardo Campos, e legitimidade questionada, por conta das urnas eletrônicas. Se Bolsonaro ganhar, é possível que haja maior ruído e volatilidade. Mas Gordon acredita que ele não será radical como seu discurso.

Já se Alckmin ganhar, será um cenário mais tranquilo. Mas com outros nomes, deve haver volatilidade.

Congresso deve se tornar mais conservador

Gordon espera que o Congresso se torne mais conservador na próxima eleição, com a visão contra o PT mais forte e a influência de candidatos como Bolsonaro sobre o eleitorado. Mas ele não espera grandes mudanças. “O Congresso deve ser parecido, somente com redução do PT, com parte dos parlamentares indo para extremos de esquerda, como PSOL, e parte para o Centrão”, acredita o gestor, acrescentando que “O Brasil é o Centrão, que não deixa o país avançar, mas também impede que vire uma Venezuela”.

Ele espera que a reforma da Previdência passe em uma visão desidratada, que poderá ser revista pelo próximo presidente. “Assim, se um candidato de centro for eleito, ele vai ter tanta tranquilidade que poderá fazer um novo ajuste previdenciário”, diz. “Não vamos virar os EUA nesta geração, mas está na hora de dar dois passos para frente, entender que precisa reduzir o Estado”, diz.

Para Gordon, o país poderia recuperar o grau de investimento em dois a três anos se tiver reforma da Previdência. “O importante é ver o déficit nominal, a despesa com juros caiu R$ 50 bilhões e, se o PIB cresce 2% a 3%, que é factível respeitando a PEC do teto dos gastos, a dívida sobre o PIB tenderia a cair”, diz. E o mercado deve antecipar isso.

Cenários otimistas e pessimistas e as aplicações

No cenário pessimista, de eleição de Lula, os juros voltam a subir, o PIB para de crescer e o real se deprecia diante do dólar. Já no otimista, os juros teriam espaço para ficar baixos por mais tempo, assim como o dólar, e o crescimento pode se acelerar.

Hoje o mercado não trabalha com esse cenário de juros mais baixos, tanto que há um descolamento de mais de 3% para cima nas projeções de juros futuros em relação à Selic nos próximos anos. E com a confirmação do cenário positivo, esse juro tenderia a recuar, tornando esses papéis atrativos hoje.

Aumento de até 40% nas ações

O segundo driver seria o crescimento do PIB mais forte que o esperado. Gordon acredita que só com o efeito da queda do juro, sem contar com uma política mais liberal, o país teria um componente de crescimento que reduziria o custo de capital das empresas e poderia proporcionar um aumento 30% a 40% nos preços dos mercados de ações. “Já vimos isso com queda dos juros no Lula 1 em 2002”, lembra.

Nesse caso, com a queda dos juros, empresas de shoppings seriam beneficiadas, caso de Sonae Sierra e BR Malls. Infraestrutura também ganhará espaço, com siderúrgicas como Gerdau e Usiminas e a empresas de terminais portuários Wilson Sons.

Empresas de serviços como Sabesp e Copel também se beneficiariam da queda dos juros e de suas receitas estáveis. Bens de consumo semidurável, como Guararapes, e bens duráveis, como autopeças, também teriam vantagens com o crescimento da economia. Em autopeças, entrariam Iochpe e Tupy.

O retorno da economia favorecerá também o crédito e os bancos, e Itaúsa é uma forma de comprar Itaú com desconto de 25%, já que o banco responde por 93% dos ativos da holding, diz Gordon.

O aumento da geração de empregos teria impacto positivo sobre empresas ligadas a serviços, como Valid, de documentos. E a Locamerica, pelo crescimento da frota de automóveis com o crescimento da demanda . A JSL Logistica também cresceria pela prestação de serviços de logística para outras empresas com a maior atividade.

Cenário negativo, Ibovespa volta aos 40 mil pontos

Já no cenário negativo, os juros em vez de cair, subiriam mais, talvez de volta para os 13% com a vitória de Lula. “Não sou catastrofista, até porque acho que Lula, mesmo ganhando, teria a oposição do Congresso, como ocorreu com a Dilma”, afirma.

