Celulares: Por que comprar um aparelho novo ficará mais caro (e o que fazer agora?)
A poucos dias da Black Friday, que acontece neste ano em 26 de novembro, e a pouco mais de um mês para o Natal, comprar um celular novo para si ou para dar de presente voltou aos planos dos brasileiros. Segundo uma pesquisa da Conversion, especializada em e-commerce, 67% dos brasileiros pretendem comprar um aparelho nesta edição da Black Friday.
O problema, como sempre, é equilibrar o desejo e o bolso. É verdade que 35% dos entrevistados pela consultoria está disposta a gastar um valor razoável – R$ 1 mil ou mais – no já tradicional dia de descontos. Mas, a forte inflação dos últimos meses ameaça os sonhos de muita gente.
Segundo o IBGE, os preços dos eletroeletrônicos acumulam uma alta de 9,75% até outubro. Quando se olha para os últimos 12 meses, o reajuste é ainda mais salgado: 11,37%. Para entender o que está inflando os preços dos celulares e, sobretudo, como escolher um modelo que caiba no bolso e na carteira, Money Times consultou economistas e especialistas no assunto. Confira!
Crise dos chips
Um dos motivos para a inflação do celular é a crise dos chips, componentes fundamentais desses aparelhos. A falta de chips levou gigantes do setor a rever seus planos. Esse é o caso da Apple, que reduziu a estimativa de produção do iPhone 13 de 90 milhões para 80 milhões de unidades até o fim deste ano. Para não cortar mais ainda a produção no novo modelo, a empresa reduziu a fabricação de tablets e iPad.
“Isso está acontecendo devido à pandemia, que fez com que a economia global desacelerasse no ano passado e hoje está impactando toda a cadeia de suprimentos de diversos produtos”, disse Heloise Sanchez, analista da Terra Investimentos.
Para Sanchez, a menor oferta de aparelhos tende a causar um aumento nos preços para os consumidores. “A tendência é que o preço comece a subir, devido à lei básica da economia da oferta e demanda, dado o que já estamos observando no mercado automotivo”, complementa.
Para piorar a situação, a perspectiva não melhora para o próximo ano. Segundo Silvia Okabayashi, coordenadora do curso de Economia da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), a crise dos chips deve terminar somente em 2025.
“A expectativa é que ocorra uma normalização da produção dos chips por volta de 2025, pois o setor está passando por uma renovação na forma em que a produção é feita, exigindo mais investimentos, o que demanda um tempo maior para entrega final”, afirma Okabayashi.
Dólar pesa
Outro vilão que atrapalha as compras de celulares é o dólar. A moeda americana influencia no preço, seja porque muitos componentes são importados, mesmo quando o aparelho é montado no Brasil, seja porque alguns modelos são trazidos de outros países diretamente para as lojas locais.
“Apenas em outubro, o dólar subiu 3,67%, atingindo o patamar de R$ 5,64 no final do mês passado”, disse Sanchez da Terra.
Segundo Alan Gandelman, CEO da Planner, o câmbio deve sofrer nos próximos meses. Para ele, a alta da taxa de juros pelo Banco Central deveria fazer com que o dólar caísse. “Com os juros mais altos, o investidor estrangeiro cria mais interesse para aplicar o dinheiro em ativos de renda fixa, fazendo com que o dólar caía, devido ao aumento da oferta da moeda aqui no país”, diz Gandelman.
O ponto é que isso não está ocorrendo, devido aos problemas políticos e econômicos enfrentados pelo país, como o furo do teto de gastos com o calote da PEC dos Precatórios. Outro ponto é que há um pessimismo do mercado com o próximo ano, com alguns já prevendo até mesmo uma recessão econômica.
“Em 2022, a gente deve continuar com o câmbio pressionado, mas sem uma grande alta ou baixa no acumulado dos próximos 6 meses. A moeda teria uma alta volatilidade, mas ficaria entre R$ 5,40 e R$ 5,60. Por outro lado, caso aconteça algo muito positivo ou negativo, teríamos uma disparada ou queda do dólar”, complementa.
Inflação global atrapalha ainda mais
Para Silvia Okabayashi, da Metodista, a inflação global também é um fator para o aumento dos produtos de tecnologia. “Vivemos uma inflação de custos com o aumento de preços derivados do crescimento da demanda mundial”, diz.
Sendo assim, a economista explica que essa inflação dói ainda mais no bolso do brasileiro, pois ela é dolarizada e, como o real está desvalorizado em relação a seus patamares históricos, a pancada fica mais forte.
É melhor comprar o celular agora ou depois?
Como a expectativa é de alta no futuro próximo, uma pergunta sempre vem à tona é: será que essa é hora de comprar para não pagar mais caro nos próximos meses?
Para Okabayashi, comprar o celular agora ou depois é uma decisão difícil. Caso o consumidor queira comprar apenas por um temor sobre a alta do preço do aparelho, não compensa muito.
“Eu não acredito que compense comprar para deixar guardado, pois, em termos de tecnologia, não dá pra imaginar isso, tendo em vista que as coisas desse setor avançam rapidamente”, explica a professora.
Por outro lado, se o consumidor está querendo de fato trocar de aparelho, o ideal seria comprar agora. Melhor ainda, se tiver o dinheiro à vista. Caso a compra for a prazo, o mais importante é não pagar juros.
“Se a compra for feita sem juros pelo cartão de crédito, o ideal é sempre pagar a parcela de forma correta e não atrasar para não cair em juros ou multa”, analisa Okabayashi.
Por fim, ela ressalta ainda que o consumidor não deve comprar no intuito de pagar apenas o mínimo da fatura do cartão de crédito. A recomendação é de entrar em uma dívida, apenas se ela couber no seu orçamento.
Se isso não for possível, o interessado deve tentar juntar o dinheiro para adquirir o produto à vista, pois o reajuste de preços tende a ser menor que os juros em um possível endividamento.