Cenário global vai estreitando planos de defesa de vários setores do agronegócio
A confusão só aumenta no mundo e o terreno das incertezas se alastra tanto quanto do achismo sobre os possíveis cenários de baixas. De claro mesmo é a seriedade da situação da pandemia e o seu efeito econômico. E a impossibilidade de mensuração por enquanto gera mais incertezas em muitos setores, como exportadores do agronegócio, principalmente, com pouca elasticidade de defesa.
O tempo perdido com China comprando menos e agora o impacto global – refletido na cotação do petróleo em menos 6,68% (10h13) -, tem um efeito carrego como se sabe em qualquer manual de economia. Para onde desviar produtos? E o que fazer com produção desenvolvida para o comércio internacional?
O bloqueio dos Estados Unidos aos viajantes europeus é prova da bola de neve e na soma de outras ações defensivas mundo afora, sem prazo de validade, fica a interrogação se a China dará conta sozinha de mover a máquina, considerando – frisa-se – se de fato o cenário por lá começa a se desanuviar.
Aqui o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta já aguarda a “progressão geométrica” do Covid-19.
No agronegócio, prevalece o tom otimista, em várias correntes, de que o mundo vai continuar comendo, sendo que até o ministro Paulo Guedes já admite crescimento menor de 2% para 2020.
O otimismo também conta que na China o estrago do plantel de suínos pela peste africana e a proibição de consumo de carnes exóticas vão exigir mais importações. Quanto a volumes e timing da volta chinesa com força ninguém arrisca, claro.
“Cautela e seriedade”, pede Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira e ex-negociador internacional representando governos e entidades, segundo o qual o Brasil pode manter uma importante janela já que “alimentos são absoluta prioridade em qualquer cenário”.
Planejamento de risco
Ele lembra do ganho de mais 10% nas exportações de frango e de mais 31% nas de suínos no primeiro bimestre.
Otimismo, mas certamente as companhias estão tendo que refazer planejamentos e montar planos de contingenciamento. O problema é quais?
Várias cadeias de suprimentos do país asiático foram afetadas pela paralisação interna das atividades e agora os compradores mundiais estão na linha amarela e outros na linha vermelha, como a Itália, tendo que fazer as contas do que precisarão. Contas para menos. Os reflexos se espalham e tende a bater no consumo doméstico do gigante.
Até contêineres do modal marítimo já estão em falta.
No agronegócio, as indústrias químicas não falam, mas já há falta de insumos chineses para produção de defensivos genéricos.
Money Times solicitou entrevista com a direção da Companhia das Cooperativa Agrícolas do Brasil (CAAB Agro), hoje dominada pela francesa Invivo Brasil, que coordena importação para as principais cooperativas brasileiras. Há dias não querem falar do tema.
Os frigoríficos já estavam travados com o gigante asiático e agora alertam para resultados com outros países. Além do que é certo também a postergação de importações de carne bovina brasileira pelos Estados Unidos, recém liberadas, na medida em que o risco de desaceleração econômica vá se tornando real.
E se o Oriente Médio, se a situação dramática do Irã se espalhar, e mais alguns outros mercados importantes para o Brasil ficarem na quarentena das compras, entre os quais Coreia do Sul e Índia? Na América Latina, para o agronegócio nacional há o Chile e o México
Na soja, o Brasil ainda vinha conseguindo bons embarques para a China, mas sem sinal desta ir buscar soja americana – a aposta do mercado para a elevação dos preços no mercado futuro de Chicago. Só que mais uma vez fica a dúvida se o apetite para a oleaginosa brasileira continua, diante do efeito cascata na economia local (sic), que é transformada em ração e óleo.
E o farelo de soja para a Europa começa a entrar no radar das preocupações.