CBios devolverão às empresas de biocombustíveis perdas que o petróleo levará ao etanol
As empresas fabricantes de etanol até agora certificadas a operarem o RenovaBio, aptas a emitirem Crédito de Descarbonização (CBios), poderão se beneficiar, ironicamente, da perda de competitividade que o biocombustível deve sofrer pela concorrência da gasolina. Os preços do petróleo estão queimando pelo choque do coronavírus, inflamado pela crise Opep-Rússia, e a Petrobras (PETR4) deverá seguir riscando o valor na refinaria se a tendência baixista se fixar para valer.
O aumento esperado do consumo do combustível fóssil elevará a necessidade de as usinas reduzirem preços do etanol – que já serão reduzidos naturalmente pela oferta da safra nova entrando (abril em diante). Mas a compensação virá pelo potencial de aumento do volume vendido, revertido em mais CBios, papéis que, negociados no mercado financeiro, estão na base da “financeirização dos biocombustíveis”, como gosta de definir Gonçalo Pereira, da Unicamp, especialista em energia renováveis.
Com ele concorda Miguel Lacerda, do Ministério de Minas e Energia, o ‘pai’ do RenovaBio, por ter modelado esse sistema do novo programa nacional dos biocombustíveis. “Só tem o RenovaBio para fazer esse mecanismo, de transferência da queda do petróleo remunerando os biocombustíveis”, afirma.
Os CBios, inclusive, podem segurar uma maior conversão de cana para mais açúcar.
Das 42 unidades produtivas já certificadas pela Agência Nacional de Petróleo Gás e Biocombustíveis (ANP), mais da metade são de etanol. A Green Domus participou do processo de certificação de 22 unidades, de acordo com o diretor Felipe Bottini, que acredita que os processos estão indo bem.
Na fila de espera estão 240. Passarão a ter mais chances diante de uma “batalha desigual que vêm enfrentando com os combustíveis fósseis”, explica o pesquisador e chefe do Laboratório de Genômica/Instituto de Biologia da Unicamp.
Produção e menos CO2
Gonçalo Pereira compartilha a premissa de que o custo do barril de petróleo, em certas regiões do globo, é de apenas US$ 3, portanto o resto seria receita menos impostos. Sobraria um lucro líquido enorme para os produtores manobrarem a dependência mundial, inclusive usando a geopolítica na maioria das vezes.
E jamais o equivalente em etanol atingiria esses preços baixos de produção. “Portanto, o certo é acelerar mais as receita com biocombustíveis o que o RenovaBio deverá fazer”, diz, acentuando os pontos fundamentais do programa: maior produção e menor emissão de efeito estufa.
Vale frisar que um CBio está associado a 1 tonelada de CO2 que deixa de ser emitida. E isso explica tudo, segundo Miguel Tranin, presidente da Alcopar, entidade que reúne as usinas do Paraná.
“Precisamos da consolidação da remuneração do custo ambiental pelo uso da energia fóssil”, mostra, acrescentando que o custo ambiental agora será remunerado pelo RenovaBio. Das 19 usinas no Noroeste e Norte paranaense que vão operar na safra 20/21, só quatro estão certificadas por enquanto.