Cbic vê desabastecimento e alta de preços de insumos como maiores ameaças à construção
A indústria da construção projeta crescimento para 2021, mas vê as altas de preços de insumos e a escassez de matéria-prima como maiores riscos, enquanto segmentos de edificações tentam repor estoques e se preparam para lançamentos maiores no próximo ano.
Segundo dados divulgados nesta quinta-feira pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), o PIB do setor em 2021 deve crescer 4%, maior expansão desde os 4,5% registrados em 2013. Para este ano, a previsão é de queda de 2,8%.
Parte do crescimento virá do segmento de edificações, que reduziu estoques neste ano em meio aos efeitos da pandemia.
De janeiro a novembro, enquanto os lançamentos de imóveis caíram 10,5%, as vendas subiram 23,7%, gerando uma queda de 13% na oferta final do segmento, segundo dados da Cbic.
“O que está nos preocupando é que os preços subiram e temos obras contratadas para entregar. O real já se valorizou e os preços continuam subindo. Hoje mesmo acabei de receber nova leva de aumento dos preços do cimento”, disse o presidente da Cbic, Jose Carlos Martins, em apresentação online.
“O desabastecimento (de insumos) também não acabou. Tem o caso sério do PVC, que não temos expectativa sobre quando vai entrar em ritmo normal”, acrescentou.
Em apresentação a jornalistas, a Cbic citou que de janeiro a novembro os preços de tubos e conexões de PVC acumularam alta de 41,1%, enquanto cimento teve aumento de 26,7%. Outros insumos como condutores elétricos tiveram reajuste de 52,4%, enquanto vergalhões subiram 26,6%.
“Estamos otimistas sobre 2021, mas muito preocupados com o desabastecimento e dos custos dos materiais”, disse Martins.
A entidade afirmou que apenas em novembro os preços de vergalhões subiram 4,6%, enquanto cimento foi reajustado em 3% e condutores elétricos, em 9,5%.
O executivo citou entre motivos para o otimismo a aprovação do programa habitacional “Casa Verde e Amarela”, que substituirá o Minha Casa Minha Vida.
Segundo ele, o programa aprovado no Senado na semana passada, é “menos engessado” que seu predecessor.
“A consequência, por exemplo, é que a própria Caixa Econômica tem mais liberdade para regulamentar as coisas e não demora muito para o programa dar resultado”, disse Martins.
Ele disse ainda que a partir do segundo semestre do 2021, a indústria da construção sentirá os efeitos das concessões feitas neste ano em áreas como transporte e saneamento.
Questionado sobre notícias de que o governo está se preparando para permitir nova rodada de saques emergenciais do FGTS em 2021, Martins mostrou contrariedade.
“Não é possível que não tenham entendido que pegar uma gota não adianta nada e que isso vai parar em consumo de produto importado da China…Não acreditamos que um governo que está querendo arrumar o Brasil vai cometer este erro de novo.”
Em 2019, o governo permitiu saques de 500 reais por conta de FGTS, estimando injeção de 40 bilhões de reais na economia.