No cenário negativo, além de atrofiar o crescimento do país, só o efeito de alta dos juros potencializaria uma queda das ações. Se houver volta da recessão, o Índice Bovespa pode voltar para níveis pré-impeachment, de Dilma, ou seja, 40 mil pontos.

O impacto nas ações seria geral. Algumas, porém, poderiam cair menos, ou seja, seriam mais defensivas nesse cenário, caso das prestadoras de serviços, como a Sabesp. “Isso não quer dizer que elas não cairiam, mas cairiam menos”, acredita Gordon.

Seguradoras, como BB Seguridade, SulAmerica ou Porto Seguro, se beneficiariam da alta dos juros na aplicação de suas reservas técnicas. E, com o PIB sem crescimento, seria o caso de buscar empresas voltadas para varejo menos discricionário, ou seja, mais de primeira necessidade, como redes de farmácias. Como Raia Drogasil está cara, haveria a alternativa de escolher Profarma, a “small cap” do setor, sugere Gordon. Serviços também seriam menos afetados, caso de Valid, Locamérica e o laboratório Fleury.

Já o dólar subiria em relação ao real, o que favoreceria também a Wilson Sons e as exportadoras, como Embraer, Vale e Fibria.

Ninguém quer bolsa

Mas o mercado acionário brasileiro segue estigmatizado, na opinião de Gordon. Uma prova disso é que, apesar da alta forte da bolsa no ano passado e neste, os fundos de ações captaram pouco. A maior parte dos investidores diversificou suas aplicações com fundos multimercados, que não captaram todo o ganho da bolsa. “Ninguém gosta de bolsa, o fluxo para ações ainda baixo”, avalia. Segundo ele, isso não é fruto apenas do medo das oscilações da bolsa. “Não importa a volatilidade do fundo, pode ter um multimercado com volatilidade maior que um de ações, mais conservador, que a pessoa prefere o multimercado”, diz.

Renda fixa: prefixados atrativos

Gordon acha que os papéis prefixados do Tesouro Nacional, as LTN ou NTN-Final, de 7 a 8 anos, estão com juros muito altos, pois levam em conta o cenário de vitória de Lula. Nos outros cenários, não há sinal de pressão da inflação. O investimento direto estrangeiro segue em nível recorde, e a capacidade ociosa segue alta, o que deve manter a inflação em 4% ao ano nos próximos anos. “Temos até 9% de capacidade para ocupar, e as empresas que tiveram problemas agora estão saindo mais fortes, os concorrentes quebraram, e mesmo que a demanda tenha caído 20%, a oferta também caiu, pelo menor número de empresas no mercado”, diz.

O PIB ainda está crescendo pouco, o emprego subindo devagar e fato é que os papéis prefixados parecem embutir uma probabilidade de cenário muito ruim, afirma o gestor.

NTN-B “gorda”

Mas, se o governo mantiver as condições de desinflação ou seja, a busca por equilíbrio fiscal e ajuste da Previdência, os juros não têm por que subir. E a visibilidade do cenário passa a ser de 4 ou 8 anos, bem menor que no passado, afirma Gordon. “Quando a Dilma assumiu em 2015, não tínhamos cenário para 1 mês”, lembra.

Para ele, com o próximo presidente, o país vai também passar a focar em temas mais relevantes. Mas o mercado parece não perceber isso e responde com as NTN-B, papéis mais longos corrigidos pela inflação do IPCA, pagando mais de 5% ao ano de juros reais. O que seria uma boa oportunidade para o investidor olhando o longo prazo. “São taxas erradas, se passar a reforma, esses juros cairiam para 4%”, diz. “Antes do Joesley, elas estavam perto de 5% ou menos, e o que piorou?”, questiona, lembrando que foi aprovada a reforma trabalhista. “O presidente foi muito competente na articulação com o Congresso”.

O resultado desse cenário Bull seria a queda maior dos juros, com o próximo presidente mantendo o respeito à questão fiscal e dando sequencia às reformas estruturais. “Trabalho com a reforma da Previdência sendo aprovada e uma queda dos juros”, afirma Gordon. “Mesmo que a Previdência não passe este ano, o mercado já não conta mesmo com isso, não deve ter impacto tão negativo”, conclui.

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