Parte 2, Cavalo não acaba na mesa: saiba mais da liquidez do mangalarga
Para um negócio mais próximo do hobby como os cavalos de raça, já que muito pouco ou quase nada se necessita deles para trabalho no campo neste século 21 (exceção nas grandes extensões do Centro-Oeste, mas onde a preferência são as mulas de sela, ou nas pradarias do Sul), o mercado bilionário puxado pelo esporte e lazer encontra no mangalarga outro segmento de peso que não deixa nada a desejar ao agronegócio mais associado ao alimento. O animal de monta considerado brasileiro (como o crioulo e o campolina, por exemplo) pega boa fatia dos R$ 16,5 bilhões que a equinocultura fatura no Brasil.
E se rivaliza em poderio com o quarto de milha, a raça que o Money Times radiografou na abertura desta série (19/07). “Mas é a raça que tem maior liquidez na hora da venda, por isso é uma excelente opção de investimento para quem busca alternativas”, afirma Daniel Borja, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM).
O mangalarga marchador (MM) é considerado “mangalarga de Minas”, onde nasceu a raça desenvolvida a partir do século 18 com a raça alter de Península Ibérica e éguas de origem berbere e andaluz. Há o mangalarga paulista, que também tem sua própria associação (ABCCRM), com algumas diferenças de conformação e estilo de cavalgada, mas que também saiu do mesmo ninho.
Para lá das diferenças, a genética do mangalarga está presente no país todo – em menor proporção no Rio Grande do Sul e Nordeste – sendo o marchador o mais espalhado, de acordo com Borja. São 620 mil cabeças registradas por 17,5 mil associados (inclusive no exterior), cujos principais representantes poderão ser vistos na 38º Exposição Nacional, de 16 a 27 de julho, em Belo Horizonte.
Com esse tamanho, seriam 40 mil empregos diretos, mais os indiretos que ajudam no custo nada barato também de manutenção. Embora Borja defenda o MM, mais adaptado ao manejo a pasto, e que com consome de R$ 1mil a R$ 1,5 mil por mês em despesas.
Leilões
Não há um levantamento estatístico do mercado do MM, como a associação do quarto de milha possui (R$ 5,8 bilhões), por conta da pulverização de variáveis – comércio de animais, embriões, coberturas e demais elos da cadeia -, naquela estimativa global da atividade comercial equina levantada pela Esalq (R$ 16,5 bilhões), mas os leilões são mensurados.
Em 2018, foram 393, que geraram R$ 127 milhões, na soma de mais de 14 mil produtos negociados. Como em qualquer outra raça, o valor individual por cabeça não importa no todo, porque, afinal, há animal para todos os bolsos – naturalmente considerando um padrão mínimo.
E também como nas outras, o mercado informal é volumoso.
Baseado no número de remates, em torno de 50 a mais ano sobre ano, mais a quantidade de novos registros a cada 12 meses, 30 mil cavalos, o presidente da ABCCMM aponta a evolução crescente do negócio. “A expansão foi de 15% em 2018 e para 2019 o percentual deve ser maior”, diz.
Minas Gerais domina a cena com mais da metade dos animais. O estado mais rico, São Paulo, vem em quarto, com 65,4 mil registros – perdendo até para o diminuto Rio de Janeiro – onde a rivalidade do mangalarga paulista e do quarto de milha diluem um pouco a expressividade.
Porém, juntando o exemplar mineiro, mais conformado para cavalgadas longas e acidentadas, portanto mais confortável, e o paulista, maior em tamanho e de transição mais rápida aos comandos do cavaleiro, os mangalargas provavelmente estão na ponta desse negócio que parece não sentir a prolongada crise econômica.